terça-feira, 7 de maio de 2019

Violência reduz expectativa de vida para homens no Ceará

Os homicídios estão influenciando negativamente a expectativa de vida da população masculina do Ceará, ocasionando a perda de 1 a 2,4 anos na estimativa de longevidade deste gênero. É o que aponta uma pesquisa em andamento realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos (EUA).
Desenvolvido pelo estudante de mestrado em Saúde Global da instituição Sudipta Saha, o estudo - ainda em desenvolvimento - analisa a influência dos assassinatos sobre a expectativa de vida no Estado, no intervalo entre os anos 2000 a 2017, estabelecendo relação entre a violência letal e o padrão demográfico. Conforme levantamento do O POVO, houve 46.356 assassinatos no Ceará durante este período.
Em 2000, 2010 e 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida masculina no Ceará era de 63,6, 68,5 e 70,6 anos, respectivamente. No entanto, o estudo demonstra que, entre outros fatores, não fossem os assassinatos, essa expectativa seria de 64,9, 70,5 e 73 anos, respectivamente. Desta forma, no ano 2000, os homicídios reduziram a expectativa em 1,3 anos e, em 2015, em 2,4 anos.
"Ao longo do tempo, os homicídios têm um efeito cada vez mais prejudicial sobre a expectativa de vida em nível de Estado. Essa tendência é provavelmente impulsionada pelos homicídios em Fortaleza, já que a Capital concentra, aproximadamente, 30% da população e 42% dos homicídios no Estado", explica o cearense Antonio Silva Lima Neto, coorientador da dissertação de Saha.
Pós-doutorando também em Harvard e coordenador da Célula de Vigilância Epidemiológica (Cevepi) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, Antonio Silva ressalta que a pesquisa, intitulada "Dinâmica espaço-temporal, correlações e consequências dos homicídios em Fortaleza, Brasil" possui dados preliminares e sujeitos à alteração. A tese, no entanto, será defendida este mês.
O estudo foi feito em parceria entre a SMS, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e Harvard, tendo como foco a dinâmica espacial e temporal dos homicídios. Os indicadores foram relacionados com a expectativa de vida em Fortaleza e no Ceará, onde a população jovem é maioria entre as vítimas de morte violenta. "Quando os homicídios se concentram na juventude, o potencial de vida perdido é enorme", alerta o epidemiologista.
Silva ressalta que, nos casos de aumento da expectativa, a variação é geralmente influenciada por fatores como a tecnologia aplicada à saúde, a exemplo da descoberta de vacinas. Já a mortalidade prematura pode decorrer da falta de acesso a essa promoção de saúde, que resulta no desenvolvimento de doenças crônicas, além da "inequidade" (tratar igualmente os desiguais) e desigualdade social.
"As doenças crônicas também matam de maneira desigual. Embora a causa da morte seja, eventualmente, a mesma, o morador de um bairro rico, por exemplo, morre por um AVC aos 90 anos, enquanto o de um bairro pobre morre aos 45. Infelizmente, a população menos favorecida, com mais frequência, se alimenta mal, não tem acesso ao médico, não controla a pressão, fuma mais", conclui.

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