Líder nas pesquisas de intenção de voto, mas diante de um cenário incerto no 2º turno, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) levantou no último fim de semana a possibilidade de haver fraude nestas eleições e reabriu polêmica sobre a segurança das urnas eletrônicas.
A declaração gerou reações, inclusive do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, que já presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e assegurou que as urnas são "totalmente confiáveis". Especialistas ouvidos pelo O POVO afirmam que, apesar de haver falhas pontuais nas urnas eletrônicas, seria impossível fraudar o resultado do pleito.
O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, afirma que as "teses" sobre o risco de fraude "estão afastadas da realidade". "Os fatos são que, em 22 anos de utilização (das urnas eletrônicas), não há sequer um caso de fraude". Conforme Janino, um mito que tentam propagar é que um hacker pode invadir o sistema da urna. "(A urna) Não está ligada à rede ou à internet. Por isso, não é possível um hacker invadir".
Carlos Sampaio, secretário de tecnologia da informação do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), acrescenta que há muitos mecanismos que impedem o acesso à urna ou ao cartão de memória. "Esses saem em envelopes lacrados e numerados. (...) É impossível alguém conseguir fraudar", assegura.
Janino e Sampaio destacam os Testes Públicos de Segurança do Sistema Eletrônico de Votação como mecanismo de aperfeiçoamento e de garantia da segurança.
Diego de Freitas Aranha, professor na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e professor licenciado da Unicamp, liderou um dos grupos de investigadores dos testes realizados em 2017 e conseguiu encontrar falhas no sistema. "Alcançamos o objetivo inédito de conseguir adulterar o software para trocar os programas instalados nas urnas eletrônicas por versões maliciosas", afirma.
Segundo ele, os programas maliciosos podiam, por exemplo, quebrar o sigilo do voto de eleitores específicos, impedir que votos fossem registrados e fazer propaganda de candidatos na tela de votação. "Os problemas são estruturais, e me pergunto que outras vulnerabilidades graves existem".
Contudo, indagado se a descoberta de falhas não coloca em dúvida a segurança das urnas eletrônicas, Janino afirma que o efeito é o inverso. "O Brasil é o único país do mundo que permite que a sociedade possa testar todas as barreiras de segurança e tentar identificar a fragilidade. Isso demonstra a transparência do processo", alega. Segundo ele, após a identificação de falhas, as correções são feitas pelo TSE.
Membro do comitê de tecnologias eleitorais da Sociedade Brasileira de Computação, o professor Mário Gazziro concorda que há "brechas" de segurança, mas acredita que são pontuais. "A gente tem acompanhado, por iniciativa de antigos membros (do comitê), a apuração. Não existe nenhum indício de fraude", pontua o pesquisador.
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