O presidente Michel Temer (MDB) encontra ainda mais dificuldade para
aprovar a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, após o
ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, declarar que os estados
que quiserem liberação de recursos têm de ajudar no encaminhamento da
proposta.
Ontem, os nove governadores do Nordeste assinaram
carta pública repudiando a prática classificada como “criminosa”. Eles
prometem processar o ministro se a ação se concretizar.
No
documento dirigido a Temer, os governadores dizem que receberam a
declaração com “profunda estranheza” e não hesitarão em “promover a
responsabilidade política e jurídica” dos agentes envolvidos no que
classificaram como “ameaça”. “Esperamos que o presidente Michel Temer
reoriente os seus auxiliares, a fim de coibir práticas inconstitucionais
e criminosas”, escreveram.
Em entrevista coletiva, Marun admitiu
na terça-feira última que o Palácio do Planalto pressiona os
governadores a trabalharem a favor da aprovação da reforma da
Previdência em troca do repasse de recursos em financiamentos de bancos
públicos.
“Financiamentos da Caixa são ações de governo.
Obviamente, nesse sentido entendemos que deve, sim, ser discutida com
esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que seja aprovada a
reforma da Previdência, que é uma questão que entendemos hoje de vida
ou morte para o Brasil”, justificou, negando se tratar de chantagem.
O
governador Camilo Santana (PT) discordou da declaração. “É uma
vergonha. Resumindo: ‘eu só libero teus empréstimos se orientar os
deputados a votarem a reforma da Previdência’. Eu já mandei o recado
dizendo que não conte com o governador Camilo”, reagiu, ontem, em
entrevista à rádio Tribuna BandNews FM.
Para o governador, é
“inadmissível essa forma de fazer política”. “Se eu fosse o presidente,
demitia esse ministro hoje”, declarou o petista, reiterando que isso não
era diálogo. “É uma coisa antirrepublicana.”
Votação
Após
a reação dos governadores, o presidente Michel Temer se reuniu ontem à
tarde com o ministro Marun e o relator da reforma da Previdência,
deputado Arthur Maia (PPS-PA). O objetivo do encontro foi discutir as
estratégias para conseguir os 308 votos necessários para a aprovação da
proposta.
Mesmo após a repercussão negativa da declaração, Marun
disse ao O POVO que mantém o que foi dito. “Aqueles que foram
beneficiados com ações do Governo terão de auxiliá-lo”, reafirmou por
telefone.
O ministro também minimizou a reação dos governadores
nordestinos, após dizer que não leu a carta assinada por eles.
Questionado sobre a declaração de Camilo Santana, que sugeriu sua
demissão do cargo de articulador do Governo, disse: “Eu tenho mais coisa
para me preocupar do que isso”.
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