sexta-feira, 14 de junho de 2019

O que muda na proposta da reforma

Relator da reforma da Previdência na Câmara, o deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP) apresentou ontem o parecer sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera o regime de aposentadorias. Lido na comissão especial, o texto altera ao menos dez pontos do projeto enviado pelo governo, mas tenta preservar a potência fiscal da medida (veja quadro ao lado).
Se o ministro da Economia Paulo Guedes previa ganho de R$ 1,1 trilhão em dez anos com a Previdência, o relatório do parlamentar tucano indica R$ 913 bilhões no mesmo período. A esse valor, calcula Moreira, seriam acrescidos R$ 217 bilhões de outras receitas, como transferências do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o BNDES e o direcionamento de recursos para o INSS.
Para chegar a esse patamar, o deputado fez mudanças importantes na PEC, como a retirada do regime de capitalização, a revisão do abono (antes apenas para quem recebia até um salário mínimo), a exclusão de estados e municípios, as modificações na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é concedido a idosos carentes.
Além disso, o parecer da reforma fixa uma nova faixa de transição tanto para trabalhadores do Regime Geral da Previdência quanto para servidores.
Por essa regra, trabalhadores (no caso de servidores, apenas admitidos antes de 2003) podem se aposentar aos 57 anos (mulheres) e aos 60 (homens), com tempo de contribuição respectivo de 30 anos e 35 anos e um pedágio de 100% sobre o tempo que falta.
A proposta, que mantém a idade mínima de 62 anos para mulheres e de 65 para homens, difere no tempo de contribuição. Se na ideia original do Governo as mulheres deveriam contribuir por 20 anos, na do relator esse tempo cai para 15 — os homens permanecem com 20.
Secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, que participou da sessão de leitura do relatório, disse ontem que os técnicos do Governo ainda vão se debruçar sobre o texto apresentado pelo relator da reforma da Previdência.
Questionado sobre a redução na previsão de economia da proposta, Marinho respondeu que Paulo Guedes "sempre falou numa meta de R$ 1 trilhão em dez anos, e o texto ficou muito próximo".
O secretário afirmou ainda não ver dificuldades para votar a proposta porque há "convergência de interesses", principalmente após as concessões na direção do que foi solicitado pelos partidos, inclusive de centro. "Aprovar a reforma no plenário antes do recesso é o que importa", avaliou, sem dar previsão de calendário de votação.
Para ele, é positivo que a oposição e o Planalto tenham fechado acordo para que todos os deputados interessados em discutir a matéria possam falar na comissão. Segundo o secretário, isso assegura o "debate democrático".
Marinho falou que o Governo segue empenhado na inclusão de estados e municípios na proposta, mas reconheceu que há um problema político. "Esperamos que governadores possam conversar com suas bancadas", afirmou. (com agência)

Comissão

A partir de agora, a comissão especial abre prazo para discussão do relatório de Samuel Moreira. A previsão é de que o texto seja votado na comissão em 25 de junho
HENRIQUE ARAÚJO

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Municípios que tinham médicos cubanos ainda sofrem com déficit no Mais Médicos

