No mundo todo, foram 1.000 os padres escolhidos pelo papa Francisco para serem os Missionários da Misericórdia. São mensageiros eleitos pelo pontífice como parte da Igreja missionária, como prega o papa. Desses, sete são cearenses. E um deles, o padre Rafhael Silva Maciel, membro da Arquidiocese de Fortaleza, conversou com O POVO, por email, da Itália, para onde foi receber a bênção papal e o envio oficial como Missionário. Uma das atribuições dos Missionários da Misericórdia é poder absolver pecados que só a Santa Sé pode perdoar. São os chamados “crimes canônicos”. Nesta entrevista, padre Rafhael discorre sobre sua nova missão, a misericórdia e o canal Jubileu 16, que criou no YouTube para evangelizar.
O POVO – Do encontro com o papa Francisco, ao enviar o senhor e os outros sacerdotes como missionários, qual mensagem do papa foi mais marcante para o senhor?
Padre Rafhael Maciel – Toda e qualquer mensagem do papa Francisco é marcante, impressiona pelo modo direto e enfático como ele fala. Mas uma coisa logo no início da fala do papa, na audiência do dia 9 de fevereiro, com os Missionários da Misericórdia, chamou minha atenção ao dizer que todos nós deveríamos ser “o rosto materno da Igreja” para tantos quantos nos procurem. Textualmente, disse o papa Francisco: “neste ministério [Missionários da Misericórdia], sois chamados a exprimir a maternidade da Igreja. A Igreja é Mãe porque gera sempre novos filhos na fé; a Igreja é Mãe porque nutre a fé; e a Igreja é Mãe inclusive porque oferece o perdão de Deus, regenerando para uma nova vida, fruto da conversão”.
O POVO – Do encontro com o papa Francisco, ao enviar o senhor e os outros sacerdotes como missionários, qual mensagem do papa foi mais marcante para o senhor?
Padre Rafhael Maciel – Toda e qualquer mensagem do papa Francisco é marcante, impressiona pelo modo direto e enfático como ele fala. Mas uma coisa logo no início da fala do papa, na audiência do dia 9 de fevereiro, com os Missionários da Misericórdia, chamou minha atenção ao dizer que todos nós deveríamos ser “o rosto materno da Igreja” para tantos quantos nos procurem. Textualmente, disse o papa Francisco: “neste ministério [Missionários da Misericórdia], sois chamados a exprimir a maternidade da Igreja. A Igreja é Mãe porque gera sempre novos filhos na fé; a Igreja é Mãe porque nutre a fé; e a Igreja é Mãe inclusive porque oferece o perdão de Deus, regenerando para uma nova vida, fruto da conversão”.
Os sacerdotes nomeados Missionários foram enviados pelo papa Francisco em cerimônia na Basílica de São Pedro, no Vaticano; na foto, os padres cearenses
OP – Como o senhor define a misericórdia, tão falada neste ano dedicado a ela pela Igreja?
Padre Rafhael – Misericórdia significa ver a miséria do coração; sentir a miséria do coração do outro. Assim, misericórdia é colocar-se no lugar do outro nas diversas situações que esteja vivendo e olhar para essa pessoa com compaixão, que quer dizer sentir a dor dessa pessoa, sofrer com ela – compadecer: padecer com. Ser misericordioso não é sentir pena, algo distanciado, mas colocar-se junto. Ser misericordioso não é “passar a mão na cabeça” e dizer “tudo bem, continue assim”. Não! Misericórdia é acolher a pessoa, com a sua dor, do jeito que ela está, e ajudar essa pessoa a encontrar caminhos, saídas, para uma vida mais digna. Todos nós somos necessitados de misericórdia. Não há ser humano na face da Terra que não seja necessitado de misericórdia. Isso porque de algum modo sempre trazemos no nosso coração humano feridas que precisam ser curadas, desde o mais rico até os mais pobres. Desde nossas periferias existenciais, cada pessoa é destinatária da Misericórdia de Deus.
Ocorre que algumas pessoas são os primeiros alvos da misericórdia. Os mais pobres, os esquecidos, os excluídos. A esses, o Senhor nos envia como opção preferencial. Os pobres não são os únicos necessitados de misericórdia, mas devem ser os primeiros. Assumir isso significa aproximarmo-nos deles, conhecê-los, defendê-los, acompanhá-los, aprender deles. Mas repito que todos somos necessitados de misericórdia!
OP – Qual é a maneira de viver bem esse período de misericórdia e Quaresma, aliado aos cuidados com a nossa Casa Comum, segundo recomenda a Campanha da Fraternidade deste ano?
Padre Rafhael – Primeiro, quero lembrar que o tempo da Misericórdia será sempre, por mais que o papa esteja nos chamando a vivê-la de modo especial durante todo o Ano da Misericórdia. Mas, de algum modo, ao entrarmos no tempo litúrgico da Quaresma, somos convidados a vivermos de modo ainda mais especial o dom a Misericórdia Divina. Na Quaresma de modo particular, é-nos feito o convite a experimentarmos a força renovadora da misericórdia pelo Sacramento da Reconciliação. Somos convidados a confessar nossos pecados porque, sinceramente arrependidos, queremos sentir o abraço de Deus pelo perdão sacramental. Ainda somos convidados a praticar a caridade, sermos agentes de uma caridade ativa, operativa – ou seja, uma caridade não só das palavras bonitas e dos discursos efusivos em favor desse ou daquele, mas a caridade do encontro, do abraço, do olhar nos olhos e dizer para a outra pessoa: “o que posso fazer por você?”, “em que posso lhe ajudar?”. Uma caridade em primeira pessoa, não por delegação.
Quanto à Campanha da Fraternidade, em que a Igreja no Brasil se põe a refletir sobre a questão da Casa Comum, assim chamou o papa Francisco nosso planeta Terra na Encíclica “Laudato Si’”, levemos em consideração que, ao dizer que devemos amar o próximo, esse amor passa pelo próximo, que são as obras da Criação e, mais ainda, cuidando da nossa Casa Comum, estamos cuidando uns dos outros. Afinal, é nessa “Casa” que todos moramos.
OP – Papa Francisco tem repetido, em suas pregações, uma citação bíblica que Deus quer a misericórdia, não o sacrifício. As obras de misericórdia seriam mais importantes que sacrifícios como o jejum, típico deste momento para os católicos?
Padre Rafhael – Precisamos ver o contexto bíblico em que essa sentença foi pronunciada. Jesus, citando o Profeta Oseias (Os 6,6), está falando aos fariseus que cumpriam todos os “rituais”, que não podiam “se misturar com pecadores”, e Jesus está na casa de um pecador público, Mateus. Assim, quando Jesus diz que antes quer misericórdia e não sacrifício, ele está dizendo que as nossas práticas religiosas e penitenciais, como o jejum e a abstinência, devem nos levar à prática da misericórdia para com os demais. Aliás, a prática do jejum e da abstinência deve sempre nos reportar às necessidades dos irmãos e nunca a nos isolar dos outros. O nosso jejum e nossa abstinência devem se reverter em uma das obras de misericórdia corporais: tive fome, tive sede, estive nu, doente, prisioneiro e migrante e fizestes algo por mim. E por outro lado, o jejum e a abstinência devem servir para quebrar o orgulho e o egoísmo que vão por dentro do coração humano.
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