Ministro da Educação, Abraham Weintraub admitiu ontem durante audiência na Câmara dos Deputados que recebeu uma ligação de Jair Bolsonaro (PSL) um dia antes, mas que, no telefonema, disse ao presidente que não havia cortes de 30% no orçamento das universidades.
"Os deputados ouviram o presidente falando comigo, mas não eu falando com o presidente", disse Weintraub, que foi convocado a prestar esclarecimentos sobre o represamento de recursos nas instituições de ensino superior em sessão que começou às 15 horas e se encerrou às 21h.
Entre os parlamentares a quem o ministro se referia, estava o cearense Capitão Wagner (Pros), que relatou ao O POVO na terça-feira passada ter presenciado ligação na qual Bolsonaro determinara que o seu auxiliar suspendesse o congelamento de verbas.
A versão foi negada no mesmo dia por Onyx Lorenzoni (Casa Civil), MEC e a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL), que tratou o episódio como "boato barato".
 Questionado por Wagner sobre o teor da conversa com Bolsonaro, o ministro acrescentou: "Eu falei: 'Presidente, não está havendo corte algum, o que está havendo é contingenciamento'". Segundo o titular do MEC, o pesselista então teria respondido: "Maravilha, então não tem corte".
Weintraub reforçou também que chegou a conversar horas depois com o chefe do Executivo sobre os motivos pelos quais ele havia retido dinheiro de custeio das universidades e institutos de todo o País - apenas no Ceará, a suspensão soma R$ 108 milhões das quatro instituições federais.
"Foi um mal-entendido, não foi mentira", disse a Wagner a respeito da ligação telefônica. "Eu entendo essa angústia de todos." E repetiu: "É 3,5% de contingenciamento". O deputado, porém, não se convenceu.
"De fato não escutamos (a resposta do ministro da Educação), mas o presidente afirmou pra gente que não haveria mais corte. Houve a determinação (da suspensão)", enfatizou o congressista em conversa após a sessão dessa quarta-feira.
Para ele, Weintraub não ofereceu respostas convincentes às perguntas que os colegas de Casa haviam formulado no curso das seis horas de sessão. "Tem poucos ministros que assimilam o debate no Congresso. Sergio Moro (Justiça) e Tarcísio Gomes (Infraestrutura), por exemplo", citou. "Já o ministro da Educação não deu respostas satisfatórias. Foi mais ideológico que técnico."
Durante sua passagem pelo plenário da Câmara, Weintraub apresentou slides de Power Point com as prioridades para a gestão do MEC, mas não se aprofundou sobre a base técnica para o contingenciamento dos recursos. Entre uma pergunta e outra, o ministro elevou o tom e debochou de deputados.
"Fui bancário. Carteira assinada, viu? Azulzinha, não sei se vocês conhecem", ironizou quando indagado por um parlamentar. Houve tumulto e ameaça de confronto físico entre Carla Zambelli (PSL-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ). Os deputados Glauber Braga (Psol-RJ) e Éder Mauro (PSD-PA) se desentenderam e quase brigaram.
A sessão seria interrompida momentaneamente outras vezes, como quando o ministro afirmou que era ficha-limpa, e questionou se a maior parte dos políticos presentes poderia dizer o mesmo.
Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro, Jandira Feghalli perguntou ao ministro se ele reafirmava declaração que dera a uma revista segundo a qual "comunistas mereciam uma bala na cabeça".
"Não tenho passagem pela polícia por ameaça, agressão", devolveu Weintraub. "Não tenho processo trabalhista. Minha ficha é limpíssima, não tenho mácula. Tiveram que voltar 30 anos na minha vida para obter um boletim ruim porque eu tinha arrebentado o meu braço, obtido de forma ilegal", disse. "Outra coisa, bala na cabeça, quem prega, não é esse lado aqui."
Apesar dos esforços do ministro, todavia, o resultado de sua participação na Câmara foi ruim. A avaliação é deputado federal André Figueiredo, líder do PDT na Casa. "O ministro mentiu demais. Insistiu na tese do 3,5%, que não é verdade. Insistiu para ludibriar parte da população brasileira", criticou o pedetista.
De acordo com Figueiredo, Weintraub "usou uma técnica de realmente inventar números para tentar passar a falsa impressão de que está falando a verdade", mas "fugiu das perguntas". Ele completou: "Até dizer que tinha sangue cearense, ele disse".
Numa de suas respostas, o ministro contou que seu nome completo incluía o sobrenome Vasconcellos, que, segundo ele, tem origem em Sobral, Ipu e Santa Quitéria.
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