EM RERIUTABA, a médica cubana Esperanza Anabel Dans León em atendimento domiciliar
EM RERIUTABA, a médica cubana Esperanza Anabel Dans León em atendimento domiciliar (Foto: Fábio Lima)
Vinte e um de 84 municípios cearenses que receberam médicos cubanos do Mais Médicos apresentavam déficit de mais de 40% no número de vagas no âmbito do programa no último mês de abril. Ao todo, estavam desocupadas 28% das vagas do Programa Mais Médicos em municípios cearenses onde os cubanos atuavam. Eram 279 vagas desocupadas, de um total de 992. O levantamento foi feito por O POVO com base em números do Ministério da Saúde (MS) obtidos pelo jornal O Globo através da Lei de Acesso à Informação.
Conforme o jornal, 42% das cidades brasileiras não conseguiram, até abril, suprir a ausência dos profissionais de saúde após o fim do acordo de cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que garantia a contratação dos cubanos. Em novembro do ano passado, mês em que Cuba anunciou a ruptura, esse déficit era de 23%.
A expectativa do Ministério da Saúde é que o novo edital do programa, anunciado no fim de maio passado e atualmente em fase de recurso, supra essa carência. No Ceará, 277 vagas foram confirmadas pelo MS em edital de renovação e adesão ao programa. Caso todas sejam preenchidas, serão 110 municípios contemplados. Conforme o cronograma, até 21 de junho próximo, os candidatos confirmam a escolha do local de atuação. O início das atividades está previsto para entre 24 e 28 de junho.  O foco do programa é a atenção primária, em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou no Programa Saúde da Família (PSF).
O edital privilegia os municípios classificados como mais vulneráveis e de extrema pobreza, além dos distritos sanitários indígenas. São localidades, explica o MS, com maiores dificuldades de acesso e dependentes do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Apenas seis municípios do grupo de mais de 100 mil habitantes foram contempladas com vagas no Ceará — Caucaia, com 21; Crato, com 3; Iguatu, com 4; Itapipoca, com 9; Maranguape, com 5; e Quixadá, com 3. Sem vagas, Fortaleza já anunciou a contratação de 140 médicos através de convênio entre a Prefeitura e o Governo do Estado. O chamado de Médico da Família foi lançado e maio e a expectativa é que os aprovados já comecem a atuar no dia 1º de julho.
Entre os municípios com maior carência, conforme o levantamento de abril, estão Itaiçaba e Palhano, municípios vizinhos da região leste do Estado. Contemplados, respectivamente, com três e duas vagas no programa, ambos estavam sem médicos. Destacam-se ainda os municípios de Pentecoste (a 91 quilômetros da Capital), com 2 vagas ocupadas de um total de 12; Novo Oriente (a 407 quilômetros da Capital), com uma vaga ocupada e cinco desocupadas; e Santana do Acaraú (a 236 quilômetros da Capital), com 3 vagas ocupadas de um total de 8. Veja a lista completa de déficit por município no quadro ao lado.
Em nota, o Ministério da Saúde destacou terem sido preenchidas todas as 8.517 vagas do edital vigente do programa, abertas após a saída dos cubanos. Conforme a nota, 1.325 profissionais com registro em Conselhos Regionais de Medicina haviam deixado o programa desde maio último, o mais recente levantamento do tipo feito pela pasta. "Cabe destacar que o número de médicos em atividade no programa é dinâmico e varia constantemente, conforme a saída e reposição de profissionais."
A nota ainda ressalta que os municípios sem médicos foram contemplados com uma portaria de abril, que estende o prazo de pagamento da verba de custeio repassada às unidades de saúde da família. "A regra anterior cortava o repasse para o posto se ele ficasse sem médico por mais do que dois meses." Conforme o Ministério, os municípios poderão utilizar os recursos também para contratar seus próprios médicos. Por fim, o Ministério ainda ressaltou que está sendo elaborado um novo programa para ampliar a assistência na Atenção Primária, com previsão para ser lançado "em breve".

