Cearense de Sobral, o jornalista cearense Rodrigo de Almeida era uma dos rostos mais comuns entre os que permaneceram ao lado de Dilma Rousseff até os últimos momentos de sua luta política contra o impeachment. Último Secretário de Imprensa da petista, ele acompanhou os momentos mais tensos e, como diz, viu a história acontecendo diante dos seus olhos. O essencial do que testemunhou está organizado em torno do livro “À sombra do poder”, que será lançado no próximo dia 8, em São Paulo. Segundo ele, a ideia é lançá-lo ainda em Fortaleza, mas ainda não há data prevista. Em conversa com O POVO, por telefone, Rodrigo, que mora em São Paulo, falou do livro, de Dilma e da visão que tem sobre o comportamento da imprensa:
O POVO – A ideia de escrever um livro sobre os bastidores da queda de Dilma surgiu quando? Já estava em sua cabeça quando foi assessorá-la?
Rodrigo de Almeida – Não, de maneira alguma. Fui inicialmente para o Ministério da Fazenda, a convite do Joaquim Levy, em abril, maio, de 2015, como assessor de imprensa dele. Em setembro daquele ano é que fui para o Palácio do Planalto, assumir o posto de Secretário de Imprensa.. Quando cheguei o tema do impeachment já estava bastante avançado, até brinco que, dentro da minha vaidade, de uma certa ilusão, me sentia um pouco como parte de um pacote de solução de crise.
OP – Qual é a avaliação que o senhor faz do comportamento da imprensa? Setores do governo, especialmente no PT, queixavam-se muito, falavam de um Partido da Imprensa Golpista..
Rodrigo – No meu livro, busco fazer um trabalho mais de relato e de observação do que de análise e crítica. Análise e crítica não apenas do ponto de vista da politica, da economia, das ações do governo, mas, evidentemente, também da imprensa...Estabeleci a seguinte estratégia na escrita do livro: busquei contar a história a partir do que assistia de dentro do Palácio, portanto, o ponto de vista de quem estava dentro do governo, de quem acompanhava de perto naquele momento a presidente e seus principais ministros. Optei por isso como forma de possibilitar ao leitor observar como ele via determinadas situações e como, de fato, nós recebíamos aquilo que era noticiado. No entanto, é possível perceber, ao longo do processo, momentos nos quais, de fato, houve excessos da parte da imprensa. Excessos cometidos no mesmo compasso do que o governo considerava excessos da Lava Jato, parecendo recorrente nas respostas governistas a determinados fatos o que a presidente chamava de seletividade dos vazamentos, de opções muito particulares sobre o destaque que se deveria dar quando apareciam nomes do governo ou do PT, numa diferença significativa daquelas em que apareciam nomes de outros partidos nas denúncias, notadamente do PSDB.
OP – A mudança de governo, saída de Dilma, chegada de Michel Temer etc está ajudando a serenar os ânimos?
Rodrigo – Parte daquele cenário que leva à interpretação bastante crítica do papel da imprensa mostra, justamente, que o noticiário era muito mais duro, mais crítico, até desrespeitoso, com nomes como a presidente Dilma ou com o Lula. Em determinado momento do debate sobre a capacidade do governo de dar solução para a crise, a imprensa teve um papel muito forte, pelo menos boa parte dela, há exceções, sempre, ficou clara a defesa de que a presidente era incapaz de liderar o processo.
OP – Em relação ao vice-presidente Michel Temer, há alguma surpresa no comportamento dele, especialmente a partir de quando apareceu articulando abertamente pelo impeachment?
Rodrigo – A relação dos dois (Dilma e Temer) nunca foi efetivamente boa, assim como a relação da presidente Dilma com o próprio PMDB nunca foi tranquila...Havia uma desconfiança, embora a presidente sempre diga que nunca foi uma desconfiança no sentido de achar que ele estava se movimentando para derrubá-la. Isso ficou claro já quando o processo já se encontrava avançado.
OP – Com relação ao estilo Dilma, havia a questão da sua dificuldade de lidar com as necessidades políticas, agradar aliados, parlamentares etc, mas quem trabalha mais próximo dela também destacava a forma dura como, muitas vezes, tratava os próprios assessores. Pessoalmente, há algum episódio no qual tenha sido vítima?
Rodrigo – (Risos) Ficou célebre a máxima, que a própria Dilma disse uma vez, que ela era uma presidente rude cercada de homens sensíveis. Era uma ironia, na verdade, em resposta à fama que tinha de briguenta, grosseira, de difícil trato. Poderia dizer que era um desses homens sensíveis ao lado dela, mas, apesar de reconhecer que não era uma pessoa de fácil trato, considero que boa parte dos problemas que eram infundidos, ou das características difundidas, expõe muito de preconceito e de machismo. Boa parte das características da presidente Dilma é percebida em muitos outros líderes, trabalhei com outros políticos, outros empresários, extremamente difíceis, sem que isso se transforme numa agenda, propriamente.Agora, ela intimidava todos, do mais importante ministro ao Secretário de Imprensa, pelo modo de se expressar, de liderar e, até, pelo modo de exigir competência argumentativa ao tratar com ela.
