NAS ESCOLAS
Presença de pais cresce, mas ainda longe do ideal
Hoje, eles estão na lista do conselho escolar, da elaboração de projetos, porém a prática se mostra distinta
00:00 · 05.10.2015 por Erilene Firmino - Chefe de produção
Se existe uma lição a aprender no sistema educacional brasileiro é a diferença entre teoria e prática quando o tema é a participação das famílias nas escolas. A matemática dos dados é clara. Nos últimos 25 anos - o estreitamento da relação entre escola e pais se inicia na década de 1990 - só houve avanços. A legislação abraçou a causa. Hoje, os pais integram a lista do conselho escolar, da elaboração dos projetos pedagógicos e podem acompanhar, com mais frequência na escola, a rotina dos filhos. A prática, porém, se mostra distinta.
É tímida a participação familiar. Tanto que, embora a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) e a Secretaria Municipal de Educação (SME) possuam projetos para a área e as escolas particulares mantenham ações com este intuito, vão precisar acelerar os passos para atender ao Plano Nacional de Educação (PNE). Até 2017, ele quer ampliar a participação de alunos e pais na gestão escolar. A dificuldade, contudo, não está em entender a relevância da presença familiar na escola: isto é consenso. Ela está é no como atraí-las e fazê-las permanecer.
Nem sempre os dois lados ficam muito à vontade juntos. Os pais acusam a escola de não os acolherem bem, não levarem suas opiniões em consideração. As direções das escolas garantem sofrer com o descaso dos pais em relação à educação dos filhos: eles os entregam e somem. Só aparecendo quando são chamados. A verdade, acredita a doutora em Educação, Jakeline Alencar Andrade, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), é que existe um jogo do empurra. "A escola espera uma educação que vem de casa e a família espera que a escola eduque". Com isso, lamenta Jakeline, os dois acabam sem se responsabilizar pela educação que é dever de todos: da família, da escola, do Estado e da comunidade.
Independentemente de qualquer acusação, o fato é que, hoje, na prática, o contato entre as escolas e os responsáveis pelos alunos não é muito diferente de quando se começou a discutir a parceria, à exceção da inserção - na rede particular -, do uso das mídias sociais como Facebook, Twitter e Whatsapp para mandar recados. As reuniões bimestrais de pais e mestres continuam como o principal ponto de encontro. O problema é que, como reforça Jakeline Andrade, não há diálogo. "A escola expõe um plano pedagógico, as notas ou avaliações e fica por isso mesmo. Não abre espaço para a fala dos pais". Ela diz que todo projeto de parceria entre as partes precisaria ouvir a comunidade e os anseios dos pais para ter sucesso. "Não ver os pais como apagadores de incêndios a se chamar quando algo não vai bem com esta ou aquela criança".
Condições
Opinião semelhante à da subsecretária de Engajamento Familiar e Estudantil da Prefeitura de Boston, nos Estados Unidos, Michele P. Brooks. Ela, que em setembro participou do Ciclo de Debates em Gestão Educacional, da Fundação Itaú Social, em São Paulo, diz que os pais sempre podem ajudar na educação dos filhos, independentemente das condições socioeconômicas. Para tanto, defende, é preciso ter acolhimento no ambiente escolar e uma relação de confiança com a instituição. "Os pais não precisam ser corrigidos. Não precisamos impor nossas ideias. O que precisamos é do suporte deles no conceito de engajamento, que é um elemento fortalecedor da Educação".
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