Os desafios para a permanência

O novo edital do programa Mais Médicos é aguardado com ansiedade em muitos municípios do interior do Estado que registram déficit de médicos na atenção primária. Apesar disso, paira a dúvida se todos as cidades atrairão profissionais e se estes irão permanecer até o fim do contrato. Até abril, haviam sido 56 desistências, espalhadas por 39 municípios do Estado — 12,6% das 443 vagas ofertadas no edital lançado em novembro de 2018 para substituir os cubanos.Um dos município a registrar maior déficit no Mais Médicos é Pentecoste, a 91 quilômetros da Capital. Atualmente, só 16% das vagas do programa estão ocupadas no Município, de acordo com a secretária de saúde Geciliane Alcântara. De 12 vagas do Mais Médicos, a cidade só dispõe de 2 médicos. O reflexo disso, conta gestora, foi a superlotação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e do hospital do Município — este último até então fechado.Para ela, a principal dificuldade para a permanência dos médicos é a distância. A maioria dos médicos brasileiros não quer estar em áreas isoladas, longe das capitais, afirma Geciliane. Enquanto isso, ela ainda destaca um certo desprendimento que os cubanos teriam, dispostos a trabalhar mesmo em localidades mais afastadas. O município contava com dois cubanos; os demais saíram após o término do período de residência, em janeiro. Outra questão que pesou, segundo ela, foram os dias para estudos. O edital previa quatro dias de trabalho para um de especialização, considerado insuficiente por alguns profissionais. "Eles queriam o contrário", diz. Pentecoste teve 11 vagas preliminares abertas no edital.A distância e a necessidade de especialização também foram dificuldades enfrentadas em Novo Oriente, a 407 quilômetros da Capital. De acordo com a secretária de saúde local, Maria do Socorro Fernandes Sales, médicos que saíram do programa argumentaram querer continuar os estudos após se formar, mas o local mais próximo para que se curse uma especialização é o Piauí. Teresina fica a 295 quilômetros de Novo Oriente. Apesar disso, ela se diz "esperançosa" para que as cinco vagas abertas para o Município sejam preenchidas — mesmo número do déficit no programa. No edital seguinte à saída dos cubanos, apenas duas vagas haviam sido ofertadas, sendo que só uma foi preenchida.A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonra Cidade, acredita que a permanência dos médicos passa por ações como a criação de carreira médica e estabelecimento de pagamento diferenciado para áreas de maior vulnerabilidade. Outras sugestões que faz é a possibilidade de desconto para médicos que se formaram no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) desde que atuassem na atuação primária. Já estudantes de universidades públicas poderiam ser impelidos a trabalhar por dois anos na área. "Nós estamos esperando que o Ministério da Saúde proponha algo para que a gente possa discutir, aprofundar esse assunto."
 
LUCAS BARBOSA

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Advogado formado na Unifor protocola no STF novo pedido de habeas corpus em favor de Lula

