domingo, 14 de maio de 2017

Crise na OI. Comunidades em risco de isolamento

JULIO CAESAR
JULIO CAESAR
Antônia Lindalva de Almeida acorda cedo. Antes das 5h, ajuda o marido nas obrigações do roçado, em Deputado Irapuan Pinheiro, a 330 quilômetros de Fortaleza. Na alternância do cabo da enxada, o arado e o cuidado com os animais, o alento da agricultora é conversar com o filho que está em São Paulo. Usa o celular que comprou há quatro anos. Não é um aparelho moderno, cheio de funcionalidades. “Só uso mesmo para falar com ele. Antes conversava a cada 24 horas. Agora a gente se fala a cada quatro dias. Está muito ocupado com o barzinho dele”, orgulha-se ao falar  do trabalho do rebento empreendedor. 
A conversa entre mãe e filho está ameaçada. Depende da solução de um impasse de R$ 65 bilhões, do qual Lindalva nunca ouvira falar. O valor é o montante de dívida da Oi, única operadora com torre de comunicação ativa no município, que passa por um processo de recuperação judicial desde junho de 2016. “A gente não sabia que a empresa passava por essa situação. Deus me livre que isso aconteça. Ela é muito boa. Saindo daqui, acabou. A gente não vai poder se comunicar”, lamenta.  
As alternativas para a empresa, que também é a concessionária de telefonia fixa, são: reestruturar-se financeiramente ou, na pior das hipóteses, ter sua outorga extinta pelo Governo e ser fatiada entre os grandes grupos. O borracheiro João Barros, conhecido como Adolfo, não espera que a empresa encerre o sinal hoje existente na zona rural de Irapuan Pinheiro.
“Problema todo mundo tem, não é? Mas acho que ela passa por isso”, afirma otimista. Ele usa o celular que comprou há sete anos para se comunicar com os irmãos, que também estão em São Paulo. “Aqui e acolá, eles ligam. Se ela sair e não entrar outra, o negócio vai desandar. Resolvemos tudo por telefone”, disse. O celular o ajuda no serviço da borracharia. “Alguém teve um problema no pneu, eu vou lá e ajeito. Pode ser em qualquer lugar. O pessoal me liga e a gente vai lá consertar. Sem telefone, vai ficar difícil ganhar um dinheirinho”.
ÁTILA VARELA

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