terça-feira, 1 de maio de 2018

Dia do trabalho: o que ainda precisa avançar após a reforma

O Brasil vive um novo momento nas relações trabalhistas após a reforma da legislação que entrou em vigor em novembro passado. Este é o primeiro Dia do Trabalho após as mudanças. Ainda é necessário avançar, como, por exemplo, na percepção que se tem sobre trabalho e emprego. As empresas e os profissionais ainda se adaptam ao que consideram oportunidade e também precarização.
O mundo do trabalho tem mudado drasticamente nos últimos anos com as relações passando por transformações, avalia Lauro Chaves Neto, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE) e professor na Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Cada vez mais vai se falar mais em trabalho e não em emprego, em oportunidade de geração de renda e não em estabilidade de emprego”, observa.
As mudanças são em todas as profissões. Dessa forma, é preciso que os profissionais também se adaptem. “As relações em que o trabalhador passava 10, 15 anos na empresa estão cada vez mais raras”, pontua o economista.

Para o trabalhador ter sucesso no novo mundo do trabalho, Lauro Chaves recomenda investir em inovação, capacitação e principalmente na rede de relacionamentos, o conhecido networking. “É o que vai gerar o que antigamente se chamava de empregabilidade. Hoje a oportunidade de gerar dinheiro está ligada com a rede de relacionamentos”, avalia.

Além disso, o economista orienta que o profissional desenvolva também múltiplas habilidades para aumentar as oportunidades de gerar trabalho e renda em vários ambientes. “Muitas vezes, a pessoa se especializa demais, mas quando vêm as mudanças tecnológicas podem acabar com o diferencial competitivo”.
O economista também defende como essenciais a Reforma Previdenciária e a Tributária. “Mas têm que ser muito debatidas com a sociedade”. Nessa perspectiva, as eleições representam uma “oportunidade ímpar” para que cada candidato se posicione claramente sobre o assunto e que os eleitores conheçam os pontos de vista nos quais irão votar.
Na avaliação de Erle Mesquita, analista de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), o Brasil atravessa um momento difícil, com instabilidade econômica e política repercutindo fortemente no mercado trabalho. “Além do desemprego elevado, quase 14 milhões de pessoas, temos postos de trabalho precarizado. É um quadro muito dramático”, acentua. Em março deste ano, por exemplo, 36% do total de ocupados eram carteira assinada. Já em março de 2017 a taxa foi maior, 37,6%, lembra o analista.
No primeiro trimestre deste ano, o Ceará somou 2.069 vagas de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Março apresentou o melhor resultado dos últimos oito anos para o mês. Porém, Fortaleza teve o pior resultado dentre os municípios cearenses no saldo de empregos formais, no período. Na modalidade de trabalho intermitente, o Ceará foi o sexto do País, com 171 postos, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Goiás.
A redução dos salários também vem sendo uma realidade. De acordo com Erle, os novos trabalhadores contratados ganham em média 9% a menos do que quem já está contratado. Atualmente, a média salarial no Ceará gira em torno de R$ 1.300. Já no Brasil, o rendimento médio do trabalhador apresentou ligeiro aumento, passando de R$ 2.110 para R$ 2.169 no primeiro trimestre deste ano comparado a 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


2.069
foi o número de vagas somadas no Estado no primeiro semestre de 2018. Para o mês, o Ceará teve o melhor resultado dos últimos oito anos.

171
postos de trabalho intermitente foi a fatia local no saldo nacional de 3199 empregos, ficando atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Goiás.

274
vagas de empregos formais (com carteira assinada) foram reduzidas em Fortaleza. Foi o pior resultado dentre os municípios cearenses, para o mês de março deste ano.

13,7mi
de pessoas estão desempregadas no Brasil após o aumento de 13,1% em março. Trata-se da 3ª alta trimestral seguida e do maior nível desde maio do ano passado. O número de trabalhadores com carteira é o menor da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012.

456
postos foram perdidos na Agropecuária no Estado, sendo o setor com o pior desempenho.

No País, os setores que tiveram saldo negativo de emprego foram a agropecuária (17.872 postos) e o comércio (5.878).

442
postos de trabalho no regime parcial foram contabilizados no Ceará. O saldo nacional registrado é de 3.193 empregos, deixando o Estado em segundo lugar, atrás apenas de São Paulo.
O DIREITO AO LONGO DA HISTÓRIA
1886

A comemoração do 1º de maio como Dia do Trabalho remete à greve operária de 1886, em Chicago (EUA). Mais de 500 trabalhadores ocuparam as ruas por melhores salários e condições. A principal bandeira era a redução da jornada de 15 para oito horas diárias.


1891
No Brasil, uma das primeiras normas foi o Decreto nº 1.313/1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos que em fábricas no Rio de Janeiro, então capital.
1934
A primeira constituição a tratar de Direito do Trabalho no Brasil foi a de 1934. Dentre outros pontos, o texto assegurou a liberdade sindical, salário mínimo, jornada de oito hora.
1943
Em 1º de maio de 1943, foi assinado o Decreto-Lei nº 5.452 que estabeleceu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que até hoje garante direitos básicos e essenciais para o trabalhador.
1964
Durante o golpe de 1964, intervenções foram feitas contra sindicatos. A maior delas foi o decreto nº 4.330, a lei antigreve, que impôs tantas regras que, na prática, greves ficaram proibidas.
2018Alguns dias após a reforma trabalhista entrar em vigor, o presidente Michel Temer assinou a Medida Provisória 808/17 para regulamentar pontos controversos da lei. Porém, a MP não foi votada e perdeu a validade no último dia 23 de abril. 2017No dia 11 de novembro de 2017 entrou em vigor a reforma trabalhista. O texto trouxe várias alterações em relação a férias, jornada, remuneração e plano de carreira.

