Um dia após bate-boca entre o ministro Paulo Guedes (Economia) e deputados de oposição na Câmara, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assumiu pessoalmente a articulação da reforma da Previdência, cuja tramitação sequer teve início.
Nessa quinta-feira, Bolsonaro recebeu líderes de seis legendas: PSDB, MDB, DEM, PP, PSD e PRB. Na próxima semana, o presidente deve se reunir com dirigentes de outros cinco partidos (PSL, PR, Pros, Podemos e Solidariedade).
 Coordenador da bancada do Nordeste na Casa, Domingos Neto (PSD) diz que o gesto do chefe do Executivo foi "um primeiro passo" importante na "desmistificação" das negociações com o Legislativo, classificadas pelo pesselista como "velha política".
"É difícil tentar entender o que é velha e nova política", afirma o deputado cearense, que foi designado ontem como relator da proposta de Orçamento federal para 2020. Segundo ele, o Governo "não pode construir um muro entre Planalto e o Congresso".
O parlamentar informa, todavia, que PSD não fechará questão em torno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera o regime de aposentadorias. "Bolsonaro ainda tem que trabalhar o convencimento. E a base precisa trabalhar melhor", avaliou.
Ainda nessa quinta, pelas redes sociais, o presidente se referiu ao encontro com lideranças partidárias como um diálogo de "alto nível". Ele negou que a conversa tenha se realizado em torno da troca de apoio político por cargos.
À noite, em transmissão ao vivo, Bolsonaro disse acreditar que "o parlamento vai fazer sua parte não só na questão da reforma da Previdência, bem como as demais propostas que estão dentro da Câmara".
Deputado federal pelo PR e integrante da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Júnior Mano acredita que a mudança de discurso tenha sido um recuo na relação beligerante que o presidente vinha mantendo com o Congresso. "O parlamento tem força, e acho que agora ele está atrás de uma reconciliação", afirmou.
Para Mano, no entanto, há dificuldade em declarar voto a favor da reforma. De acordo com ele, o PR, que encontra Bolsonaro na terça-feira da semana que vem, defende a retirada de ao menos três pontos do projeto.
Presidente estadual do PSL no Ceará, o colega de Casa Heitor Freire vê como naturais os movimentos de Bolsonaro. "A articulação é um dos principais pilares para se fazer política no Brasil, mas o termo acabou ganhando conotação negativa por conta dos governos anteriores, baseados no toma-lá-dá-cá", considerou o pesselista.
Freire acrescenta ainda que o propósito da nova estratégia do Planalto "é conversar com os parlamentares, apresentar a proposta e ouvir sugestões para se chegar num denominador comum".
Cientista político e participante do Conselho de Leitores do O POVO, Cleyton Monte reconhece que, embora a presença de Bolsonaro confira "mais força e unidade" à base na tarefa de articular a reforma, há um problema a ser contornado. "O presidente colocou os principais postos da administração nas mãos dos militares, que têm conhecimento técnico, mas não têm voto", aponta.
O pesquisador indica uma dificuldade adicional para o Governo: o tempo. "Existia em janeiro e fevereiro uma onda pró-reforma, mas ela está refluindo", projeta. "Até partidos que tinham certo compromisso com a reforma estão começando a ficar distantes."
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