segunda-feira, 27 de abril de 2015

OPERAÇÃO FIDÚCIA

Pedreiro, diarista, tapioqueira: os 'laranjas' da fraude milionária

27.04.2015

Pessoas com rendas baixas foram citadas nas investigações como empresários que movimentaram milhões

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Carros de luxo, como uma Maserati com valor estimado em R$ 1,2 milhão de reais, foram apreendidos nas garagens dos empresários investigados
ÉRIKA FONSECA
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Também um avião de pequeno porte, com valor estimado em R$ 300 mil, foi encontrado e recolhido pela Polícia Federal durante a operação
Antônio fazia entrega de documentos. Convites de aniversário, mensagens, bolos. Às vezes, buscava uma senhora idosa na igreja. Em uma manhã diferente de todas as outras, vê seu nome envolvido em investigação da Polícia Federal (PF) e tem de dar explicações sobre movimentação milionária de uma empresa em seu nome.
O homem, assim como outras 12 pessoas, figura como 'laranja' no esquema desmontado pela Operação Fidúcia, deflagrada pela Polícia Federal em 24 de março. Como a maioria dos que tiveram seus nomes envolvidos, afirmou não ter o menor conhecimento da empresa citada.
Na Operação, são investigados desvios de R$ 20 milhões a R$ 100 milhões em empréstimos junto à Caixa Econômica Federal (CEF) em um período de aproximadamente um ano e meio. 56 mandados judiciais foram expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal.
Conforme as investigações, os estelionatários abriram empresas fantasma de construção civil em nomes de terceiros, usados como 'laranjas'. Em seguida, solicitavam à Caixa empréstimos e financiamentos bancários, com documentos falsos.
O processo de concessão dos benefícios era manipulado pelo grupo, que aliciou servidores da própria Caixa, de acordo com a PF. Os funcionários da instituição bancária então concediam os pedidos. Segundo a PF, as empresas não executaram serviço nenhum, servindo apenas para obtenção dos empréstimos.
José é pedreiro. Trabalha também como pintor e eletricista. Conforme as investigações, é sócio, junto com o filho, em uma empresa que tomou mais de R$ 3 milhões em empréstimos. Ele alega que foi convidado por um cliente a abrir uma empresa para prestar serviço, mas que não tinha ideia do que de fato estava acontecendo, nem do montante que o CNPJ em seu nome estava movimentando.
Confiança
Antônia trabalha desde 1998 para a família de um dos investigados que está preso. Ganhando dois salários mínimos, ela não tem carteira de trabalho assinada. Contudo, o nome da mulher compõe o quadro societário de uma das empresas investigadas. Ela era sócia do próprio patrão.
A mulher, por sua vez, admitiu ter conhecimento da existência do contrato, e que assinou os documentos necessários sempre sem questionar. Cartões dos bancos e movimentações ficavam à cargo do patrão, que movimentava mais de 33 milhões em empréstimos feitos junto à Caixa. Disso, Antônia diz que não sabia.
Machado também diz que confiou na pessoa errada. Amigo de um primo dos chefes da quadrilha, o mecânico disse que assinou uma papelada com a promessa de que receberia direitos trabalhistas que estavam atrasados. No entanto, uma empresa foi aberta no nome do mecânico e movimentou também alguns milhões de reais.
Josué, que é eletricista, diz que depende de benefícios sociais do Governo Federal para manter a casa onde mora. Diz também que há dois anos uma pessoa que não se recorda quem, o convenceu a assinar alguns papéis. Ali era aberta uma empresa de importação de produtos de informática no nome do homem. Também foi descoberta pela PF como envolvida em fraudes junto à Caixa.

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