Diagnóstico de como as dívidas podem ser sanadas só é encontrado ao enfrentar o que se deve de frente
Por mais que não se tenha noção exatamente do quanto se deve, quem está mal das finanças sabe. Não adianta tapar o sol com a peneira. É preciso enfrentar o problema, vencer o medo de encarar os números para ter noção do prejuízo acumulado. Motivo de separações, negligência com os filhos e até depressão, as dívidas devem ser enfrentadas para se chegar a um diagnóstico de como devem ser sanadas.
Segundo o Perfil de Endividamento do Consumidor de Fortaleza, divulgado pelo IPDC, em abril deste ano, 65,1% dos entrevistados possuem algum tipo de dívida, sendo que 15,7% estão com as mesmas em atraso FOTO: WALESKA SANTIAGOSegundo a consultora e educadora
financeiraLouise Porto Freire, esse primeiro passo é fundamental. "É preciso olhar o que passou, para não repetir, e seguir em frente. Também ter disciplina, paciência e união para passar o período. Uma dívida não foi adquirida em um mês e não adianta se iludir que em um mês ela vai se resolver", afirma a consultora. De acordo com ela, uma família em situação de inadimplência leva cerca de um ano para "voltar aos eixos".
Número na CapitalEm Fortaleza, 4,4% dos consumidores estavam em situação de inadimplência em abril - segundo o Perfil de Endividamento do Consumidor de Fortaleza, elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC). Dos pesquisados, 65,1% estavam endividados, 34,9 não endividados, 49,4% adimplentes, 15,7% com dívidas em atraso e outros 11,3% em condições de pagar o que devem.
Dentre os tipos de bens comprados a prazo pelos fortalezenses, assumindo, assim, dívidas, está no topo alimentação, com 43,6%; seguido por vestuário (30,2%), eletrodomésticos (25,6%), educação (15,7%), eletroeletrônicos (11,5%), dentre outros itens. O motivo principal que levaram às dívidas em atraso foi o desequilíbrio financeiro (72,2%).
Mudança de atitudePara quem está inadimplente, Louise recomenda uma tomada de atitude para mudar a situação. "Comprar bem é o primeiro passo. Fazer com que a compra dure o máximo possível é um desafio", afirma a consultora.
Conforme a especialista, a família precisa juntar todos os
valores das despesas - tanto variáveis como fixas - para poder conseguir controlar e escolher os itens que podem ser retirados ou substituídos. "A gente sabe que as contas não estão legais quando não consegue pagar o que se comprometeu. O problema que desequilibra o orçamento só vai ser identificado jogando a verdade na planilha", diz.
Ela conta que é preciso separar as despesas básicas e verificar se a
renda é compatível. Depois, ver as dívidas que tem com cartão de crédito, cheque especial, dinheiro emprestado de algum familiar, para verificar o valor total. O passo seguinte é cortar gastos supérfluos. Um empréstimo, com juro mais baixo, pode ser opção para quitar tudo - ou mesmo procurar outra fonte de renda.
"Não adianta fazer empréstimo sem mudar as atitudes de consumo. Fazer uma feira mal feita, por exemplo, sem levar uma lista de compras é um dos desperdícios mais comuns - como não saber armazenar os alimentos corretamente, que também gera desperdício", comenta
Já aqueles que estão em condições de gastar e podem se comprometer com pagamentos futuros, sem risco da inadimplência, também precisam de atenção. Se vai fazer uma festa, deve-se elaborar o orçamento do que vai ser preciso, sem comprar os itens de forma aleatória. Se vai comprar um carro, é necessário calcular custos adicionais que vão além das parcelas, como emplacamento e manutenção.
Mais informaçõesControle o orçamento com três planilhas disponibilizadas pela empresa Wise Parcerias:
http://verdesmares.globo.com/downloads/planilha_financas.xls Dívidas atingem 61,2% das famíliasO número de famílias brasileiras endividadas em março deste ano alcançou 61,2%, entre cheque pré-datado, cartão de crédito, carnês de lojas, empréstimos pessoal, prestação de carros e seguros - representando leve queda em relação a fevereiro (61,5%) último.
