Após protagonizarem dias de troca de ataques, agravando crise entre os Poderes, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), tiveram ontem uma trégua. Nessa quinta, Bolsonaro e Maia fizeram pronunciamentos conciliatórios e ensaiaram reaproximação, o que ajudou propostas do governo a darem alguns passos.
Mais de uma semana após o prazo inicial, o delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) foi anunciado como relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ) da Câmara. o deputado disse não ter dúvida de que está preparado para enfrentar o desafio que tem pela frente. "Temos a tranquilidade necessária para conduzir com responsabilidade essa relatoria", disse.
Em entrevista à Rádio CBN, Rodrigo Maia, afirmou que a escolha do relator foi "o primeiro passo em direção à reforma" e que trabalhará pessoalmente para a aprovação da reforma "como deputado, e não como presidente da Câmara".
De acordo com Maia, a matéria da Previdência é importante porque "ou a aprovação levará o Brasil ao crescimento, ou a reprovação nos levará para um caminho de recessão profunda". Ele também aproveitou a entrevista para elogiar o ministro da Economia, Paulo Guedes, que, de acordo com ele, "tem sido uma pessoa com bom diálogo com a Câmara".
No início da entrevista, Maia afirmou que preferia não comentar suas declarações e as de Bolsonaro nos últimos dias, garantindo que este assunto já foi superado.
Ontem Maia recebeu Guedes para almoçar com alguns deputados. Logo após o encontro, ambos adotaram um discurso pró-reforma da Previdência. "Vamos colocar esse trem nos trilhos para que a gente possa caminhar com velocidade. Em uma velocidade que os 12 milhões de desempregados esperam", disse Maia.
Antes, pela manhã, Maia tomou café com o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, com quem firmou acordo para acelerar a tramitação do pacote anticrime apresentado pelo governo. O encontro serviu para demonstrar sintonia após os dois trocarem farpas publicamente na semana passada.
Na noite dessa quinta, Bolsonaro dedicou a última parte de uma transmissão ao vivo feita pelo Facebook, para defender a reforma da Previdência.
Bolsonaro chegou a indicar, no fim da transmissão, que já havia tocado em todos os assuntos que pretendia abordar no Facebook, mas foi lembrado por um dos assessores, que não aparece no vídeo, de que ainda faltava comentar a reforma da Previdência.
O presidente voltou a brincar que, por ele, os brasileiros se aposentariam mais cedo. "Eu gostaria que todo mundo se aposentasse, o homem com 25 anos e a mulher com 20, seria o ideal, mas, como a Previdência está posta, em 2022 ela quebra ou antes disso, então a reforma é para que o Brasil não quebre", disse.
Bolsonaro afirmou que quem está contra a reforma são o PT, o PCdoB e o Psol. "Parece que esse pessoal não tem compromisso com o futuro do Brasil", declarou.
O presidente disse que espera que o Congresso faça correções no texto da reforma enviada pelo governo, pois o Executivo não é perfeito. "Espero que Previdência seja aprovada, ou melhor, tenho certeza que será aprovada pela Câmara e pelo Senado", disse. (Com agências)
PSL decide fechar questão sobre reforma
Depois de receber cobrança pública do ministro da Economia, Paulo Guedes, a bancada do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, oficializou que vai determinar que seus filiados votem a favor da reforma da Previdência. Com a legenda, já são 14 partidos que se mostram favoráveis à proposta, somando 345 deputados. O partido do presidente, em tese, garante 54 votos favoráveis com o fechamento de questão.
Para aprovar as modificações nas regras para se aposentar no Brasil, o governo precisa de 308 votos na Câmara e 49 votos no Senado, em dois turnos, em cada Casa.
Apesar de o presidente do partido garantir todos os votos da legenda ao projeto - sob o risco de até expulsão dos desertores -, os deputados vão poder discutir e propor mudanças à proposta.
Os líderes do Centrão e demais partidos favoráveis à proposta já externaram que a apoiam a reforma desde que se retire as mudanças na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.
"Os líderes dos outros partidos externaram essa preocupação que é de boa parte da nossa bancada também", afirmou coronel Tadeu (PSL-SP). "Se tiver alguns ajustes, a bancada vai fazer através de destaques. Mas o importante é que fechamos a questão unanimemente", afirmou o presidente do PSL, Luciano Bivar. (Agência Estado)
Falta
Na quarta-feira, em audiência pública no Senado, Paulo Guedes disse que não foi à Câmara no dia anterior para não levar "tiros nas costas" dos próprios aliados.