Morreu ontem, aos 72 anos, a sambista Beth Carvalho. Ela estava internada no Rio de Janeiro. Grande intérprete, Beth Carvalho ficou conhecida carinhosamente como a "Madrinha do Samba', pelos talentos que descobriu e apadrinhou ao longo de sua carreira, como Zeca Pagodinho e o grupo Fundo de Quintal. Beth Carvalho estava internada desde janeiro, no Hospital Pró-Cardíaco, que não divulgará a causa da morte.
Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio, em 1946. Desde criança, ouvia Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, que eram grandes amigos de seu pai e que ele recebia em sua casa. Na adolescência, cantava em festas e, para ajudar a família, após o pai ser perseguido na ditadura em razão dos pensamentos de esquerda, ela passou a dar aulas de violão. Não por acaso, herdou do pai a postura engajada por toda a vida.
Nos anos seguintes, seguiu a trilha dos festivais. O primeiro sucesso foi "Andança", de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, que ela defendeu no Festival Internacional da Canção, em 1968, e com o qual conseguiu o 3º lugar. Emendou outros sucessos na sua voz, como o hino "Vou Festejar", e eternizou "Coisinha do Pai". Na década de 1970, foi ao encontro dos mestres, ao gravar "Folhas Secas", com Nelson Cavaquinho, e "As Rosas Não Falam", de Cartola. Dois momentos sublimes em sua carreira.
Ficou conhecida também sua presença assídua na quadra Cacique de Ramos, onde identificava talentos no samba e os revelava, como aconteceu com nomes como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre tantos outros. "Quem levou Beth Carvalho pro Cacique foi o Alcir Portela, que era jogador naquela época. Gostou tanto que resolveu gravar com a gente em estúdio, no formato da nossa roda de samba", contou, em seu site, o cantor, compositor e percussionista Bira Presidente, membro do Fundo de Quintal.
Beth Carvalho não renegava o posto de madrinha, da grande matriarca, mas preferia não ter essa função. Gostaria que os talentos tivessem outros tipos de incentivo e oportunidades para se expor. "Não é meu papel, mas sou assim, gosto de mostrar o que há de bom", disse, certa vez, em entrevista.
Mangueirense de coração, foi homenageada por outras escolas de samba: foi tema de enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçú, "Beth Carvalho, a enamorada do samba", em 1984, e recebeu da Velha Guarda da Portela uma placa comemorativa por ela ter sido a cantora que mais gravou seus compositores.
Em 2009, precisou fazer uma pausa por causa de uma fissura na região sacra, que a obrigou a ficar em repouso total, voltando aos palcos em 2011. Apesar de se manter na estrada, suas condições físicas foram piorando. Em 2018, fez apresentações deitada. Por causa das dores, não conseguia ficar sentada. E emocionou as plateias. (Agência Estado)
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