Elemento que faltava para a pressão política atingir ápice, grandes manifestações de rua paralisaram ontem Brasília e obrigaram o governo Michel Temer (PMDB) a convocar as Forças Armadas. Com cenas de violência e uma Esplanada dos Ministérios em chamas, protestos levam crise para o “quintal” do presidente e levantam dúvidas sobre sua capacidade de tocar reformas que até agora lhe garantiam sobrevivência política.
Organizado para pedir a renúncia de Temer e protestar contra reformas da Previdência e trabalhista, ato começou pacífico e acabou em conflito após manifestantes alcançarem bloqueio da Polícia próximo ao Congresso. Após horas de confronto, ação acabou com pelo menos 49 feridos - entre eles um homem baleado - e sete pessoas presas.
Conflito maior ocorreu na Esplanada dos Ministérios, com depredação da fachada da sede de sete pastas, além de um incêndio no Ministério da Agricultura. Após acirramento dos ataques, servidores foram retirados e o governo publicou decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) autorizando o uso das Forças Armadas nos atos.
“Em nenhum momento houve iniciativa por parte dos manifestantes. O que vi foi uma PM completamente descontrolada. Começaram jogando spray de pimenta, o que terminou em tumulto”, diz Ana Paula Cavalcante, que acompanhava atos com grupo do Sindicato dos Policiais Civis do Ceará.
Recuando para o gramado do Congresso, manifestantes incendiaram pontos de ônibus e formaram barricadas com banheiros químicos. Já a polícia avançou com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cavalaria.
“Tinha cavalaria, cães treinados, tinha de tudo aqui. Estávamos todos cercados. Vivemos um dia de ditadura”, diz Enedina Soares, presidente da Federação de Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Ceará (Fetamce).
O governo rebate, dizendo que manifestação “degringolou na violência, no vandalismo, no desrespeito, na agressão ao patrimônio público e na ameaça às pessoas”.
Segundo centrais sindicais, mais de 100 mil pessoas participaram do ato. Já a Polícia Militar contabiliza 35 mil. Protestos também foram registrados em outras cidades do País.
Crise sem limites
Convocação das Forças Armadas também gerou tumulto no Congresso, com a oposição travando a pauta da Câmara e do Senado. Depois dos protestos, líder de Temer no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) criticou “marginais” e afirmou que o governo deve seguir com votação de reformas.
Principal fiador de estabilidade no Congresso, o PSDB conteve ontem nova pressão de setores do partido que cobram saída imediata da base.
No Judiciário, a defesa de Temer pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que ele seja interrogado na Corte apenas após a conclusão do laudo no áudio da conversa com o empresário Joesley Batista, o que foi atendido. (com Agência Estado)
CARLOS MAZZA
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