PROFESSORES DEFENDEM
Educação política deve ter espaço nas escolas
19.05.2014
Para especialistas, os estudantes devem ter contato desde cedo com discussões sobre cidadania e política
Pauta indigesta para parte considerável da população, a discussão sobre participação política - no âmbito formal ou em iniciativas da sociedade civil organizada - fica mais evidente em períodos pré-eleitorais. Professores de educação e ciência política relatam os desafios de romper a antipatia dos estudantes pelos temas que permeiam as nuances da política. Para os especialistas, escolas e universidades são as principais responsáveis em tentar superar essa apatia.
A Câmara Federal disponibiliza 216 vagas (oito por estado) a professores do Ensino Fundamental e Médio do País para o curso a distância Educação para Democracia e o Parlamento. Na minuta do programa, está prevista a elaboração de projetos pedagógicos de intervenção em educação para democracia.
A especialista em gestão escolar Tânia Batista, da Universidade Federal do Ceará, explica que o papel de disseminar discussões sobre o universo político deve ser compartilhado entre escolas, universidade, movimentos sociais e meios de comunicação. "O que é ser cidadão hoje no Brasil? É importante que esse debate esteja presente no cotidiano das pessoas. Por outro lado, é importante que a própria sociedade civil, através de suas organizações, discuta o tema", analisa.
A professora acrescenta que existem inúmeros caminhos para pautar essas temáticas, como disciplinas nas universidades, grêmios estudantis, centros acadêmicos e sindicatos. "Nós, educadores e gestores, temos uma possibilidade muito grande de fazer esse debate", enfatiza.
Eleitoreira
Tânia reconhece que os diálogos sobre educação política são incipientes no mundo acadêmico, porque se concentram em áreas específicas. "Ainda é muito pouco. A cultura política é eleitoreira, visa à perpetuação de quem está no poder e gera uma dificuldade de uma reflexão independente. Esses valores precisam ser reconstruídos", aponta.
Para a docente, os movimentos populares que eclodiram no Brasil em junho do ano passado demonstram iniciativa da juventude para fazer reivindicações ao poder público, ainda que de maneira difusa. "Temos esperança que podemos trabalhar melhor a politização das pessoas para que tenham um posicionamento menos pasteurizado diante da vida, da sociedade", opina.
A pesquisadora admite que existem desafios a serem rompidos. "É uma peleja meio desigual, porque os meios de comunicação com maior hegemonia, de maneira geral, trabalham no processo de despolitização dos jovens e estes se dizem apolíticos. Mesmo que não queira se engajar, ele reforça o status quo, não existe essa neutralidade".
O coordenador do mestrado de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Horácio Frota, diz acreditar que não é necessário incluir na grade escolar disciplinas de cidadania e política, mas reforça a responsabilidade dos educadores em levar para a sala de aula discussões dessa natureza através das matérias já existentes.
"O professor está sendo cobrado por muitas coisas, até mesmo sobre a questão das drogas. Esses temas nem sempre são bem trabalhados, por isso a necessidade de cursos a distância (como o ofertado pela Câmara Federal). Não é para colocar no currículo, é fazer com que os professores sejam capacitados e sensíveis a esse tema", ressalta.
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