O POVO – A ideia de escrever um livro sobre os bastidores da queda de Dilma surgiu quando? Já estava em sua cabeça quando foi assessorá-la?
Rodrigo de Almeida – Não, de maneira alguma. Fui inicialmente para o Ministério da Fazenda, a convite do Joaquim Levy, em abril, maio, de 2015, como assessor de imprensa dele. Em setembro daquele ano é que fui para o Palácio do Planalto, assumir o posto de Secretário de Imprensa.. Quando cheguei o tema do impeachment já estava bastante avançado, até brinco que, dentro da minha vaidade, de uma certa ilusão, me sentia um pouco como parte de um pacote de solução de crise.
OP – Qual é a avaliação que o senhor faz do comportamento da imprensa? Setores do governo, especialmente no PT, queixavam-se muito, falavam de um Partido da Imprensa Golpista..
Rodrigo – No meu livro, busco fazer um trabalho mais de relato e de observação do que de análise e crítica. Análise e crítica não apenas do ponto de vista da politica, da economia, das ações do governo, mas, evidentemente, também da imprensa...Estabeleci a seguinte estratégia na escrita do livro: busquei contar a história a partir do que assistia de dentro do Palácio, portanto, o ponto de vista de quem estava dentro do governo, de quem acompanhava de perto naquele momento a presidente e seus principais ministros. Optei por isso como forma de possibilitar ao leitor observar como ele via determinadas situações e como, de fato, nós recebíamos aquilo que era noticiado. No entanto, é possível perceber, ao longo do processo, momentos nos quais, de fato, houve excessos da parte da imprensa. Excessos cometidos no mesmo compasso do que o governo considerava excessos da Lava Jato, parecendo recorrente nas respostas governistas a determinados fatos o que a presidente chamava de seletividade dos vazamentos, de opções muito particulares sobre o destaque que se deveria dar quando apareciam nomes do governo ou do PT, numa diferença significativa daquelas em que apareciam nomes de outros partidos nas denúncias, notadamente do PSDB.
OP – A mudança de governo, saída de Dilma, chegada de Michel Temer etc está ajudando a serenar os ânimos?
Rodrigo – Parte daquele cenário que leva à interpretação bastante crítica do papel da imprensa mostra, justamente, que o noticiário era muito mais duro, mais crítico, até desrespeitoso, com nomes como a presidente Dilma ou com o Lula. Em determinado momento do debate sobre a capacidade do governo de dar solução para a crise, a imprensa teve um papel muito forte, pelo menos boa parte dela, há exceções, sempre, ficou clara a defesa de que a presidente era incapaz de liderar o processo.
OP – Em relação ao vice-presidente Michel Temer, há alguma surpresa no comportamento dele, especialmente a partir de quando apareceu articulando abertamente pelo impeachment?
Rodrigo – A relação dos dois (Dilma e Temer) nunca foi efetivamente boa, assim como a relação da presidente Dilma com o próprio PMDB nunca foi tranquila...Havia uma desconfiança, embora a presidente sempre diga que nunca foi uma desconfiança no sentido de achar que ele estava se movimentando para derrubá-la. Isso ficou claro já quando o processo já se encontrava avançado.
OP – Com relação ao estilo Dilma, havia a questão da sua dificuldade de lidar com as necessidades políticas, agradar aliados, parlamentares etc, mas quem trabalha mais próximo dela também destacava a forma dura como, muitas vezes, tratava os próprios assessores. Pessoalmente, há algum episódio no qual tenha sido vítima?
Rodrigo – (Risos) Ficou célebre a máxima, que a própria Dilma disse uma vez, que ela era uma presidente rude cercada de homens sensíveis. Era uma ironia, na verdade, em resposta à fama que tinha de briguenta, grosseira, de difícil trato. Poderia dizer que era um desses homens sensíveis ao lado dela, mas, apesar de reconhecer que não era uma pessoa de fácil trato, considero que boa parte dos problemas que eram infundidos, ou das características difundidas, expõe muito de preconceito e de machismo. Boa parte das características da presidente Dilma é percebida em muitos outros líderes, trabalhei com outros políticos, outros empresários, extremamente difíceis, sem que isso se transforme numa agenda, propriamente.Agora, ela intimidava todos, do mais importante ministro ao Secretário de Imprensa, pelo modo de se expressar, de liderar e, até, pelo modo de exigir competência argumentativa ao tratar com ela.
Frase
“Boa parte das características da presidente Dilma é percebida em muitos outros líderes. Trabalhei com outros políticos, empresários, extremamente difíceis, sem que isso se transforme numa agenda, propriamente.”
Rodrigo de Almeida, jornalista
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