ALTERAÇÃO
Nova realidade demográfica muda perfil da família no CE
Em 2029, o País deverá ter mais pessoas acima de 60 anos do que de 0 a 14. É o que apontam projeções do IBGE
00:00 · 06.09.2015 por Luana Lima - Repórter
Aos 93 anos, Aída Oliveira Moreira tem sete filhos, 18 netos e dez bisnetos. Esse formato, no entanto, em nada se parece com o novo perfil da família brasileira, que se configura por uma redução do número de filhos - inferior a dois (1,76). Tem ainda um expressivo número de pessoas que não querem filhos. Além disso, a mulher contemporânea estuda e trabalha, e homens e mulheres da classe média casam mais tarde, reduzindo o período de fertilidade.
Essas mudanças no perfil demográfico da população estão previstas em projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão alerta que, a partir de 2043, vão morrer mais pessoas do que nascer. Significa que, a partir daquele ano, a população brasileira deverá começar a diminuir. Neste ano, a estimativa é de 204 milhões de pessoas, saltando para 212 milhões, em 2020, e 228 milhões, em 2040, começando a decrescer a partir de 2044.
O IBGE projeta ainda que, a partir de 2029, o Brasil terá mais pessoas de 60 anos ou mais de idade (40,3 milhões) do que de 0 a 14 anos (39,7 milhões). No Ceará, apesar de o Instituto só ter projeções até 2030, o Estado segue a mesma tendência nacional. De 2000 a 2030, observa-se uma redução no número de nascimentos. Foram 180.124, em 2000, caindo para 146.995, em 2010, 127.055, em 2020, e 113.487, em 2030 - queda de 37% em 30 anos. A taxa de fecundidade também apresentou queda. Era de 2,84, em 2000, diminuindo para 1,55, em 2030 - redução de 45,42%.
Ajuda
Mesmo tendo passado por dois casamentos, Neise Gurgel Moreira, 60, que já trabalhou como atendente de enfermagem e hoje se dedica exclusivamente a cuidar da mãe, o que faz com muita alegria, não teve filhos. Não que não quisesse, mas porque não pôde. Ela observa que as pessoas não querem mais ter filhos. "Lá em casa, éramos sete, mas tinha muita gente para ajudar. Hoje, tem que colocar em creche, é caro, e os pais não sabem com quem a criança fica. No meu tempo, a gente ficava em casa mesmo, não tinha esse negócio de creche", afirma.
Para ela, a nova configuração do núcleo familiar mudou para pior. A convivência da família ficou comprometida e o desejo das mulheres de serem mães, também. Se pudesse, acrescenta, teria tido uns quatro, cinco filhos. "Eu acho bonito família grande", frisa. No entanto, na visão dela, a população está envelhecendo não apenas porque as famílias querem ter poucos filhos, mas por causa da violência, que mata a juventude. "A droga leva a outras coisas, como o mundo o crime, e tem levado os nossos jovens. É só o que a gente vê na televisão: morreu, mataram. Daqui a uns dez anos, vão ficar só os velhos", adverte.
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