quarta-feira, 20 de junho de 2018

Retirada de assinaturas de deputados fragiliza CPI da delação

Deputados da base do governo recuaram da ideia de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o instrumento de delação premiada e retiraram as assinaturas, o que pode inviabilizar a proposta.
A ação inicialmente teve o apoio de líderes de diversos partidos, como MDB, PT, PP, PR, PDT, PCdoB e Psol. Mais de 180 deputados haviam assinado o requerimento a favor da criação da comissão, antes do recuo.
Como justificava para a criação da CPI, os líderes registraram que era preciso investigar os “esquemas de venda de proteção em delações premiadas por parte de advogados e delatores no âmbito da Operação Lava Jato e em investigações anteriores”.

Depois de observar repercussão negativa, deputados pediram para retirar assinaturas para investigar a Operação Lava Jato na Câmara dos Deputados. Pelo menos três parlamentares alegaram ter entendido errado o conteúdo da proposta: Rogério Rosso (PSD-DF), Darcísio Perondi (MDB-RS) e Evair de Melo (PP-ES).

Em nota, Perondi disse que foi induzido ao “erro” e não tem como objetivo “desconstruir as delações premiadas e, por consequência, esvaziar a Operação Lava Jato”. “Assinei, mas fui induzido ao erro. Depois que li com mais cuidado as justificativas do pedido, entendi que a CPI em questão não ajuda em nada o Brasil, tampouco o combate à corrupção. Não vou avalizar nenhuma iniciativa, de qualquer partido que seja, que tenha como objetivo atrapalhar o trabalho que vem sendo feito para passar o País a limpo”, disse.
Parlamentares cearenses foram pouco incisivos quanto à polêmica. Os deputados Chico Lopes (PCdoB) e Ronaldo Martins (PRB) admitiram não saber se haviam assinado o texto. Procurados pelo O POVO, ambos pediram para confirmar no gabinete a informação. A confirmação, no entanto, não chegou a tempo da edição desta página.
O comunista, no entanto, disse ser contrário ao método de delação. Relembrando o período da ditadura militar, Chico disse que “todo delator é sem valor” e que o instrumento, em alguns casos, chega a ser uma “sacanagem”.
Martins, por outro lado, se mostrou a favor tanto da CPI quanto do instrumento utilizado pela Operação Lava Jato. “Muitas prisões foram feitas em virtude dessa delação”, defende. Sobre a proposta de comissão, disse que é a “favor de tudo quanto é CPI”.
O deputado federal Aníbal Gomes (DEM) assinou a proposta sabendo do conteúdo do texto. Ele diz que o recuo é um “temor do governo” e que, embora haja pressão do Palácio do Planalto para a retirada das assinaturas, o partido dele não deu a orientação para o recuo.
Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) criticou a decisão de parlamentares de retirarem apoio para a criação de uma Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) para investigar a Operação Lava Jato.
Para o líder petista, que articulou o recolhimento de assinaturas para a instalação da CPI, os deputados se “acovardaram” diante da pressão da opinião pública e de grupos ligados a procuradores e juízes que comandam a operação.
Para que uma CPI seja instalada na Câmara é necessário o apoio de pelo menos 1/3 dos deputados, isto é, de 171 parlamentares. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não se manifestou sobre o pedido. (com agências)

DELAÇÕES QUE MARCARAM O BRASIL
JOESLEY BATISTA
A delação de maio de 2017 foi a responsável pela maior crise política já enfrentada pelo governo Michel Temer e também a mais elaborada com gravações de áudio e vídeo, fotos e até chips nas malas com dinheiro. O depoimento afetou desde Temer a Aécio, Lula, Dilma, Eunício, Serra e outros políticos.
WESLEY BATISTA
Em delação fechada em maio de 2017, Wesley acusou Cid Gomes de ter negociado a liberação de créditos de ICMS da empresa Cascavel Couros, do grupo JBS, em troca de doações à campanha de Camilo Santana ao governo em 2014. Cid nega as acusações e afirma nunca ter recebido "um centavo sequer" da JBS.
SÉRGIO MACHADO
Em fevereiro de 2016, o ex-senador acusou mais de 20 políticos dos principais partidos de receber propinas provenientes de desvios na subsidiária da Petrobras. Em gravações feitas por ele de conversas com Sarney, Renan e Jucá, revelou-se o que seria uma conspiração para barrar a Lava Jato.


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