sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Número de pessoas que desistem de procurar emprego bate recorde no Ceará

01:30 | 17/08/2018
Na casa de Kílvia Freitas, de 25 anos, quem está segurando o grosso das contas é o marido. Desde que saiu do emprego de vendedora, há cinco anos, ela sonha em voltar ao mercado. Acreditou, inclusive, que se conseguisse terminar a graduação em Serviço Social seria mais fácil. Não foi. "A resposta é sempre a mesma, que vão retornar e não ligam".

Situações como a Kílvia estão mais comuns no Ceará. No segundo trimestre deste ano, o número de pessoas que estão em idade produtiva, gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar emprego já passa de 368 mil pessoas no Estado. É o maior percentual desde o início da série histórica de 2012, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
São os chamados desalentados, que hoje representam 8,4% da força de trabalho no Estado. A pesquisa revelou que este índice está crescendo rapidamente. Neste segundo trimestre houve um avanço de 11,8% em relação aos três meses imediatamente anteriores e quase o dobro do que se tinha há cinco anos, quando 186 mil pessoas estavam nesta situação.

No caso de Kílvia, ela jogou a toalha há cerca de um ano. Desistiu de distribuir currículos, passou a revender cosméticos para ajudar nas contas, mas ainda é insuficiente. Acredita que uma nova graduação, desta vez em Psicologia, reserve planos melhores. "A gente vai se virando como pode, mas a sensação é de impotência, tudo é muito difícil".

E não é só no Ceará que esse cenário permanece. Das 27 unidades federativas do Brasil, 11 atingiram o pior percentual de desalentados neste trimestre e em outros nove o recorde foi batido no imediatamente anterior. Já são mais de 4,8 milhões de brasileiros em desalento. Um incremento de 203 mil pessoas do que se tinha de janeiro a março deste ano.

"Como em qualquer fila muito grande, chega uma hora que a tendência é desistir. E isso se deve há vários fatores: os sucessivos 'nãos', a falta de experiência, porque é muito jovem ou muito idoso, ou muitas vezes porque o próprio custo de sair da sua casa e tentar um emprego já não é possível de arcar e isso é muito preocupante", explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Segundo ele, o desalento é uma das razões que mais contribuíram para a recente queda da taxa de desocupação no País. No Ceará, este índice caiu de 13,2% para 11,7% no comparativo do segundo trimestre deste ano com igual período de 2017. "Parece uma coisa boa, mas a realidade é mais complexa. Subiu, por exemplo, também a taxa de subocupadas e aquelas que estão na força de trabalho em potencial. É uma situação bastante complicada que vem junto com a crise econômica e às vésperas de uma eleição", avalia.

A taxa de subutilização da força de trabalho no Brasil encerrou o trimestre em 24,6%, o equivalente a 27,6 milhões de pessoas que se encontram desocupadas e subocupadas por insuficiência de horas, além da força de trabalho potencial. No Ceará, esse número atinge 1,3 milhão.

O analista de Mercado de Trabalho do Sine/IDT Ceará, Erle Mesquita, reforça que, hoje, um em cada cinco desempregados no Estado estão fora do mercado há mais de dois anos. "São mais de 97 mil pessoas. É um número estarrecedor, porque significa dizer que estas pessoas já sequer estão tendo acesso ao benefício do seguro-desemprego. É preciso repensar as políticas públicas para além do incentivo ao crescimento econômico", acrescenta.

Gênero e cor
O desemprego no Brasil atinge principalmente mulheres e negros. A Pnad do 2º trimestre mostra que, enquanto a taxa de desocupação entre brancos (9,9%) ficou abaixo da média nacional (12,4%), a de pretos e pardos são, respectivamente, de 15% e 14,4%. Entre as mulheres é de 14,2% e homens 11%.

NÚMEROS

11
unidades federativas, das 27, atingiram pior nível de desalentados.

11,7%
É a taxa de desocupação do CE no 2º trimestre deste ano ante o 2º de 2017.

1,3 mi
Número de cearenses subutilizados (desocupados e que trabalham menos do que gostariam)

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