Menos de um ano após a aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), antigos rivais estão juntos nas eleições para as presidências do Congresso marcadas para o início de fevereiro.
Na Câmara dos Deputados, o PCdoB, um dos mais ferrenhos defensores de Dilma, anunciou apoio à candidatura do atual presidente Rodrigo Maia, do DEM, algoz da petista no processo de afastamento.
O PT não fica atrás. Além de caminhar em direção ao democrata, o partido do ex-presidente Lula também negocia posto na mesa diretora do Senado, que deverá ser presidido por Eunício Oliveira, do PMDB, legenda que deu suporte decisivo à destituição de Dilma. Nas casas legislativas, os dois partidos aliaram-se a seus adversários, fragilizando discurso que se tornou mantra antes, durante e depois do afastamento de Dilma: o golpe.
Na Câmara e no Senado, o discurso de PT e PCdoB é de ocupação de espaços para evitar isolamento anda maior. Também contrário ao impeachment, o PDT lançou candidato na Câmara, André Figueiredo, mas ainda não conseguiu atrair partidos em torno do cearense.
“O que nós queremos agora é conquistar espaços para lutar contra eles (partidos que dão sustentação a Michel Temer), porque a nossa luta contra eles é permanente. Porque não é uma luta de pessoas, é de ideias. Política se faz com a correlação de forças. Seria errado, equivocado, trabalhar para se isolar”, defende a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Voto vencido no PT, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) diz que uma decisão de apoio a siglas favoráveis ao “golpe” cria “uma grande confusão nas bases e não ajuda na luta social”. O parlamentar ainda crê em uma reviravolta até o dia 31, quando o partido irá decidir qual posição tomar. Ele tem buscado força nas bases da legenda para tentar mudar a orientação do PT.
Líder do governo na gestão da ex-presidente Dilma, José Guimarães (PT) disse que, “em política”, tudo é possível, inclusive o apoio a Maia. No entanto, o cearense defende que o partido dialogue com PDT e PCdoB. A legenda tem reunião na próxima terça-feira para definir o rumo para a eleição.
Cientistas políticos consultados pelo O POVO avaliam como equivocado o aceno dessas legendas a DEM e PMDB no momento em que o eleitor exige demarcação de discurso.
Cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Paulo Baía considera que “esses partidos (PT e PCdoB) estão com dois discursos, um para fora e outro para dentro do Congresso” por querer “assegurar espaços institucionais” dentro das casas legislativas. “A prática congressual não condiz com o discurso. Pelo contrário, esvazia esse discurso para fora, sobretudo em relação ao golpe.”
A cientista política da Universidade Federal do Ceará, Paula Vieira, avalia que, no atual contexto, há movimentação mais “pragmática” do que “ideológica” para a conquista desses espaços estratégicos para a manutenção da prática política.
“Sobre o discurso do golpe, o PT está indo para uma via mais pragmática, tanto para implementar políticas públicas quanto para ter aliados. É uma perspectiva mais pragmática e menos ideológica. O PCdoB tem uma via mais pragmática que ideológica que o PT há um tempo”, conclui.
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