BUSCA
Carolina Lima, 24, está há sete meses em busca de oportunidade de trabalho na área de vendas, na qual já tem boa experiência. Em vez de entregar currículos, a paulista, que está em Fortaleza há três anos, aposta na rede de relacionamentos. “Há muita chuva de currículo. Tenho entrado em contato com pessoas e os conhecidos vão me informando das vagas”. As ofertas de trabalho, porém, apresentam incompatibilidade de carga horária e salário, avalia Carolina, o que a tem levado a pensar em firmar vida fora do Brasil. “Estou desapontada a ponto de rever finanças e querer sair do País para tentar algo fora”. O plano de futuro é o que traz perspectiva e tem motivado a vendedora.
RECOLOCAÇÃO
Jamerson Thomeny, 36, estava há um ano e meio procurando emprego. Após participar de várias entrevistas, o Dia do Trabalho vem com uma boa notícia. Ele inicia na quarta feira como técnico de atendimento na Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). “Eu já estava desesperançoso e aí me ligaram. Eu sabia que uma hora ou outra ia surgir oportunidade”. Jammerson cursa Análise e Desenvolvimento de Sistemas e tem 20 anos de experiência na área de tecnologia da informação (TI). A experiência anterior foi investindo na área como microeemprendedor individual (MEI), mas o mercado foi se tornando fechado. Aos que estão na busca por recolocação, Jamerson incentiva a persistir. “Não percam a esperança, uma hora ou outra a porta vai se abrir”.
PRIMEIRO EMPREGO
Ao ver uma postagem no Facebook sobre o Programa Jovem Aprendiz Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), João Marcelo Filho Sales, 18, resolveu se inscrever e foi selecionado para estudar e praticar a atividade de Operador de Processo Siderúrgico na CSP. Logo após concluir o treinamento, o jovem foi contratado como Operador de Produção Trainee no Alto-Forno da siderúrgica. “Estudei o Ensino Fundamental em Parada e o Ensino Médio no Pecém. Tive na CSP minha primeira oportunidade com carteira de trabalho assinada”. Seis meses depois de ser efetivado, João Marcelo passou para Operador de Produção 1, realizando a função de granular a escória, coproduto do aço que é beneficiado e vendido para cimenteiras. “Eu não me imaginaria com 18 anos estar trabalhando em uma empresa de nome”.
Sindicato
Mais do que nunca precisamos estar unidos para lutar contra as mudanças na legislação trabalhista, que retiram direitos dos trabalhadores. Vamos unir nossas vozes contra esta política econômica equivocada, que inibe a geração de empregos e os investimentos em infraestrutura.
PAULO PEREIRA DA SILVA (PAULINHO)
Presidente da Força Sindical

Retomada de direitos

O desafio do trabalhador é retomar a busca pelos direitos que perdeu, para reduzir a precarização, voltar a ter carteira assinada em contrato com tempo indeterminado e voltar a ter reajuste com ganhos reais. É pela organização sindical que o trabalhador vai conseguir a retomada. Ou então, elegendo melhor os representantes políticos. As mudanças na legislação não beneficiam os trabalhadores, somente o capital.

EDIRAN TEIXEIRA
Economista do Dieese

Avançar no debate

O que foi feito na reforma traz alguns avanços e traz enormes problemas, e talvez a precarização de algumas relações de trabalho. A realidade está em processo de mudança e a legislação tem que acompanhar a realidade e não o contrário. No Brasil, querem que a realidade se molde à legislação. Para ser mais eficiente e proativo para o desenvolvimento da economia, temos que debater. Nesse sentido, destaco o papel do Corecon-CE.

LAURO CHAVES NETO
Presidente Corecon-CE

Comércio
A reforma veio no momento importante em que o Brasil precisa gerar emprego e renda, melhorar o desenvolvimento da pequena e média empresa. Veio desburocratizar. Antes, o vendedor tinha que ser celetista, hoje pode ser pessoa jurídica e isso foi avanço. Pode converter os custos em benefício para o PJ.
ASSIS CAVALCANTE
Presidente da CDL-Fortaleza

Serviços
A reforma foi excelente porque era um setor que estava muito difícil empregar. A pior parte era o processo trabalhista. Para se ter ideia, 40% dos processos trabalhistas do mundo estão no Brasil. Nosso setor é de pequenos e médio empresários, que aos poucos estão começando a retomar a confiança. O trabalho intermitente deve gerar no setor 2 milhões de novos colaboradores no Brasil. Um formato que é absolutamente comum na Europa.
RODOLPHE TRINDADE
Presidente Abrasel-CE

Construção civil
A reforma é interessante para ambas as partes, pois torna as relações mais claras e ágeis, permite terceirização, uma tendência mundial. Diminuiu as reclamações sem procedência, o que demandava tempo do setor administrativo. Infelizmente, a construção civil está passando por crise sem precedência, foi o setor que desempregou mais nos últimos anos no Brasil. Não estamos contratando, mas quando houver retomada vai ajudar o trabalhador.
ANDRÉ MONTENEGRO
Presidente do Sinduscon-CE

CRISTINA FONTENELE

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