ECONOMIA
História mostra que crise atual é menos grave e mais duradoura
Expressando cuidado, a economia brasileira já esteve pior, como contam economistas e empresários
22:00 · 22.08.2015
Em meio a um processo de retração da economia, agravado pelo desgaste do Executivo, o Brasil se esforça hoje para conter aquela que foi a principal vilã da crise que marcou o País entre o fim dos anos 1980 e o início da década seguinte. Com previsão de ficar entre 9% e 10% em 2015, a inflação está bem distante daquela que, pouco mais de 20 anos atrás, levava os consumidores a correr aos mercados tão logo recebessem os salários, como forma de evitar a perda do poder de compra.
Ainda que mais branda, todavia, a alta dos preços tem sido um dos maiores desafios do governo, atingindo desde os brasileiros mais novos, acostumados a um momento econômico mais favorável, até aqueles que guardam, descontentes, as lembranças da crise anterior. Marcadas por contextos bastante distintos, as duas crises diferem em diversos aspectos. Episódios como o salto de preços de um dia para o outro e o desabastecimento do comércio, por exemplo, soam como uma realidade distante e incompatível com o avanço econômico e relativo controle da inflação registrado no início desta década - tornando o contexto atual menos alarmante do que o observado entre 1986 e 1994.
Em contrapartida, o cenário externo menos favorável a uma recuperação da economia brasileira e a perda acentuada de credibilidade do governo federal, diante dos escândalos recentes de corrupção e do atrito com o Legislativo, são particularidades que entravam a superação das adversidades atuais.
Pontos em comum
As duas crises também preservam, de todo modo, alguns pontos em comum, a exemplo da busca por equilíbrio fiscal após um intervalo de equívocos na política macroeconômica.
Conforme explica o coordenador do curso de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) em Minas Gerais, Marco Salvato, o cenário instável dos anos 1980 teve origem ainda na década anterior, quando dois choques do petróleo no mercado internacional provocaram uma alta expressiva no preço de produtos dependentes do insumo.
"O Brasil poderia escolher entre frear a economia para manter os preços ou tentar continuar crescendo a qualquer custo, que foi o que aconteceu. Depois, a gente teve que pagar um preço alto por isso", destaca. Processo semelhante, ainda que em menor proporção, acrescenta, aconteceu após a crise financeira de 2008, ligada ao mercado imobiliário norte-americano.
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