Como esses, os exemplos de empatia se tornaram notáveis durante a semana. Como o cinegrafista que fez às vezes de maqueiro para ajudar no resgate, até os times brasileiros que se organizam e traçam plano de ajuda pelos próximos anos à equipe de Santa Catarina. Deixam de lado rivalidade e competição para lembrar que o futebol, assim como a vida, é feito de gente e cordialidade. Diante da tragédia, do inesperado, da dor, a humanidade deixa que aflore o melhor de si: a bondade.
O colocar-se no lugar do outro é a explicação para a solidariedade nesse e em outros casos, como explica a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), psicóloga mestre e especialista em Tanatologia (estudo científico da morte) e Emergências e Desastres, Giselle Sucupira Mesquita. “Situações de desastre comovem pela empatia, porque pensamos que poderia ser com a gente. Nesse caso, existe uma situação que comove ainda mais: eram amigos que estavam indo realizar um sonho”, aponta.
Envolver futebol, um motivador de paixões, é citado por Giselle e pela socióloga Preciliana Morais, coordenadora e professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), como aspecto intensificador do engajamento coletivo, mas não determinante.
Em tragédias, é posto às vistas do ser humano a única coisa que ele não pode vencer. “A gente se depara com a finitude da vida. Contra o resto se pode lutar, mas, diante da morte, as pessoas ressignificam a vida e mudam posturas”, acredita Giselle. É pelo choque da tragédia que pessoas de diferentes culturas e opiniões se unem em prol de uma causa única.
As comoções são reforçadas pelo luto virtual, em que que se vive a dor do outro, e pelas manifestações nas redes socias. Contudo, uma hora acabam para quem não perdeu um ente amado. Conforme a psicóloga, o esquecer se trata, pois, de um mecanismo de defesa. Mas há lições que a solidariedade pode ensinar.
Para a socióloga, o despertar do sentido de ajudar renova a fé que a humanidade tem em si mesma. “A solidariedade movida pela comoção pode persistir no cotidiano se a gente se mantiver aberto a dialogar e perceber o outro. A união que esse choque traz pode mostrar que conviver com as diferenças, ouvindo e argumentando, é possível”. (Colaborou Rômulo Costa)
Casos que também comoveram
Boate Pulse
O atirador Omar Mateen matou 49 pessoas e feriuoutras 53 dentro da boate Pulse, em Orlando (EUA), destinada ao público LGBT. O crime aconteceu em junho de 2016. Centenas de pessoas da Cidade lotaram os hospitais para doar sangue às vítimas que permaneciam em estado grave. Voluntários forneciam alimentação e água a quem esperava nas enormes filas. Na internet, as manifestações de solidariedade ocorriam pela hashtag #PrayForOrlando (do inglês "ore por Orlando").
Incêndio na Boate Kiss
Incêndio matou pelo menos 231 pessoas na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O acidente aconteceu em janeiro de 2013. Na madrugada do incêndio, os moradores tentaram derrubar o muro da boate e resgataram vítimas. Uma rede de solidariedade se formou no município para doação de sangue e medicamentos.
Deslizamentos no RJ
Em janeiro de 2011, fortes chuvas provocaram deslizamentos em cinco cidades da região serrana do Rio de Janeiro. Mais de 918 pessoas morreram; outras 30 mil ficaram desalojadas. Uma das histórias mais comoventes foi a de Ilair Pereira, que foi resgatada por um vizinho. Ele usou uma corda para salvar a senhora, que foi içada por ele carregando o cachorro de estimação. O caso ocorreu em São José do Vale do Rio Preto. Em todo o Estado, igrejas recolheram donativos. Centenas de voluntários também saíram de várias regiões para atuar nos abrigos de emergência.
Atentado de Paris
Explosões e tiroteios em três regiões de Paris deixaram 140 mortos na cidade francesa. Dezenas ficaram feridas. A tragédia se deu em novembro de 2015. No Twitter, a hashtag #PrayForParis (do inglês, orando por Paris) teve o maior número de compartilhamento do dia. Durante as semanas posteriores, milhões de pessoas usaram as redes sociais para expressar solidariedade às vítimas.
Desastre de Mariana
Rompimento da barragem da mineradora Samarco na cidade de Mariana, em Minas Gerais, ocorreu em novembro de 2015. A prefeitura e entidades da região reuniram doações de alimento, roupas, água, produtos de higiene e dinheiro para as 329 famílias desabrigadas após o desastre.
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