terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Mourão cogita afastamento de diretores da Vale

SEGUNDO a Defesa Civil, 135 pessoas estão desabrigadas  Mauro Pimentel / AFP
SEGUNDO a Defesa Civil, 135 pessoas estão desabrigadas Mauro Pimentel / AFP
O presidente em exercício, general Hamilton Mourão, afirmou ontem que o gabinete de crise do Governo Federal estuda a possibilidade de a diretoria da mineradora Vale ser afastada de suas funções durante as investigações sobre o desastre que aconteceu na sexta-feira passada em Brumadinho.
"Vamos aguardar quais são as linhas de atuação que eles estão levantando", disse a jornalistas ao deixar o Palácio do Planalto. Mourão, no entanto, admitiu não saber se o grupo pode fazer tal recomendação. "Tenho que estudar, não tenho certeza", afirmou.
BOMBEIROS continuam buscas, agora com apoio de brigada enviada por Israel Mauro PIMENTEL/ AFP
BOMBEIROS continuam buscas, agora com apoio de brigada enviada por Israel Mauro PIMENTEL/ AFP
O gabinete de crise se reuniu na manhã de ontem. Participaram da reunião os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, de Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, de Minas e Energia, Almirante Bento, e de Defesa, Fernando Azevedo.

O governo, porém, não tem poder para destituir diretores na empresa, mesmo tendo uma "golden share" (ação especial que dá direito a, por exemplo, vetar alterações no nome ou mudança de sede da empresa). A decisão teria de ser tomada pelos acionistas Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), Bradespar (braço de investimentos do Bradesco) e a japonesa Mitsui. Previ e Bradespar não comentaram o assunto.

Mourão defendeu uma punição rigorosa para os culpados, inclusive criminalmente. "Primeiro a punição que dói no bolso, que já está sendo aplicada; e segundo, se houve imperícia, imprudência ou negligência por parte de alguém dentro da empresa, essa pessoa tem que responder criminalmente. Afinal de contas, quantas vidas foram perdidas nisso daí?", disse.

O número de mortos após o rompimento da barragem da Vale subiu para 65, segundo o boletim da Defesa Civil de Minas Gerais divulgado na noite de ontem. Dos 65 mortos, 31 foram identificados. O órgão informou que há 279 pessoas desaparecidas e 386 foram localizadas, entre funcionários da Vale e moradores da região. Há ainda 135 desabrigados. Segundo a Defesa Civil, foram resgatadas com vida 192 pessoas.

Ontem, no primeiro dia de mercado financeiro aberto após a tragédia, a Vale foi fortemente castigada na Bolsa. As ações da mineradora fecharam em queda de 24,5%, e a empresa perdeu nada menos que R$ 71 bilhões em valor de mercado (foi de R$ 289,7 bilhões na quinta-feira para R$ 218,7 bilhões ontem). Mas a pressão em cima da companhia não veio só do mercado financeiro. Cresce cada vez mais o cerco sobre a mineradora, com praticamente toda a sociedade cobrando uma punição exemplar.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também se pronunciou: "É preciso responsabilizar severamente, do ponto de vista indenizatório, a empresa que deu causa a esse desastre e promover também a punição penal".

No lado financeiro, a Vale já viu a Justiça bloquear mais de R$ 12 bilhões de seu caixa para garantir o pagamento de indenizações com a tragédia. O diretor financeiro da Vale, Luciano Siani, anunciou ontem a doação de R$ 100 mil para cada família das vítimas fatais e desaparecidos. Ele esclareceu que o dinheiro será doado para "aliviar os problemas de curto prazo" dos atingidos e não será contabilizado como indenização. 

(das agências)

Números

279 pessoas estão desaparecidas, de acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais

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