sábado, 6 de dezembro de 2014

OPERAÇÃO LAVA-JATO

Indício de fraude vai além da estatal, diz juiz

06.12.2014

Documento recolhido pela PF demonstra envolvimento de Alberto Youssef em obras no Ceará

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Em decisão emitida nesta semana, Moro mencionou uma "perturbadora" tabela apreendida em março com o doleiro e delator Alberto Youssef
FOTO: CNJ
Curitiba. As evidências recolhidas durante as investigações sobre a Petrobras sugerem que o esquema de fraudes em licitações "vai muito além" da estatal, afirmou o juiz federal Sergio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava-Jato.
Em decisão emitida nesta semana, Moro mencionou uma "perturbadora" tabela apreendida em março com o doleiro e delator Alberto Youssef. O documento, que estava na casa do doleiro, lista cerca de 750 obras de infraestrutura com órgãos públicos e privados, em nível federal, estadual e municipal, espalhadas por todo o País.
Em relatório sobre o documento, a Polícia Federal sustenta que "Youssef tinha um interesse especial nos contratos dessas empresas, onde de alguma forma atuava na intermediação".
Para a PF, a tabela fortalece a hipótese de "um grupo criminoso voltado a fraudar licitações, lavar dinheiro público e traficar influência em contratos da administração pública com grandes empresas" em todo o País.
Moro ressaltou que a investigação ainda deve ser aprofundada, mas que "é perturbadora a apreensão desta tabela nas mãos de Youssef, sugerindo que o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras".
Os comentários de Moro foram usados para rejeitar o pedido de revogação da prisão preventiva de Gerson de Mello Almada, vice-presidente da empresa Engevix, que está na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, junto com outras 12 pessoas.
Segundo Moro, grande parte do esquema criminoso ainda está encoberto e, por isso, "a prisão preventiva se impõe a bem da ordem pública, para interromper e prevenir a continuidade da prática de crimes graves".
A tabela citada pelo juiz tem 747 obras, com os respectivos clientes (nesse caso, as empreiteiras) e valores de propostas, que chegam a R$ 500 milhões.
A maioria dos projetos listados é da Petrobras, mas também são mencionados o Rodoanel paulista, o metrô de São Paulo, a ampliação e reforma dos aeroportos de Confins e Manaus, os portos de Suape (PE) e Paranaguá (PR) e obras do Departamento Nacional de Obras contra Secas(Dnocs). Projetos de órgãos estaduais e municipais também aparecem na lista.
Youssef demonstra ter forte atuação nas áreas de gás e saneamento. Na planilha, estão obras de companhias de gás da Bahia, Ceará, Paraíba e Sergipe, e de saneamento do Rio de Janeiro, Goiás, Alagoas e Maranhão.
Prefeituras como as de Maceió (AL) e Barueri (SP) também estão na lista. Esta última aparece em uma proposta feita à OAS para a construção do estádio municipal Arena Barueri. Há projetos internacionais, no Uruguai, Colômbia e Argentina e outros de grandes empresas privadas.
A análise inicial da PF aponta que os contratos de Youssef com as empreiteiras listadas na planilha foram feitos via Sanko Sider, maior fornecedora de tubos da Petrobras, e suspeita de intermediar pagamentos de propina.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já produziu mais de 3 mil relatórios sobre movimentações com indícios de lavagem de dinheiro em 2014, das quais mais da metade relacionados à Lava-Jato. Segundo o presidente do conselho, Antonio Rodrigues, o número é o maior registrado desde a criação do órgão, em 1998.

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