Divulgadas no início desta semana, as últimas pesquisas Ibope e Datafolha apresentaram divergências em alguns resultados, mas ambas apontaram uma queda nas intenções de voto na candidata da Rede Sustentabilidade, Marina Silva. Na pesquisa Ibope, a presidenciável teve declínio de três pontos percentuais (passando de 12% a 9%). No Datafolha, houve uma diminuição de cinco pontos percentuais (caiu de 16% para 11%) no número de eleitores declarando voto em Marina.
Com o avanço de Fernando Haddad (PT), que substituiu Lula na chapa petista, e Ciro Gomes (PDT), Marina Silva está agora "embolada" com os dois e também com Geraldo Alckmin (PSDB) na segunda posição, enquanto Jair Bolsonaro (PSL) continua na liderança. Os levantamentos já consideram o cenário após a cassação do registro de candidatura do ex-presidente Lula (PT) e o ataque a faca sofrido por Bolsonaro.
Os motivos do declínio de Marina ainda não estão evidentes, mas a cientista política e professora titular da Universidade de São Paulo (USP), Maria Hermínia Tavares, aponta alguns fatores que podem ter influenciado a opinião do eleitorado. "Marina tem uma imagem pouco assertiva quando comparada a candidatos que têm mensagem forte e propositiva, como Ciro e Alckmin, ou têm forte identificação com o 'candidato' preferido dos eleitores (Lula), no caso de Haddad", assinala.
A pesquisadora também cita o pouco tempo de propaganda eleitoral da candidata e o tamanho do partido a qual pertence, sem implantação nacional, como possíveis razões.
Membros da Rede Sustentabilidade minimizam os resultados das pesquisas. "Nós estamos dizendo a mesma coisa desde o início: (as pesquisas) têm vida curta, efêmeras", afirma Pedro Ivo Batista, porta-voz nacional da sigla. "Do nosso ponto de vista, não tem queda. Se tiver, está na margem de erro", defende. Contudo, ele admite uma mudança nas estratégias para as últimas três semanas de campanha eleitoral.
A prioridade para presença em debates e sabatinas em emissoras de rádio e TV será reduzida, já que exigiam uma permanência no eixo Rio-São Paulo. A diminuição dessa participação tem um objetivo: liberar a agenda de Marina Silva para viagens ao Norte e Nordeste regiões onde a presidenciável apresentou declínio relevante. Na próxima semana, a ambientalista já deve visitar os estados de Alagoas e Sergipe.
Mesmo sem agenda prevista para o Ceará, a coordenação da Rede no Estado pretende intensificar a ligação da presidenciável com o povo cearense. "Aqui, especificamente, queremos reforçar essa linguagem de que a Marina também é filha da diáspora cearense, (ela) faz parte desse Ceará mais profundo que saiu daqui para ajudar a desenvolver o País", explica Aécio Holanda, secretário de organização da Rede Ceará.
Quanto ao empate com os adversários, Pedro Ivo Batista garante que não há uma estratégia de enfrentamento. "Nem todo adversário é inimigo. Nós vamos enfrentar os quatro com a mesma pegada, que é reforçar a (imagem da) Marina", defende. Para ele, não há um oponente mais direto da presidenciável e o diálogo agora deve ser com aqueles que ainda não se decidiram. "Tem muito mais (eleitores) indecisos do que lulistas, queremos dialogar com esses. (Esses) São críticos dos políticos tradicionais, das oligarquias familiares, dos que sempre dominam a política, sejam de direita ou de esquerda", ressalta.
Para Aécio Holanda, contudo, existe um principal oponente da ambientalista. "Você precisa de uma candidatura que tenha condições de enfrentar essa onda conservadora de extrema direita. Com esses valores, eu vejo a Marina e o Ciro", declara. Para ele, existe uma disputa principalmente pelos votos dos eleitores progressistas. "Teve o momento que o eleitor se conscientizou da saída da candidatura de Lula", explica. "O jogo começa praticamente agora".
O ELEITORADO DE MARINA SILVA
APOIO NÃO CONSOLIDADO
Marina Silva tem o maior percentual (71%) de eleitores em dúvida, tanto na pesquisa Ibope quanto no Datafolha. "A intenção de voto em Marina Silva antes do início do horário eleitoral traduzia apenas o que os especialistas chamam de 'recall', ou seja a lembrança do seu desempenho na eleição anterior. Naquele momento, ela era mais conhecida do que alguns dos outros candidatos, mas não tinha e não tem apoio consolidado", explica a pesquisadora Maria Hermínia Tavares.
A pesquisadora aponta que algo que pode pesar na desconfiança quanto a presidenciável é a falta de assertividade em temas polêmicos.
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