sábado, 10 de outubro de 2015

SEGUNDO MP SUÍÇO

Mulher de Cunha pagou aulas de tênis com conta secreta

Para investigadores, o dinheiro é fruto de propina de contrato da Petrobras relativo a negócio em Benin

00:00 · 10.10.2015
Além das transações de Claudia Cruz, documentos revelam que empresas ligadas a Cunha, Orion SP, Netherton e Triumph SP, receberam R$ 31,2 mi ( Foto: Agência PT )
Brasília. Dossiê entregue pelo Ministério Público suíço à Procuradoria-Geral da República do Brasil revela que o dinheiro que saiu de uma conta secreta na Suíça atribuída à jornalista Claudia Cruz, mulher do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pagou despesas com dois cartões de crédito e até uma famosa academia de tênis na Flórida (EUA).
Segundo os investigadores, o dinheiro é fruto de propina da Petrobras, mais especificamente de um contrato de US$ 34,5 milhões da estatal relativo à compra de um campo de exploração em Benin, na África.
Bloqueio
Segundo dados do banco Julius Baer, os recursos foram movimentados na conta com nome fantasia KOEK, que está em nome da jornalista, entre 2008 e 2015, e tem uma das filhas do deputado como dependente. Essa conta tinha 146,3 mil francos suíços e foi bloqueada pelo Ministério Público da Suíça apenas um mês após a Polícia Federal deflagrar a Operação Lava-Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.
Em um dos cartões de crédito foram gastos US$ 525 mil de janeiro de 2013 a abril de 2015. O outro registrou despesas de US$ 316,5 mil em quatro anos.
Tênis
Os familiares de Cunha gastaram ainda US$ 59,7 mil com a IMG Academies, academia de tênis do treinador Nick Bollettieri na Flórida -uma das mais prestigiadas do mundo. Ele é considerado um “descobridor de estrelas” e já treinou campeões mundiais como Andre Agassi, Boris Becker e as irmãs Venus e Serena Williams. Além das aulas na Flórida, Bollettieri dá várias clínicas de tênis pelo mundo, inclusive no Brasil.
Há ainda pagamento de US$ 8.400 à Malvern College, uma escola na Inglaterra, e repasse de US$ 119,7 mil para a Fundacion Esade Banco, instituição financeira espanhola, além de transferência de US$ 52,4 mil a uma pessoa que não teria ligação com os desvios.
Além das transações financeiras de Claudia Cruz, os documentos revelam que três empresas offshore são ligadas a Cunha: Orion SP, Netherton e Triumph SP, que foram abertas de maio de 2007 a setembro de 2008, sendo uma delas em Singapura.
De acordo com o material, as quatro contas somam entradas no valor de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, em valores convertidos.
Os depósitos e retiradas foram feitos em dólar, francos suíços e euros. As investigações na Suíça apontaram um repasse direto de 1,3 milhão de francos suíços (R$ 5,1 milhões) de uma offshore do empresário João Augusto Henriques para a Orion SP, de Cunha, entre 30 de maio e 23 de junho de 2011. Os depósitos foram feitos três meses após a Petrobras fechar o negócio envolvendo o campo de petróleo na costa oeste da África.
Outro lado
Procurada na noite de ontem, a assessoria de Cunha disse que ele reafirma os termos da nota que soltou sobre as supostas contas na Suíça. No texto, o peemedebista diz que “desconhece o teor dos fatos veiculados” e que só os comentará após ter “acesso ao conteúdo real do que vem sendo divulgado”.
O advogado de Cunha, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, não atendeu à ligação da reportagem. Em entrevista publicada ontem, Cunha afirma ser vítima de “execração” devido a uma divulgação de dados seletiva, “vazada de forma criminosa”.
Aliados
A confirmação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que Cunha e parentes dele têm contas bancárias na Suíça bloqueadas pelo país europeu fez aumentar no PSDB o coro de políticos do partido que defendem o afastamento do peemedebista do comando da Casa.
O foco que mais resiste a se distanciar de Cunha, no entanto, são deputados tucanos, pois contam com ele para dar início a um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cunha garantiu aos tucanos que decidirá na terça se aceita o pedido de impedimento protocolado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., apontado pelo PSDB como mais consistente. 

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