O NOVO amor do ex-presidente é a socióloga Rosângela da Silva
O NOVO amor do ex-presidente é a socióloga Rosângela da Silva(Foto: DOUGLAS MAGNO/AFP)
Advogado formado na Universidade de Fortaleza (Unifor) protocolou novo pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em caráter liminar, o HC foi autuado ainda na manhã desta segunda-feira, 10. O ministro escolhido como relator é Edson Fachin, uma vez a condenação de Lula aconteceu no âmbito da Operação Lava Jato.
“Não entro no mérito de culpa ou inocência, de tese defensiva. Defendo o direito de defesa. Movido pela sensação de que a democracia e as instituições têm enfraquecido, provoquei o STF a se manifestar”, reforçou o advogado paulista graduado no Ceará, João de Senzi, ao O POVO Online, sobre a motivação de novo HC. Ele não compõe a equipe de defesa de Lula.
Para João, há ferimento de garantias constitucionais ao ex-presidente. Os trechos de mensagens vazadas atribuídas ao atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e a membros da força-tarefa da Lava Jato seriam comprovação. 
“Fiquei chocado ao ver o conteúdo (de conversas entre Moro e Dallagnol). Na minha prática jurídica, se eu soubesse de ligação íntima da promotoria com o juiz, seria algo que me deixaria incomodado. É direito constitucional ter julgamento imparcial e isento. Além disso, não há hierarquia entre defesa, acusação e Juízo. Essa equidade está comprometida. Por isso, acredito na nulidade absoluta do processo”, complementa João de Senzi.
Vazamento
O site de notícias The Intercept Brasil divulgou, na tarde deste domingo, 9, trechos de mensagens atribuídas a Sergio Moro, e a membros da força-tarefa da Lava Jato. De acordo com o site, as mensagens trocadas apontam a uma “colaboração proibida” entre o então juiz federal responsável por julgar a Lava Jato em Curitiba e os procuradores, a quem cabe acusar os suspeitos de integrar o esquema de corrupção. 
O Intercept sustenta que o teor das mensagens indica “comportamentos antiéticos e transgressões que o Brasil e o mundo têm o direito de conhecer.” Segundo o site, são “discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato.”
Segundo a defesa de Lula, as matérias revelam "detalhes de uma trama na Lava Jato", com o "objetivo pré-estabelecido e clara motivação política, de condenar o petista".
Lula está preso na sede da superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde 7 de abril de 2018 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
Os advogados do ex-presidente apresentaram recursos contra a sentença da Quinta Turma do STJ, que reduziu a pena do petista em abril, pedindo a eventual progressão de Lula para o regime aberto. O Ministério Público Federal encaminhou pareceres à Corte indicando que o ex-presidente já poderia progredir para o semiaberto, saindo da prisão para trabalhar durante o dia e retornando à noite.
Reações
A Associação Juízes para a democracia (AJD) e a Associação Latino-americana de Juízes do Trabalho (ALJT) divulgaram nota "exigindo a imediata soltura do ex-presidente e de todas as vítimas do processo ilícito relevado pelos diálogos"revelados pelo The Intercept. As entidades pedem ainda a exoneração do ministro Sérgio Moro e investigação dos integrantes do Ministério Público Federal mencionados na reportagem.
Segundo as associações, os atos são "essenciais para a retomada do Estado Democrático de Direito" no País e "superação da crise político-institucional em curso e o retorno à normalidade democrática".
Em vídeo, o coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, defende a força-tarefa e diz que é “normal que procuradores e advogados conversem com o juiz mesmo sem a presença da outra parte”. Ele assegura que, nas conversas com Moro, o que é importante é “verificar se houve conluio ou imparcialidade”. E, nesse caso, defende o membro do MPF no Paraná, não houve. 
O procurador então cita decisões judiciais desfavoráveis à Lava Jato no curso da Lava Jato, o que seriam mostra de que julgadores e acusadores nem sempre concordaram.
Em nota, o ministro Sergio Moro afirmou que o conteúdo das “supostas mensagens” não revelam qualquer “anormalidade ou direcionamento” de sua atuação como magistrado. Segundo o ministro, as mensagens são sensacionalistas e foram retiradas de contexto.
Também em nota, a Procuradoria da República no Paraná sustenta que, antes de os membros do Ministério Público Federal apresentarem denúncias, “são comuns debates e revisões sobre fatos e provas, de modo a evitar acusações frágeis em prejuízo aos investigados”. O órgão garante que a atuação da força-tarefa da Lava Jato é revestida de legalidade, técnica e impessoalidade. E que a imparcialidade da Justiça é confirmada pelo fato de diferentes instâncias do Poder Judiciário terem concordado haver provas para as várias condenações, enquanto vários pedidos do MPF foram negados ao longo do tempo.
Os 15 procuradores que integram a força-tarefa da Lava Jato manifestam preocupação com a divulgação de informações obtidas ilegalmente. “Os procuradores da força-tarefa manifestam preocupação com possíveis mensagens fraudulentas ou retiradas do devido contexto. A força-tarefa da Lava Jato estará à disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena licitude e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu trabalho à sociedade”.
Leia a nota da defesa de Lula na íntegra:
"Em diversos recursos e em comunicado formalizado perante o Comitê de Direitos Humanos da ONU em julho de 2016 demonstramos, com inúmeras provas, que na Operação Lava Jato houve uma atuação combinada entre os procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro com o objetivo pré-estabelecido e com clara motivação política, de processar, condenar e retirar a liberdade do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem publicada hoje (09/06/2019) pelo portal 'The Intercept' revela detalhes dessa trama que foi afirmada em todas as peças que subscrevemos na condição de advogados de Lula a partir dos elementos que coletamos nos inquéritos, nos processos e na conduta extraprocessual dos procuradores da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro", diz o texto.
"A atuação ajustada dos procuradores e do ex-juiz da causa, com objetivos políticos, sujeitou Lula e sua família às mais diversas arbitrariedades. A esse cenário devem ser somadas diversas outras grosseiras ilegalidades, como a interceptação do principal ramal do nosso escritório de advocacia para que fosse acompanhada em tempo real a estratégia da defesa de Lula, além da prática de outros atos de intimidação e com o claro objetivo de inviabilizar a defesa do ex-Presidente."
"Ninguém pode ter dúvida de que os processos contra o ex-Presidente Lula estão corrompidos pelo que há de mais grave em termos de violações a garantias fundamentais e à negativa de direitos. O restabelecimento da liberdade plena de Lula é urgente, assim como o reconhecimento mais pleno e cabal de que ele não praticou qualquer crime e que é vítima de 'lawfare', que é a manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política", finaliza o texto assinado por Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins.
Com informações da Agência Brasil e da Agência Estado

