quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A rotina de quem deixa o carro em casa para não pagar caro pela gasolina

01:30 | 20/09/2018
O EMPRESÁRIO Felipe Freitas vendeu o carro e reduziu o gasto mensal de R$ 2 mil para R$ 1,2 mil Mateus Dantas
O EMPRESÁRIO Felipe Freitas vendeu o carro e reduziu o gasto mensal de R$ 2 mil para R$ 1,2 mil Mateus Dantas
Diante dos altos preços dos combustíveis, a busca por meios de transporte mais econômicos vem sendo a saída encontrada por muitos cearenses que querem aliviar o peso no bolso. Aos poucos, o carro particular vai dividindo cada vez mais espaço com aplicativos de transporte, como Uber e 99, táxi, ônibus, metrô e bicicleta. Tem até gente andando mais a pé.

Conforme O POVO publicou na edição de segunda-feira, 17, o consumo de combustíveis e lubrificantes no Ceará já acumula queda de 3,2% neste ano, de janeiro a julho, e recuo de 12,9% nos últimos 12 meses.
 
Os números retratam a mudança de hábitos do consumo de pessoas como o administrador Claudinor Mesquita, 26, que trocou o carro pelo transporte coletivo durante a semana. A preocupação com os preços da gasolina já na faz mais parte da sua rotina.

"Com os constantes aumentos, resolvi adotar o ônibus e deixar o carro na garagem. Vou ao trabalho na semana de ônibus e deixo o automóvel para ser utilizado somente aos fins de semana. Assim, tenho uma economia que ajuda o meu orçamento", conta. Por mês, ele desembolsava cerca de R$ 600 para comprar combustível. Agora, gasta R$ 140 com passagens para ir de casa para o trabalho, o que representa uma economia de R$ 460, ou 76%.

O bancário Alan Brasil reduziu 70% das despesas e ainda colocou a leitura em dia ao substituir o carro pelo metrô MATEUS DANTAS
O bancário Alan Brasil reduziu 70% das despesas e ainda colocou a leitura em dia ao substituir o carro pelo metrô MATEUS DANTAS
Há dois meses, o engenheiro Germano Lima, 29, também decidiu mudar em razão dos preços elevados dos combustíveis e começou a trabalhar de bicicleta, três vezes por semana. Os R$ 400 reais que ele gastava mensalmente com gasolina foram para R$ 200, uma redução de 50% no orçamento. "Mudei de acordo com a rotina, mas pretendo ir cada vez mais de bike", afirma.

Ele explica que ainda não conseguiu aderir ao novo modal durante toda a semana devido a compromissos que requerem o uso do carro particular, como deixar o filho na escola, resolver algo após o expediente ou transportar mercadorias.

De acordo com a última pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a gasolina ficou 6,7% mais cara no Ceará nas últimas quatro semanas. De 9 de setembro a 15 de setembro, o valor médio do litro era de R$ 4,67 no Estado.

O ENGENHEIRO Germano Lima optou pela bicicleta e observou melhora na qualidade de vida, além de economizar dinheiro JULIO CAESAR
O ENGENHEIRO Germano Lima optou pela bicicleta e observou melhora na qualidade de vida, além de economizar dinheiro JULIO CAESAR
Porém, já é possível observar estabelecimentos vendendo o combustível por valores ainda maiores, que já beiram os R$ 5. A escalada é influenciada pela cotação do dólar, que fechou ontem a R$ 4,12, um dos fatores que influenciam na política de preços da Petrobras, juntamente com o valor do barril de petróleo no mercado externo.

"Quando o dólar aumenta, isso significa que o brasileiro está mais pobre. Nós recebemos em reais, algumas coisas são referenciadas no dólar, inclusive o combustível", destaca a economista Alessandra Benevides, professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral.

Para ela, pensar no menor uso de carros particulares traz benefícios coletivos, mas essa redução, quando forçada pela inflação dos combustíveis, indica um empobrecimento da população. Ela explica que vários fatores influenciam a mudança de comportamento do consumidor.

"É natural que as pessoas busquem alternativas. Além do dólar, temos a questão do desemprego. Embora a gasolina, às vezes, seja substituída pelo etanol, a alta ainda tem outros reflexos sobre os hábitos dos consumidores", avalia. Conforme Alessandra, a redução no consumo de combustível sinaliza uma corrosão na renda do cearense.

"A população percebe que não está tendo mais condições de ficar com um carro e mantê-lo, pois além do combustível, tem gastos com o manutenção, seguro, IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), entre outros. As pessoas, então, chegam à conclusão de que aquele consumo não está valendo a pena", observa.

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