terça-feira, 9 de abril de 2019

Troca de guarda na Educação

Às vésperas de completar 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) mexeu novamente no time palaciano: sai Ricardo Vélez Rodríguez, 75 anos, filósofo colombiano inábil que se notabilizou por caneladas à frente do Ministério da Educação (MEC), pasta cujo orçamento anual supera a casa dos R$ 100 bilhões.
Em seu lugar, entra o brasileiro Abraham Weintraub, economista especializado em seguridade social e lotado até então na Secretaria-Executiva da Casa Civil, onde ajudou a formular a reforma da Previdência, mas inexperiente no campo da educação - área que estará sob sua batuta a partir de agora.
Anunciada por Bolsonaro na sexta-feira passada em meio às sucessivas brigas e interrupções de programas no MEC, a dança das cadeiras tem duas consequências diretas, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO: o fortalecimento do núcleo ligado ao ideólogo Olavo de Carvalho e a ampliação dos atritos com a ala militar, que hoje controla uma boa fatia da Esplanada.
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o cientista social Rodrigo Prando avalia que o fim das disputas entre os dois grupos no ministério depende da agenda que Weintraub efetivamente estabelecer como prioritária: ideológica ou técnica.
"Se o novo ministro insistir nessa bobagem de marxismo cultural, questão de gênero e tudo o mais", afirma o estudioso, "aí ele vai derrapar na mesma lama em que derrapou o outro".
Para o pesquisador, os desafios do sucessor de Vélez estão relacionados sobretudo às "provas que avaliam os alunos brasileiros", entre as quais está o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Além disso, Prando cita os mecanismos de financiamento estudantil e a "classificação do Brasil" por entidades internacionais que aferem a qualidade do ensino. "Se ele pensar isso, talvez seja um bom ministro", afirma.
Questionado sobre as chances de que o substituto seja bem-sucedido ante esses obstáculos, o analista brinca: "Ser pior do que o Vélez é difícil, mas o Brasil é insuperável em conseguir superar o que já é ruim. São três meses em que o MEC está praticamente parado".
Também cientista social, Uribam Xavier admite que esperava "um perfil técnico para o MEC" e que a opção por Weintraub mostra que "a velha política permanece" no Governo, apenas com nova roupagem. "O que estamos vendo é o ministério paralisado, trazendo prejuízos imensos para a população", disse.
Sobre a permanência dos desentendimentos entre olavistas e militares, que travam uma queda de braço no Executivo desde o início da gestão Bolsonaro, Xavier acredita que "os militares podem se acalmar se o ministro conseguir dar um mínimo de comando à pasta".
O professor adverte, porém, que os fardados constituem hoje grupo muito organizado no Planalto e que, caso se repitam os erros de Vélez na condução da pasta (o ex-ministro demitiu aliados de Olavo e causou polêmicas com declarações infelizes), devem criar dificuldades para Weintraub.
Pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas diz que a entrada de mais um nome ligado ao olavismo "reforça a condução do Governo" pelo guru dos Bolsonaro. "Eu não sei se essa troca de Vélez por Weintraub foi seis por meia dúzia", calcula. "O novo ministro me parece um nome com afinco ideológico maior que o Vélez."
De acordo com Freitas, porém, é impossível antecipar o cenário. "Há vários cargos no MEC em aberto, e esses cargos vagos foram fruto da passagem do Vélez. Há um longo trabalho a ser feito."
Deputado federal pelo Ceará e presidente do PSL no Estado, Heitor Freire defende a escolha do novo titular do MEC. "Com a entrada do professor Abraham Weintraub, muito conhecido no meio universitário, a minha expectativa é que a pasta ganhe novo fôlego para trazer de volta o formato tradicional de educação, priorizando o conhecimento científico nas escolas brasileiras", projetou.

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