Nenhuma outra superintendência regional da Polícia Federal (PF) no País registrou mais extravios de munição do que a cearense. É o que aponta relatório da Diretoria de Administração e Logística (Dlog) da PF.
Ao todo, no período que vai de 2006 a 2017, 1.337 projéteis sob responsabilidade da Superintendência da PF no Ceará sumiram. São 389 munições a mais que na Superintendência de São Paulo, a segunda nesse ranking. O montante também representa mais que o dobro dos extravios da terceira colocada, a superintendência do Rio de Janeiro, que teve 483.
Somente em 2010, ocorreu desvio de 917 munições no Ceará.
Além disso, sumiram 23 armas, o que torna a superintendência cearense a sexta nesse quesito no País. Está atrás apenas de Rio de Janeiro (80), São Paulo (38), Distrito Federal (32), Pará (30) e Rio Grande do Sul (28).
Para apurar os casos, a superintendência local abriu 26 procedimentos administrativos.
O POVO solicitou à Superintendência da PF no Ceará informações sobre os modelos e os calibres das armas e munições desviadas, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. Também foram solicitadas informações acerca de indiciamento de agentes por causa dos extravios.
O levantamento foi um pedido do gabinete do deputado federal Alessandro Molon (PSB), realizado em maio último. Ele é membro da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) e seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março. Conforme investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, as balas usadas no crime eram pertencentes a um lote comprado pela PF em 2006.
“Os dados mostram um completo descontrole das forças policiais, algo extremamente grave, pois são estas mesmas armas que se voltam contra a população, sob domínio do crime organizado”, afirma Molon.
Relatório do Instituto Sou da Paz, divulgado em junho último, mostra que 71% das armas apreendidas entre 2013 e 2016 no Ceará tinham registro legal em situação regular. Destas, 16% eram provenientes de profissionais da segurança privada e 15% da segurança pública. Além disso, 44% das armas eram registradas no próprio Estado e 14% em São Paulo. Em 13% das ocorrências essa detecção não foi possível.
Em 2017, foram apreendidas 6.969 armas no Estado, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
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