Corregedor arquiva representação do PDT contra Moro no caso The Intercept Brasil

Questionado por que manteve contato com os procuradores via mensagem de texto de aplicativo, Moro afirmou que
Questionado por que manteve contato com os procuradores via mensagem de texto de aplicativo, Moro afirmou que "é algo normal"(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, entendeu ser "incabível" o pedido de providências formulado pelo PDT contra o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, determinando, dessa forma, o seu arquivamento.
Martins reconheceu que a exoneração solicitada pelo ex-juiz federal "tem disciplina diversa da aposentadoria voluntária" e que, nesse caso, "a instauração de um procedimento administrativo-disciplinar contra o magistrado já exonerado não teria nenhuma utilidade".
Na representação, o PDT alegou que reportagem divulgada pelo site The Intercept Brazil revelou a existência de supostos diálogos travados por meio do aplicativo Telegram entre procuradores do Ministério Público Federal, integrantes da força-tarefa da Lava Jato, e Moro, à época ainda juiz federal responsável pelos processos da operação.
Moro e os procuradores teriam combinado fases da Lava Jato no Paraná.
O partido afirmou que tais diálogos "levantam dúvidas sobre a probidade da conduta do então julgador, em vista de comportamentos claramente incompatíveis com o papel constitucional do magistrado".
Ainda, segundo a legenda, "os fatos tornam evidente a ausência de imparcialidade e ética do sr. Moro na função de magistrado julgador dos processos da Operação Lava Jato, sendo a mais recente revelação dos diálogos a confundir o Estado-Juiz com o órgão do Ministério Público, titular da persecução penal, a comprovação cabal de atos inconstitucionais e ilegais ocorridos ao arrepio do Estado de Direito e da República".
Aplicação de penalidade
Segundo Humberto Martins, o Conselho Nacional de Justiça já pacificou entendimento de que é possível a manutenção de um procedimento disciplinar contra quem deixou de ser juiz em razão da aposentadoria, seja ela voluntária ou compulsória em razão da idade, hipóteses nas quais ainda subsiste um vínculo institucional entre o magistrado (aposentado) e o Poder Judiciário, "de modo que sempre haverá interesse público no prosseguimento dos procedimentos administrativos, que, no limite, podem levar até mesmo à cassação da aposentadoria".
Mas, aponta o corregedor, em caso de pedido de exoneração - caso de Moro -, "a situação é substancialmente diversa, já que o magistrado voluntariamente solicita o rompimento completo e total do vínculo havido entre ele e o Poder Judiciário".
"A adoção da tese de que seria possível se aplicar penalidade a juiz exonerado criaria uma situação no mínimo inusitada: o juiz pediria exoneração, cortando seu vínculo com a administração, e a instância administrativa instauraria um procedimento que, se ao final concluísse pela aplicação da penalidade, anularia a exoneração e aplicaria ao juiz a aposentadoria compulsória com proventos proporcionais", afirmou o corregedor nacional.
O ministro entendeu que, diante da exoneração de Moro do cargo de juiz federal, constante no Diário Oficial da União, do dia 19 de novembro de 2018, "não é possível receber-se procedimentos de natureza administrativa contra ele, ainda que referente a atos supostamente praticados enquanto ainda era juiz".
Produção de provas
Humberto Martins ressaltou que, no caso, "nem sequer cabe argumentar que o interesse processual residiria na possibilidade de produzir provas que eventualmente poderiam ser utilizadas pelo Ministério Público em procedimentos cíveis ou criminais, ou mesmo que a Ordem dos Advogados do Brasil ou a Justiça Eleitoral poderiam se valer das conclusões de eventual processo disciplinar".
Segundo o ministro, "a utilização por outros órgãos de elementos produzidos em procedimentos instaurados pelo Conselho Nacional de Justiça, apesar de ser relevante, configura efeito meramente acidental da atuação deste Conselho, mas não pode servir de fundamento único para sua atuação".
"Assim, uma vez que o presente pedido de providências configura procedimento de natureza disciplinar proposto quando o representado já não é mais juiz, por haver se exonerado, a hipótese é de falta de interesse processual, por inexistir utilidade/necessidade/adequação na pretensão deduzida, que, portanto, não pode ter seguimento", concluiu o corregedor nacional.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Sob holofotes, Copa do Mundo de Futebol Feminino começa nesta sexta-feira

