Existe um vazio. Na política, as promessas da esquerda e a tradição da direita já não inspiram os eleitores. Lados antagônicos se misturam e fica a impressão de que, na verdade, o enfrentamento é da população contra os políticos e vice-versa. Para piorar o abismo, os três poderes andam perdidos, tentando se sobressair e reescrever seus papeis na marra. O Executivo, que costumava ser a figura central, está frágil, independentemente do presidente. O Legislativo vivenciou conflitos com o Judiciário que, por sua vez, pegou gosto pela política e resolveu se aproximar dela em vez de manter distância.
Em meio a angústia, crise, dúvidas, ano de 2016 já começou a moldar o que virá para as esperadas eleições de 2018. Agora, 2017 serve para consolidar as articulações e preencher as lacunas, entre elas a que mais incomoda: a crise de representatividade.
Pólos
A polarização que tem marcado as discussões sobre política no Brasil deverá continuar forte e presente ao longo de 2017, segundo previsões de especialistas. De acordo com o cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Paulo Baía, ela ressurge de forma diferente: multipolar.
A polarização que tem marcado as discussões sobre política no Brasil deverá continuar forte e presente ao longo de 2017, segundo previsões de especialistas. De acordo com o cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Paulo Baía, ela ressurge de forma diferente: multipolar.
“As ruas e o ciberativismo ganham cada vez mais importância na vida da sociedade brasileira. De 2013 para cá, temos visto a capacidade da sociedade brasileira lutar mais. As novas manifestações têm um novo tipo de organização. Antigamente, eram verticais, centrais e com pauta única. Agora, têm pautas diversas”, diz.
Já a cientista política Paula Vieira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), entende que enquanto não se coordenarem, os movimentos não trarão resultados. A divisão entre direita e esquerda se agravará, diz, abrindo espaço para discursos conservadores.
Crise sem fimSe o começo de 2016 foi pautado pela crise entre Legislativo e Executivo, com a falta de entendimento entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o parlamento, o início de 2017 será da continuação do conflito entre Congresso e o Judiciário.
Por mais que o presidente Michel Temer se esforce para conciliar os outros dois poderes, ele não parece ter controle sobre o principal fator de atrito institucional: a Operação Lava Jato.
Sessão histórica da Câmara que cassou Dilma Rousseff: ápice de um processo que parou o País
Fortalecidos na era petista, juízes, procuradores e policiais federais têm o amparo popular para continuar com as investigações que colocam os legisladores na mira da Justiça. Em retaliação, o Congresso tenta passar leis como a de abuso de autoridade, que prevê punição para juízes e procuradores em determinados casos. “O final de 2016 teve elevado grau de intolerância institucional, com Executivo frágil e Legislativo e Judiciário belicosos. Estão em guerra. O ano de 2017 vai ser a continuação da agonia”, afirma.
Paula Vieira avalia que a figura de Temer deve continuar “apagada”, o que permite a sustentação do “parlamentarismo informal” que se tem hoje. O governo Temer já foi considerado ruim ou péssimo por 51% dos entrevistados do Datafolha em dezembro.
Em um contexto onde Legislativo e Executivo não atendem os anseios da população, o Judiciário continua a ganhar expressividade, preenchendo um espaço que não foi designado para ele.
Saiba mais
Pautas no Congresso
As votações de projetos e pacotes mudam a conjectura da política nacional. Em 2017, a base de Michel Temer terá de provar sua união diante de pautas impopulares. As principais serão a Reforma da Previdência, a Reforma do Ensino Médio, lei anti-corrupção que prevê punição a juízes e procuradores.
Processo TSEO julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral ficou para 2017, mesmo que as eleições tenham ocorrido em 2014. Caso seja cassada, Temer teria de sair da presidência. Para seu lugar, ocorreriam eleições indiretas, determinadas pela vontade do Congresso. Portanto, o poder continuaria na mão dos aliados do presidente, que hoje são maioria nas duas Casas.
Lava JatoA operação que derrubou o PT caminha cada vez mais em direção ao PMDB. Após a delação da empreiteira Odebrecht, a expectativa é que a caçada aos ligados ao esquema continue. Surpresas ainda podem aparecer. Preso, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha pode ter a chance de fazer delação premiada.
Processo TSEO julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral ficou para 2017, mesmo que as eleições tenham ocorrido em 2014. Caso seja cassada, Temer teria de sair da presidência. Para seu lugar, ocorreriam eleições indiretas, determinadas pela vontade do Congresso. Portanto, o poder continuaria na mão dos aliados do presidente, que hoje são maioria nas duas Casas.
Lava JatoA operação que derrubou o PT caminha cada vez mais em direção ao PMDB. Após a delação da empreiteira Odebrecht, a expectativa é que a caçada aos ligados ao esquema continue. Surpresas ainda podem aparecer. Preso, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha pode ter a chance de fazer delação premiada.
Frase
“O ano de 2017 vai ser a continuação da agonia”
Paulo Baía, cientista político da UFRJ
Paulo Baía, cientista político da UFRJ
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