O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista ao
jornal O Estado de S. Paulo, que o governador Geraldo Alckmin ainda
precisa provar ser capaz de aglutinar o centro do espectro político e de
"transmitir uma mensagem" aos brasileiros para se viabilizar como
candidato do PSDB e de seus aliados ao Palácio do Planalto neste ano.
FHC
foi enfático ao defender Alckmin, mas avaliou que, caso ele não cumpra
essas tarefas, os tucanos podem apoiar outro nome para evitar a
fragmentação do centro, hoje reunido em torno das bandeiras do governo.
"Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa
capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, temos que apoiar
essa pessoa."
A seguir os principais pontos da entrevista:
O senhor tem algum temor em relação a 2018? Está entre os pessimistas ou otimistas?
Tenho,
mas estou no intermediário. Do ponto de vista econômico, estamos
começando a ter um bom momento no mundo. O mundo conta sempre. Há o
momento em que o ciclo é ascendente. Isso ajuda. Nós aqui demos alguns
sinais de melhoria. Se tivermos condição de eleger alguém confiável ao
País, tem possibilidade de um certo avanço no Brasil. Nesse lado sou
otimista. O meu temor é que não se consiga organizar o centro. É preciso
que haja lideranças capazes de organizar. Há o perigo de que um
demagogo dê sensação às pessoas de que vão influenciar a favor dos que
mais precisam. Mas acredito que dá tempo de organizar o centro.
O sr. inclui o ex-presidente Lula nesta lista de demagogos?
O
Lula mesmo se declarou uma metamorfose ambulante. Ele é extremamente
sensível aos estímulos do momento. Sabe se posicionar definindo o
inimigo. Esse inimigo varia, de acordo com o momento. O que ele tem não é
demagogia no sentido banal, mas a capacidade de explicar. É muito
importante em uma sociedade de massa que o líder fale. A sociedade nem
sempre quer ouvir, mas agora está aberta porque está perplexa. É preciso
que alguém toque nas cordas sensíveis à população. O Lula toca de
ouvido. O candidato sem capacidade de expressão tem dificuldade de se
firmar, ainda que esteja certo. Eu não conheço o Bolsonaro. Ele era
deputado no meu tempo e não tinha uma expressão maior. Queria me
fuzilar, mas nunca dei atenção. Não sei o que ele pensa sobre qualquer
tema. Não sei se ele é capaz de expressar o que pensa sobre qualquer
tema. Às vezes a pessoa, mesmo sem ter a capacidade de expressar,
simboliza.
O sr. acha possível em 2018 termos uma candidatura do Planalto e outra do PSDB, com outros partidos apoiando Alckmin?
É
possível, mas não desejável. Chegamos em um ponto em que é preciso
unir, colar. Está tudo muito desagregado. No mundo contemporâneo você
consegue muito mais essa colagem pela mensagem do que qualquer outro
fator, para o bem ou para o mal. Veja o que aconteceu nos Estados
Unidos: o (presidente Donald) Trump colou lá. Na França, o (presidente
Emannuel) Macron também. Cada um de um jeito, com orientação diferente.
Por mais que exista comunicação entre as pessoas, é necessário que
alguém lidere e seja capaz de emitir uma mensagem.
Qual é a mensagem?
Esse
é o ponto. O partido que tiver uma mensagem que pegue no povo. Não é
tanto a mensagem, mas como ela é emitida. No nosso caso, o que é
necessário é ter um novo sentimento de coesão nacional. Não dá para
levar um País de 200 milhões de habitantes na base de fracionar e
destilar uma situação de radicalização, como aparentemente está se
formando. Quem tiver uma mensagem mais abrangente tem mais chance. As
pessoas querem emprego, segurança - que é um tema que não estava na
pauta eleitoral, mas hoje está - e as questões básicas. A mais básica da
agenda do Estado é a educação. Não há emprego possível sem educação. Do
ponto de vista da agenda das pessoas, há também o transporte e a saúde.
O
sr. disse que o pior cenário seria o centro se fragmentar. Se chegar lá
na frente e não acontecer um acordo, se o governo insistir em lançar um
candidato, qual deve ser a posição do PSDB: manter uma candidatura que
mantenha esses valores ou sucumbir e apoiar outra?
Tem que manter a candidatura, mas tem que ter efeito no voto.
Viabilidade eleitoral?
Isso.
Se não vai para a academia. Quem entra na política sai da área de
conforto. Tem que ter capacidade de juntar pessoas com opiniões
diferentes. Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove
essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que
apoiar essa pessoa. Não vejo quem seja.
Então não necessariamente o candidato do centro tem que ser do PSDB?
Tem
que ter um. Espero que esse (candidato) tenha capacidade de aglutinar.
Se houver outro que aglutine, vai fazer o quê? Veja o que houve no Rio:
ficou entre (Marcelo) Crivella (atual prefeito pelo PRB) e (Marcelo)
Freixo (deputado estadual pelo PSOL que perdeu para Crivella na disputa
municipal).
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