Neste Mundial, Formiga se tornará a primeira atleta — feminino ou masculino — a jogar sete Copas do Mundo de futebol
Neste Mundial, Formiga se tornará a primeira atleta — feminino ou masculino — a jogar sete Copas do Mundo de futebol (Foto: Assessoria / CBF)
Maior emissora do País transmitindo todos os jogos do Brasil, bares promovendo eventos e empresas liberando funcionários. O cenário, claro, é de Copa do Mundo. Mas não o tradicional torneio masculino. O futebol feminino vive o protagonismo diante da 8ª edição da competição mundial, que começa hoje e segue até 7 de julho na França.
Desde 1991, a Copa do Mundo das mulheres futebolistas é realizada. Entretanto, a edição deste ano tem um diferencial importante: a visibilidade. O torneio em solo francês chega com perspectiva de ser o maior de todos os tempos na categoria. Nunca na história do futebol feminino houve uma cobertura jornalística tão expressiva. Com isso, o interesse pelo esporte vem aumentando e a venda de ingressos promete bater recorde.
Conforme pesquisa encomendada pelo instituto Nielsen, o interesse pelas disputas femininas aumentou nos últimos anos. Segundo os dados, 43% dos amantes de futebol entrevistados também gostam de jogos entre mulheres. O percentual representa base de fãs em potencial de cerca de 105 milhões de pessoas.
A Copa do Mundo na França já chega com expectativa de recordes. Em abril, de acordo com a Fifa, o Mundial já havia vendido 720 mil ingressos — quantia superior à das vendas para a mesma fase da edição 2015, no Canadá.
É esperado ainda recorde na transmissão de jogos. A projeção é que, ao todo, 1 bilhão de pessoas assistam aos duelos do Mundial. A Copa anterior bateu a marca de 750 milhões de espectadores.
"Nesta Copa teremos a explosão do futebol feminino", ressaltou o reeleito presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino.
No Brasil, Globo e Band irão transmitir os jogos do Brasil e prometem ampla cobertura na TV aberta.
O cenário positivo traz a esperança de que a Copa na França possa resultar em mudanças significativas para a categoria, que ainda engatinha em busca de crescimento e visibilidade no comparativo com as disputas masculinas. As jornalistas Karine Nascimento e Allana Alves acreditam que o Mundial de 2019 pode ser um marco para o esporte.
"Se a gente olhar para o Brasil, tem que pensar no futuro dessa Copa para além das quatro linhas. É o maior fruto dessa Copa, o respeito e o incentivo", afirma Karine, que é comentarista da Federação Cearense de Futebol (FCF) e comemora a presença de mulheres na cobertura.
Para Karine, a divulgação do Mundial pode construir nova relação do público com a modalidade e diminuir o preconceito. "A medida que reforça ao máximo que esporte é local para as mulheres, aumenta a conscientização. De 1941 a 1979, o futebol feminino era proibido por lei. É muito importante que esteja acontecendo essa visibilidade".
Coordenadora de Comunicação do Fortaleza Esporte Clube, Allana destaca o fato de a seleção brasileira masculina não estar vivendo sua melhor fase, abrindo espaço para as mulheres em meio à disputa de uma Copa do Mundo. "Chega como atração a mais para se acompanhar. A transmissão de todos os jogos deu outra pegada. Os veículos vão promover ainda mais. Tudo isso faz diferença", comenta
Goleira do Ceará, Lohana Oliveira, 18, diz ser uma "felicidade muito grande" vivenciar o momento atual do futebol feminino. "Devido à visibilidade que o esporte está tendo, as oportunidades estão se abrindo cada vez mais. Isso motiva. As mulheres não tinham esse espaço que está tendo hoje", comemora. O Alvinegro tem equipe profissional de atletas mulheres e disputa hoje a Série A2 do Brasileiro.
 

Convocadas

Goleiras: Aline, Bárbara e Letícia. Defensoras: Camila, Érika, Kathellen, Letícia, Mônica, Poliana, Tamires, e Tayla. Meio-campistas: Luana, Andressinha, Formiga e Thaisa. Atacantes: Andressa Alves, Bia Zaneratto, Cristiane, Debinha, Geyse, Ludmila, Marta e Raquel
 
LUCAS MOTA