Preso há 158 dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu aval ontem para a mudança na cabeça da chapa do partido à Presidência: sai o petista, barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e entra Fernando Haddad, indicado no limite do prazo estabelecido pelo ministro da Corte Luís Roberto Barroso.
Em carta lida durante ato do PT em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula cumpre pena de 12 anos de prisão, o ex-presidente afirmou que, "de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros".
"Quero pedir de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Haddad", acrescentou.
Presente ao evento, a deputada estadual Manuela d'Ávila (PCdoB) foi oficializada como vice na chapa com Haddad, que ocupava o posto até então.
Antes mesmo da substituição, no entanto, Haddad já havia se tornado alvo de ataques dos adversários, sobretudo do presidenciável Ciro Gomes (PDT), com quem o ex-prefeito de São Paulo disputa os votos lulistas, e do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).
Professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer avalia que Haddad entra tarde na disputa.
"Ficou muito tempo sem ser entrevistado e participar de debate. Acho que isso foi um suicídio do partido. Certamente vai prejudicar o desempenho do candidato", afirma.
Para o pesquisador, mesmo o poder de transferência de votos de Lula tem de ser relativizado: "Não vai ter como ele entrar na TV pra convencer o eleitor a votar em Haddad".
Integrante do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares analisa que o ingresso de Haddad na corrida presidencial provoca um rearranjo das forças partidárias.
"Ciro e Haddad vão disputar esse espólio no campo progressista", pontua. Segundo a professora, hoje é improvável que haja um segundo turno entre Haddad e Ciro.
"É uma campanha de lulismo e anti-lulismo", assegura, "mas o segundo turno vai ser centro-direita e o campo progressista".
Deputado federal e candidato a novo mandato, José Guimarães rebate tese de polarização entre Ciro e Haddad a partir de agora. "Nossa polarização é com a direita. Vamos precisar do Ciro no segundo turno", disse.
Questionado sobre críticas do pedetista a Haddad, no entanto, o parlamentar ironizou: "O Ciro fala demais".
O POVO tentou contato ontem com a direção estadual do PDT para comentar os ataques de Ciro contra o substituto de Lula e uma possível mudança de direção na campanha do cearense. As ligações, porém, não foram atendidas.
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