Em 25 anos, o Ceará terá mais idosos do que crianças e adolescentes de até 14 anos. O Estado será o 13º a alcançar esse perfil demográfico, acompanhando a tendência nacional de envelhecimento da população. Em 2060, um a cada quatro cearenses terá mais de 65 anos, mesma proporção dos brasileiros.
As estimativas populacionais foram divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante desse cenário, o País, os estados e os municípios precisam se preparar para acompanhar essa mudança no perfil populacional, que deve se projetar nos diversos setores da sociedade.
Segundo a pesquisa, o número de pessoas com mais de 65 anos deve alcançar 25,4%, quase triplicando os atuais 8,8% de habitantes nessa faixa etária. A parcela de cearenses com idade entre 15 e 64 anos deve diminuir de 69,2% para 60%. A mudança é considerada rápida e, segundo especialistas, requer mudanças nas políticas públicas.
De acordo com Zilma Gurgel, gerontóloga e fundadora da Universidade Sem Fronteiras (Unisf), o Brasil não está preparado para esse cenário. “É urgente formar geriatras e gerontólogos.
Precisamos de programas de prevenção e promoção da saúde para um envelhecimento bem sucedido, se não vai ser um caos econômico e social”, alerta.
Pioneira na área de educação para idosos, Zilma também enxerga mudanças necessárias na arquitetura da Cidade e nos projetos na área de educação continuada. “Essa mudança demanda calçadas uniformes, passarelas, programas de atividades físicas e educação para aumentar a resiliência. Para que as pessoas possam abraçar o envelhecimento com qualidade”.
Para Jarbas Roriz, geriatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), isso demanda profissionais mais especializados na área. “A saúde do idoso requer uma ampla oferta de serviços. Desde a atenção primária, passando pela organização em nível secundário com diversos especialistas e com profissionais de gerontologia nas diversas áreas da saúde. E do terciário, visto que terão mais doenças e complicações, internações hospitalares e procedimentos de terapia intensiva”, detalha.
De acordo com dados da Demografia Médica de 2018, o País não chega a ter nem um geriatra para cada 100 mil habitantes. Com 1.817 especialistas, a razão é de 0,87 para esse grupo populacional.
Deste total, 60% se concentra no Sudeste.
“Não temos nem vamos alcançar rapidamente um número grande de especialistas. O desafio passa a ser a capacitação dos profissionais do atendimento de saúde. O idoso pode ser atendido pelo médico de família, clínico e diversos especialistas desde que estejam treinados”, defende Jarbas.
Ele destaca ainda a importância de atividades de estímulo ao cérebro para a construção de uma reserva cognitiva e manutenção das funções cerebrais. “Os idosos precisam de acesso a uma boa mobilidade urbana porque têm tendência de perda muscular, problemas ósseos e de equilíbrio”.
Já na área econômica, segundo Ricardo Coimbra, professor de economia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o principal impacto que se vislumbra é o crescimento do déficit previdenciário.
“Com o número de pessoas ativas menor do que o número de pessoas recebendo é necessário incentivar as empresas a empregar esses indivíduos com alíquotas diferentes nas faixas etárias”, detalha. A mudança demanda ainda novos serviços voltados para essa parcela da população.
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