quarta-feira, 1 de maio de 2019

O que temos para comemorar?

No dia em que se comemora a importância de quem faz a economia girar por meio do trabalho, o cenário não é de festa, mas de aumento da economia dos bicos, aquelas atividades temporárias que aliviam muitos orçamentos familiares pelo País. São 13,4 milhões de brasileiros, atualmente, desempregados, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad - C), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número representa um crescimento de 10,2% (mais 1,2 milhão de pessoas) frente ao último trimestre de 2018 (12,2 milhões). A população ocupada, hoje em 91,9 milhões, também caiu -0,9% (menos 873 mil de pessoas) em relação a igual período.
Quando se verificam os dados mais atualizados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o cenário continua desanimador. Os números do sistema revelam que o mês de março apresentou 43.196 empregos com carteira assinada a menos em todo o Brasil. Pela primeira vez neste ano, o número de demissões (1.304.373) foi maior que o de contratações (1.261.177).
Na prática, são menos pessoas recebendo uma renda fixa e garantindo a circulação de dinheiro em uma economia que dá sinais cada vez mais sombrios, em direção a um Produto Interno Bruto (PIB) de pouca relevância. Menos postos de trabalho com carteira assinada significam menos contribuições para a Previdência e mais adesão a atividades por conta própria. Essa fatia, segundo o IBGE, está na casa dos 23,8 milhões e apresentou estabilidade em relação ao trimestre anterior, crescendo 3,8% em relação a igual trimestre de 2018 (mais 879 mil pessoas).
"O mercado de trabalho está rumo a uma estagnação, em um nível bastante ruim". A análise é feita por Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com ele, havia expectativa de melhora do emprego formal, uma repetição de 2018, que teve uma performance mais favorável.
"O primeiro trimestre de 2019 foi pior que o de 2018, e olha que esse mesmo período de 2018 não foi o mais maravilhoso", analisa. Somada à estagnação do mercado de trabalho, o pesquisador acrescenta o problema do baixo crescimento da renda dos brasileiros. "Menos de 1% ao ano. Tá tudo muito mais ou menos".
O problema se agrava quando são avaliados os pormenores do Caged. De acordo com Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análises de Mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), apesar da sazonalidade comum ao primeiro trimestre, o mercado está mais favorável para as oportunidades que pagam até 1,5 salário mínimo. "A análise é que estão sendo fechados postos em faixas mais altas".
Independentemente do tipo de contração, seja a tradicional, de carteira assinada, ou a intermitente (que apresentou alta no mês de março), o que tem sido visto, segundo Mesquita, é uma abertura mais acentuada para oportunidades de baixo padrão. "São empregos com baixo padrão de remuneração, limitado ao piso ou salário mínimo", destaca.
Ele acrescenta que o atual cenário aponta para um processo de desassalariamento, com perda da participação relativa do emprego com carteira assinada perante o total de postos ocupados. "O que vem crescendo é a economia de bicos, trabalhadores por conta própria, como os de aplicativos, que atuam por demanda, e ambulantes. Todos eles autônomos que não contribuem com a Previdência e atuam em formas precarizadas de trabalho, sem proteção social".

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