Assim como em 2014, o Brasil segue dividido em mais uma campanha presidencial. Se há quatro anos a disputa era entre projetos de governo, neste ano vai muito além.
A decisão do voto, agora, passa pelo ódio ao PT, representado por Fernando Haddad, e aversão ao que representa Jair Bolsonaro (PSL). No discurso de vitória da última disputa, a então presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) prometeu trabalhar pela união do País. Dois anos depois foi deposta acusada de cometer crime de responsabilidade.
Depois do próximo domingo, 28, o desafio colocado para quem vencer a eleição é, com o respaldo popular, garantir o funcionamento das instituições para consolidar as bases da união nacional. A opinião é do decano da Câmara dos Deputados, Miro Teixeira (Rede-RJ).
Em entrevista ao O POVO, o parlamentar se diz "otimista" do porvir apesar da instabilidade política e econômica. Para ele, o eleito deverá cumprir a Constituição, como garantir a liberdade de imprensa e o espaço ao contraditório. "Ele (o eleito) tem que honrar o juramento dele de cumprir a Constituição", sintetizou. A declaração do veterano ocorre na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal reage a ataques ao Judiciário.
Ainda de acordo com o deputado, que participou da construção da Constituição de 1988, o respaldo do presidente eleito não virá apenas das urnas, mas da postura que tiver à frente do Palácio do Planalto. "O presidente que não rouba nem deixa roubar pode se relacionar muito bem com o Congresso Nacional, contar com o apoio da opinião pública e aprovar projetos úteis na vida do País", opinou.
Mais do que cumprir as leis, o gestor vai precisar lidar com o atual sistema político e o chamado governo de coalizão. Bolsonaro, que se vende como "o novo", renegando conchavos políticos e distribuição de ministérios com os aliados, é uma incógnita quando o assunto é articulação.
Para o professor Rafael Silveira e Silva, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, os poucos projetos aprovados pelo presidenciável nos quase 30 anos como parlamentar não traz de forma clara essa capacidade de diálogo para aprovar as reformas. Nesse caso, seus interlocutores é que terão que entrar em campo.
"Não temos informações suficientes do traquejo político dele para lidar com diferentes posicionamentos numa Presidência da República. A forma de conduzir a campanha desfavoreceu uma visão muito mais clara daquilo do que poderíamos entender de Jair Bolsonaro", comenta o especialista.
Sobre o adversário de Bolsonaro, Silveira lembra a falta de controle de Haddad com o próprio partido, que historicamente tem dificuldade de ceder em negociações. A alta rejeição da legenda no País também é um entrave para o ex-prefeito de São Paulo caso consiga vencer a eleição. "Essa dificuldade (nas negociações) só foi vencida durante a presidência de Lula.
Não entendo que o Haddad tenha essa liderança dentro do PT", explica.
O professor de Direito Eleitoral do CERS Cursos Online, João Paulo Oliveira, lembrou que a economia será a grande indutora dessa possível união. Com a situação ainda em clima de instabilidade, o novo governante terá que tomar medidas impopulares, na opinião dele, e isso poderá fazer crescer a pressão no governo, somado ao clima de divisão vivido na eleição.
"A primeira medida tem que ser para acalmar os ânimos e tentar fazer o possível para uma união nacional, e para ter um certo tempo de apresentar medidas", argumenta. Oliveira reforça que o discurso adotado em 2014, do "nós contra eles", pode evitar que a possibilidade de união finalmente seja exitosa. "(Nesse caso) Eu não acredito nem que o governo consiga levar esse 2019 com tranquilidade", aponta.
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