O PLACAR
A reforma trabalhista passou com 296 votos entre 513 deputados. Muito mais que o necessário. Considerado o quorum, 237 seriam suficientes. Portanto, foram 59 a mais do que o governo precisava. Vitória bastante folgada.
Porém, essa matemática não é tão simples. Como mencionado acima, o governo não queria apenas - nem principalmente - aprovar a reforma trabalhista. Queria também mostrar que tem força para mexer na Previdência. Essa última votação se trata de mudança constitucional. Precisa, então, de 308 votos. Faltaram 12 votos para a base aliada chegar a isso.
É muito? Não. Com articulação afinada e uso dos tradicionais instrumentos de convencimento e pressão, não é nada impossível. Um aspecto para mensurar a maior ou menor dificuldade é saber o quanto de sua força e peso político o governo usou. Se deixou margem de expansão, não haverá sobressalto. Porém, se o Planalto já jogou com todas as armas, se está perto de seu teto de votos, poderá ter muitos problemas.
Porque, se é mais importante, a reforma da Previdência é ainda mais rejeitada e terá mais dificuldade de conseguir adesões.
AS RESISTÊNCIAS
A reforma trabalhista é polêmica e sofre muitas resistências. A da Previdência é muito mais. Há parlamentares que votaram a favor da primeira, mas são contra a segunda. Mexer nas aposentadorias precisa de mais votos do que o governo teve para mudar a CLT, ao mesmo tempo em que tem mais dificuldades de obter adesões. A oposição popular é maior, a percepção do impacto na vida das pessoas, a concretude dos problemas decorrentes.
Pela forma como o quadro está posto, a reforma da Previdência está mais perto de ser aprovada do que de não ser. Daí a ser fácil há longo caminho. O governo ainda não tem votos e precisará negociar bastante para consegui-los.
Há dois caminhos a percorrer: um é ceder mais e aceitar mudar a proposta de reforma. Isso já foi feito, mas pouco surtiu efeito do ponto de vista de vencer resistências. É pouco provável que o governo flexibilize ainda mais. A outra possibilidade é a velha distribuição de cargos e benesses.
Aqui com meus botões, acredito muito mais no uso da segunda estratégia que no da primeira.
DE ONDE SE TIRA E PARA QUEM SE DÁ
Justiça não está atrelada, ou não deve estar, a decisões de governo. Se há um direito, ele deve ser respeitado, independentemente de políticas. Mesmo assim, há coisas incompreensíveis no contexto em que se vive e no rumo que as coisas tomam. O governo Michel Temer (PMDB) assumiu com discurso de austeridade, de ajuste fiscal e corte de gastos. Não fez isso na prática e nem prevê fazer até o fim da gestão. Basta observar que a previsão de déficit para este ano é de R$ 139 bilhões e, para o ano que vem, R$ 129 bilhões. Não se avançou nem há previsão para isso. Mesmo assim, o discurso é de cortar, cortar, cortar. A reforma trabalhista flexibiliza direitos dos trabalhadores. Por flexibilizar entenda-se sempre para menos, nunca para mais. A reforma da Previdência torna mais difícil se aposentar. É estabelecido teto de gastos que restringe investimentos públicos.

Pode até estar dentro da lei, mas justo não é.
ÉRICO FIRMO
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