quinta-feira, 26 de abril de 2018

Após Lava Jato, Petrobras privilegia medidas para evitar novos desvios

Após o escândalo da Lava Jato, a Petrobras iniciou uma série de mudanças nos processos internos para dificultar fraudes como a revelada em março de 2014 pela operação comandada pela Justiça Federal do Paraná. A estatal passou a privilegiar decisões de colegiados, optou pela clareza dos regime de punições administrativas e tornou mais rígido o processo seletivo de funcionários, em especial para os cargos mais altos.

Na manhã de ontem, o executivo Marcio Campanelli, gerente do setor de Conformidade da estatal, apresentou as medidas durante o Seminário de Perícias de Engenharia da Polícia Federal, realizado em Fortaleza. Campanelli assumiu o cargo em julho de 2015, após a crise iniciada pelo escândalo que envolveu diretores da Petrobras, políticos e empresários.

O executivo foi responsável por aprimorar serviço de “compliance” da companhia, que consiste na criação de normas administrativas para evitar fraudes. Na avaliação dele, as irregularidades envolvendo licitações da companhia permitiram melhorar o controle na estatal hoje. “O que foi revelado na Lava Jato foi muito importante para se entender melhor as situações, tratá-las e fazer o aprimoramento da companhia”, considera.
Por ter envolvido principalmente nomes da direção da companhia, uma das mudanças implementadas foi a criação de comitês de avaliação para investimentos da empresa. “Nenhuma decisão é tomada individualmente”, afirma o executivo. O caminho para aprovar investimentos da empresa envolve agora cinco etapas, pelas quais a proposta é avaliada com base em critérios técnicos.
Além disso, todos os nomes cotados para assumir cargos na companhia, em especial conselheiros e diretores, passam por uma avaliação do setor para detectar conflitos de interesses e outras impossibilidades. “A gente busca informações públicas sobre os candidatos, verificando se existe algum elemento que seja conhecido que o impossibilite de assumir aquela função ou então como a companhia deveria fazer para mitigar o risco”, detalha.

A estatal também decidiu centralizar a área de controle de suprimentos para evitar superfaturamentos e tornou mais rígidas as punições administrativas. Trimensalmente, todos os funcionários recebem o balanço de quantas pessoas foram punidas e por quais motivos.

Conforme Campanelli, ainda que os procedimentos possam impactar na redução das fraudes, eles não diminuem os riscos a zero. “Qualquer processo pode não ser suficiente para prevenção completa, mas quando você cria procedimentos claros, mecanismos de controle, fica muito mais difícil que algo incorreto ocorra”, avalia o executivo. As mudanças, segundo ele, têm sido bem recebidas pelo mercado de capitais, credores e investidores.

Os resultados, porém, são questionados pela Federação Única dos Petroleiros. O diretor Gerson Castellano se queixa em razão de os novos procedimentos ainda não terem sido apresentados à federação.

Considerando a possibilidade de as mudanças serem “retóricas”, ele questiona a indicação de nomes para o conselho administrativo da empresa que assumem cargos hoje.

“Um dos conselheiros foi diretor da Shell por 27 anos. Na nossa avaliação, há conflito de interesses”, afirma. Para ele, os resultados ainda precisam ser mais claros para serem considerados como prática de sucesso.

“Temos dúvidas sobre a eficácia e os reais interesses dessa mudança”, disse o diretor.

DEBATE SOBRE PRÁTICAS
A palestra do executivo Marcio Campanelli fez parte da programação do Seminário de Peritos da Polícia Federal, que começou na segunda-feira, 23

AÇÃO DA LAVA JATO
Iniciada em março de 2014, a Lava Jato foi a maior investigação de corrupção empreendida pela justiça brasileira

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