domingo, 11 de outubro de 2015

DE VOLTA À CAPITAL

Preciso de um abraço

Com início difícil, Seleção Brasileira se apega ao carinho da torcida cearense para retomar seu rumo

00:00 · 11.10.2015 por Irailton Menezes - Repórter
A derrota para o Chile (2 a 0), em Santiago, na estreia das eliminatórias da Copa do Mundo de 2018 foi o bastante para alarmar a Seleção Brasileira sobre as dificuldades da competição até a reta final, em outubro de 2017. Neste contexto, os jogos em casa são mais do que importantes para o bom desempenho do Brasil a caminho do mundial que será disputado na Rússia.
Já pensando nas possíveis dificuldades, o técnico Dunga e o diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Gilmar Rinaldi, não pensaram duas vezes. Cientes de que o grupo ainda está em formação e a maioria dos jogadores não está acostumado ao clima de "guerra" das eliminatórias sul-americanas, decidiram trazer o primeiro jogo do Brasil para a Região Nordeste, mais especificamente em Fortaleza, onde na próxima terça-feira (13), a Seleção enfrenta a Venezuela, às 22 horas, na Arena Castelão.
Retrospecto
Em toda a história, o Brasil jogou em 10 oportunidades no Ceará. Entre amistosos e jogos oficiais (Copa das Confederações em 2013 e Copa do Mundo de 2014) foram oito vitórias, um empate e uma derrota. Esta, portanto, será a primeira vez em que a Seleção atuará em um jogo válido por eliminatórias de Copa do Mundo em solo cearense. Seria, novamente, uma estratégia para tentar reaproximar o torcedor, diante de uma equipe jovem e inexperiente?
Para o comentarista Sérgio Silva, da Rádio Assunção, em Fortaleza, a escolha se trata de um plano que sempre foi usado em outras situações semelhantes.
"Historicamente, as torcidas do Sul e do Sudeste, principalmente a segunda, têm um comportamento mais crítico no que se refere à Seleção Brasileira. Por conta disso, a CBF, que é detentora das atividades da equipe, costuma fugir daquelas regiões em momentos difíceis e se refugia, de certa forma, no Nordeste. Tem sido sempre assim. Até pelo fato de que a Seleção Brasileira, em outras épocas, era formada por jogadores daquele eixo. Para o Nordeste, sempre foi motivo de festa vir para cá uma Seleção Brasileira, seja em boa ou má fase", considera o cronista esportivo.
Mas como anda a confiança do cearense em relação à equipe nacional? Muitos ainda não conseguiram digerir o maior trauma da história do futebol brasileiro (7 a 1). Mesmo assim, a paixão pelo futebol acaba falando mais alto. "A magia do futebol está presente na alma do torcedor brasileiro, em especial do torcedor nordestino. O clima de hospitalidade e receptividade é essencial neste caminho de retomada da confiança dos jogadores", justifica o comentarista de futebol da Rádio Verdes Mares e da TV Diário, Wilton Bezerra.
Vibração
O apoio do torcedor cearense foi destaque em jogos das Copas das Confederações, em 2013, e do Mundo, em 2014. O gesto do torcedor ao cantar o Hino Nacional a capela, mesmo depois da interrupção do som, por conta do protocolo da Fifa, emocionou os jogadores na Arena Castelão. Contra a Colômbia, por exemplo, nas quartas de final do Mundial, foram mais de 60 mil vozes enaltecendo e contagiando o clima de otimismo nas arquibancadas - Seleção venceu por 2 a 1.
"Para mim, havia em outros tempos aquela conclamação para que se abraçasse a Seleção Brasileira e fizesse com que ela retomasse o caminho das vitórias, ao qual a gente sempre esteve acostumado. Acredito que, hoje, o torcedor cearense, aquele que entende realmente de futebol, não terá um papel tão preponderante para que a Seleção tenha essa retomada. O torcedor sabe que essa geração, que acabou sucumbindo diante da Alemanha, tem muitos resquícios ainda daquela derrota, embora a Seleção esteja procurando uma renovação", opina Silva.
Descrença
A imagem da camisa amarela foi abalada diante do maior escândalo envolvendo dirigentes de futebol de várias partes do mundo, conhecido como "Fifagate". De cara, a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, trouxe um reflexo negativo em termos de credibilidade junto ao torcedor brasileiro.
"A desconexão entre a torcida e a Seleção é enorme. Não só pelo pouco que a equipe produziu em termos positivos dentro de campo, nesses últimos anos, mas também pelo que ocorre nos bastidores do futebol. Temos um ex-presidente preso (José Marin), outro que é perseguido e investigado (Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF) e um que saiu pela porta dos fundos", disse Wilton Bezerra, se referindo por último ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que pediu renúncia em março de 2012, depois de ter ficado no comando por 23 anos.
"Hoje as coisas mudaram. O povo está mais informado. Pode não estar esclarecido, mas está mais informado. Aguardo na próxima terça, no Castelão, pessoas que não são torcedores do dia a dia. Em termos de senso crítico, tenho certeza que o torcedor cearense está ciente de que, hoje em dia, a CBF manda a Seleção para cá em momento ruim", complementa Sérgio Silva.
Enquete
A Seleção ainda tem credibilidade?
"A Seleção tem que melhorar muito. Esse time não tem conjunto e creio que o treinador não vai resistir por muito tempo. A falta de organização é visível e não adianta, ao meu ver, confiar em jogadores sem competência"
Raimundo Melo
Aposentado
"Vejo que o Dunga vai ter muita dificuldade para montar a equipe ideal até o fim da primeira fase das eliminatórias. Hoje, não dá para escalar o time do Brasil. Creio que mais jogadores experientes poderiam ajudar"
Gabriel Vale
Estudante
"Não dá para prever qualquer resultado contra a Venezuela. O futebol sul-americano está nivelado e, pela estreia, a gente viu que o Brasil não está preparado para esse tipo de competição, que cobra muito dos jogadores"
Expedito Rebouças
Administrador
Opinião do especialista
Cearense não guarda rancor
Não resta dúvida que o trauma do 7 a 1 ainda é presente na alma do torcedor da Seleção Brasileira. Houve recentemente o fracasso na Copa América. Sinceramente, não recordo de um momento como esse. A que ponto chegou o nível da Seleção Brasileira em termos de credibilidade para com o seu torcedor?
Então seria necessária essa renovação. E digo mais: uma revolução. Falta zelo, esmero e uma série de fatores para que essa renovação tenha sucesso. Acredito que trazer um jogo desse porte para Fortaleza, mesmo com um adversário sem muita tradição, mas considerando o nível da competição, é uma estratégia para tentar reaproximar o torcedor. A hospitalidade, a cordialidade e a receptividade do povo cearense são essenciais na retomada dessa autoestima e da confiança desses jogadores. Uma geração que está em plena reformulação e não está acostumada a grandes desafios precisa dessa energia.
Infelizmente, vivemos dias difíceis em termos de relação entre torcida e Seleção Brasileira em nível nacional. A prova disso é que a CBF preferiu realizar os últimos amistosos longe de casa, nos Estados Unidos, quando penso que seria importante trazer esses jogadores para perto do torcedor.
Como querer o amor do povo e ao mesmo tempo se afastar dele? Não dá para entender a cabeça dos dirigentes. Está mais do que na hora de recuperar esse prestígio perante o torcedor. E nada melhor do que começar por uma boa exibição aqui no Ceará. Apoio não faltará. Acho que todo o esforço é válido. Pois quando a bola rola, a torcida deixa de lado qualquer indiferença ou atrito. Isso está na alma do nordestino, especialmente do cearense.

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