O cenário eleitoral deste ano, marcado pela incerteza, começa a se desenhar com a chegada do período de convenções partidárias iniciado hoje. Os eventos que oficializam candidatos e alianças políticas para as próximas eleições podem ocorrer até 5 de agosto, conforme a Justiça Eleitoral, e deve intensificar bastidores dos partidos com o arremate de apoios iniciados na pré-campanha.
Na teoria, as convenções deveriam ser o momento em que filiados ou delegados dos partidos escolhem os candidatos que disputarão o pleito. Contudo, na prática, os eventos são demarcadores oficiais do início das campanhas, além de exporem quais alianças vingaram ou não.
No cenário nacional, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) dá o pontapé com evento marcado para hoje em Brasília. Diferentemente dos outros postulantes ao Planalto, que atrasaram propositalmente as convenções para ganhar tempo nas definições das alianças, Ciro decidiu se adiantar ainda esperando a decisão do PSB e dos partidos do Centrão. Estes últimos decididos a firmar aliança com Geraldo Alckmin (PSDB).
O tucano, assim como Marina Silva (Rede) e o PT, que tenta emplacar a candidatura de Lula, preferiram deixar o evento para a véspera do prazo legal de realização dos eventos (ver infográfico).
No âmbito estadual, os partidos também têm mantido cautela, principalmente pelas siglas que compõem a base do governador Camilo Santana (PT). Isso porque ainda se espera uma definição sobre a formação de aliança eleitoral entre o petista e o senador Eunício Oliveira (MDB), que tem a vaga na chapa eleitoral disputada por PT e PDT.
O próprio governador admitiu em entrevista ao O POVO, na última terça-feira, 17, que este período pré-convenção servirá para manter o “diálogo” em torno da formação da aliança. Em razão disso, o MDB ainda não fixou data para realizar convenção e os petistas marcaram o evento para o último dia do prazo legal.
Conforme o cientista político Josênio Parente, o período das convenções já era marcado pela intensificação das articulações políticas pela proximidade dos prazos legais da campanha, mas o especialista observa que o cenário eleitoral deste ano, marcado por incertezas, pode ter agravado o processo.
“Esse cenário, da forma como está, não é comum. A incerteza dominou todo o processo. Nacionalmente, a gente teve a presença de Lula que até agora existe como indefinição como candidato ou não, o que influenciou o cenário”, afirma.
Também cientista político, o professor Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entende que as definições de alianças tendem a se estender neste período, principalmente, por não serem decididas por democracia interna nos partidos e, sim, por avaliações de cúpula.
“Esse sistema está longe de ser o que a sociedade minimamente ativa precisa. Só mostra como os partidos são ilegítimos nesse processo”, defende o especialista pontuando a falta de prévias partidárias abertas e discussões internas amplas sobre apoios e candidatos.
Decisões internas, baseadas na democracia, é do que sente falta o professor de Direito Eleitoral Bruno Cesar Lorencini, do Mackenzie. “A estrutura dos partidos é totalmente avessa a novas figuras na política e isso está relacionado à falta de democracia interna. O que temos é a prevalência de estruturas oligárquicas dentro dos partidos”. Para ele, ampliar a participação de filiados é o desafio para o processo eleitoral.
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