Cheque pré-datado, carnês, cartões, empréstimos e prestação de carros puxam dívidas FOTO: LUCAS DE MENEZESOs dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelam que os indicadores de inadimplência apresentaram leve melhora durante o mês.
As famílias que "não terão condição de pagar", segundo o levantamento, é de 6,3%. Segundo o documento divulgado pela CNC, "o percentual de famílias que relataram não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso recuou para o menor nível da série histórica", iniciada em janeiro de 2010.
Enquanto isso, o percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso foi de 19,5% em março. Neste caso, o tempo médio de atraso foi de 59,3 dias em março de 2013. Já o tempo médio de comprometimento com dívidas entre as famílias endividadas foi de 6,8 meses, sendo que 25,6% estão comprometidas com dívidas até três meses, e 28,4% por mais de um ano.
Renda comprometidaDas famílias endividadas, 51,6% comprometeu entre 11% e 50% da renda, enquanto 22,7% comprometeu menos de 10%. Em contrapartida, 20,1% das famílias comprometeu valor superior a 50% de toda a renda.
Conforme o relatório, pode ser notado que, apesar da tendência recente de alta do número de famílias endividadas, a percepção das mesmas em relação às dívidas e à capacidade de pagamento está em patamares mais favoráveis.
"A trajetória observada nos últimos meses de queda dos spreads bancários e o mercado de trabalho ainda aquecido proporcionam condições para indicadores de inadimplência ainda positivas", avalia o documento.
Nível de endividamentoEm março deste ano, 11,8% das famílias entrevistadas disseram estar "muito endividadas - contra 13,6% registrados em igual período do ano passado.
Entre fevereiro e março de 2013, o percentual de muitos endividados ficou estável. Na comparação entre março de 2012 e março do ano em curso, a parcela que declarou estar mais ou menos endividada passou de 21,0% para 22,4%, e a parcela pouco endividada passou de 23,2% para 27,0% do total dos endividados. (GR).
Negociações devem seguir a lei para não dar em erroCom o intuito de aumentar o próprio patrimônio, a pensionista R.H, que pediu para não ser identificada, iniciou a venda de um apartamento próprio para poder comprar outro imóvel. Porém, antes mesmo de finalizar toda a negociação, ela se viu envolta em juros e dívidas cada vez mais altas.
"A ideia era dar a entrada, com o dinheiro da venda, e financiar o restante do novo imóvel. Mas, durante o processo, a pessoa que ia comprar meu apartamento morreu e a esposa dele já estava morando no meu imóvel", afirma. Logo após a fatalidade, conta, as negociações pararam, porque alguns familiares se opuseram à compra.
Sem o recebimento do dinheiro, o financiamento do novo imóvel não pode ser pago - e os juros continuaram correndo, formando uma dívida cada vez mais alta. Foram meses sem dormir, por conta do impasse, deixando ela e os filhos em "estado de tensão". "Eu queria fazer um investimento. Tinha uma casa menor e o imóvel que estava em negociação. Queria comprar um espaço maior, multiplicar o dinheiro e ter qualidade de vida, mas acabou se tornando em um grande problema", diz.
Para conseguir resolver a situação, e também para renegociar os juros da dívida adquirida, R.H. precisou de orientação disponibilizada pela Associação dos Aposentados Fazendários Estaduais do Ceará (AAFEC), a partir do projeto "Meu Tesouro, Minha Vida". "O grande aprendizado foi que, sempre que for fazer uma negociação, faça tudo dentro da legalidade. Se eu não tivesse cedido o apartamento antes do tempo, não teria passado por isso", comenta. Segundo ela, o grande receio era perder o imóvel, além de ter acumulado uma grande dívida sem possibilidade de pagamento. (GR
)