sexta-feira, 31 de março de 2017

Sesa investiga quadros neurológicos associados ao Aedes

Com aumento de 722% dos casos em menos de dois meses, a febre chikungunya, assim como dengue e zika, pode estar associada a manifestações neurológicas como a encefalite — doença caracterizada por inchaço e inflamação no cérebro. O surgimento de pacientes com doenças neurológicas (como meningoencefalite, mielite e Síndrome de Guillain-Barré) associadas a infecção viral anterior também tem sido registrado em locais de circulação do vírus zika concomitante com dengue ou chikungunya. As informações são do último boletim de arboviroses publicado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), no último dia 24.

“Ainda estamos na fase de buscar correlações entre formas mais graves da doença e algum fator desencadeante das manifestações”, explica o infectologista do Hospital São José e presidente da Associação Cearense de Infectologia, Érico Arruda. “Já tivemos pacientes internados no hospital com quadros de encefalite, com diminuição da atividade cerebral e sintomas como dor de cabeça e rebaixamento do nível de consciência”, exemplifica.

De acordo com o relatório da Sesa, será implantada vigilância para “conhecer e confirmar a relação entre manifestações neurológicas e arboviroses”. No Ceará, de maio a dezembro de 2016, foram notificados cinco casos de manifestações neurológicas com histórico de infecção viral prévia. Destes, quatro casos foram classificados como compatíveis e um caso foi confirmado. Em 2017, ainda não há registro de notificação do tipo.

Aumento dos casos
Em menos de dois meses, o número de confirmações de chikungunya aumentou de 227 para 1.876 no Estado. Do total, 1.024 são em Fortaleza. Casos em investigação tiveram aumento de 546%, passando de 1.341 para 8.667.

Dos casos confirmados, 67,7% concentraram-se na faixa etária entre 20 e 59 anos, e 61,4% são mulheres.

De acordo com a coordenadora de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, o aumento se dá devido ao tempo de sazonalidade da doença, relativo ao período de chuvas, calor e umidade. Segundo ela, a suscetibilidade da população à chikungunya, tendo em vista que é uma doença recente, também é uma das razões.

Segundo Daniele, no entanto, a situação do Estado ainda é de “baixo risco”. “A incidência é de 93,7 casos suspeitos por 100 mil habitantes”, detalha. Ela cita que existem municípios com cenário de alto risco, com incidências acima de 300 casos por 100 mil habitantes. Aracoiaba, Independência, Ocara, Groaíras, Canindé, Caucaia e Cascavel estão nessa situação. Já Baturité e Pentecoste preocupam pelo elevado número de casos.

O alto número de notificações, diz a coordenadora, é devido à “alta incidência de várias viroses que podem ser confundidas pela sua sintomatologia”. “A notificação é feita diante da simples suspeita. Para confirmar deve-se utilizar o critério laboratorial ou por vínculo com outros casos que tiveram confirmação laboratorial, e ainda pela clínica”, esclarece.

Exame
Para a confirmação da febre, é necessária a realização de exame sorológico específico para a doença. De acordo com Érico Arruda, “geralmente quem tem um quadro mais brando da doença não realiza o exame para confirmar a doença”.

Ainda segundo Daniele, a Sesa dispõe de um plano de Vigilância e Controle das Arboviroses, lançando no fim do ano passado, para auxiliar as Coordenadorias Regionais de Saúde e municípios nas ações de enfrentamento. “É realizado um monitoramento semanal da situação epidemiológica dos municípios, gerando cartas de alerta a todos os que se encontrarem em situação de risco aumentado para arboviroses”, cita.

Saiba mais
Segundo a Sesa, casos suspeitos são caracterizados por febre de início súbito, maior que 38,5° C, e dor articular ou com artrite intensa de início agudo, não explicado por outras condições, sendo o paciente residente ou tendo visitado áreas endêmicas ou epidêmicas até duas semanas antes de início dos sintomas ou que tenha vínculo epidemiológico com caso confirmado.
ANA RUTE RAMIRES

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