Oficialmente, o motivo da visita do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) a Fortaleza na última quintafeira era o lançamento do livro O Erro do Sucesso, escrito por ele. Mas, de antemão, o parlamentar deixou claro que não tinha interesse em falar de seus escritos. Ele queria expressar as angústias em relação às dificuldades da politica nacional
Na semana em que as ruas do Brasil foram ocupadas por manifestações, contra e a favor do governo, o ex-ministro da Educação de Lula, conversa sobre as formas de encontrar equilíbrio em meio à polarização. Ele também aborda pautas polêmicas dos últimos dias, como a Operação Lava Jato, descriminalização do porte da maconha, discutida no Supremo Tribunal Federal (STF), e redução da maioridade penal, aprovada em segundo turno na Câmara.
OPOVO - Qual o papel de um parlamentar como o senhor, que se considera independente, no Congresso atual?
Cristovam Buarque - O papel é puxar o debate para a racionalidade. Sair da irracionalidade em que caiu a política brasileira. Polarizada entre dois extremos que são parecidos. O PT e PSDB não representam pólos opostos. Eles têm o mesmo projeto para o Brasil com meios distintos. O comportamento do PT nesses últimos anos foi vergonhoso, mas a concepção de projeto para o Brasil do PSDB não é muito diferente. Apesar disso, eles se enfrentam como se não houvesse uma coisa maior do que eles dois, que é o Brasil.
OP - Houve uma reunião recentemente dos senadores independentes com a presidente Dilma Rousseff. Do que trataram?
Cristovam - Estivemos com ela seis, de um bloco independente de 15. Eu achava que ela não ia ouvir. Mas lá ela não só ouviu a leitura da carta com nossas recomendações, como debateu por uma hora e meia. Falou, até com simpatia, sobre coisas polêmicas, como admitir o erro e conversar com a oposição. Ela parecia raciocinar sobre tudo aquilo, mas faz mais de uma semana e não vi avanços. Dentre outras coisas, sugerimos que ela dissesse que o seu partido não é o PT e, sim, o Brasil.
OP - O que está faltando no governo para que se possa governar? E na oposição?
Cristovam - Da parte do governo, falta mais modéstia e reconhecimento de equívocos, dizer que precisa de todos. Em nosso encontro com a presidente, sugerimos que ela fosse dialogar com o Congresso. Porque, na tribuna, ela vai ter que falar sem marqueteiro, com sentimento. Já da parte da oposição, é preciso que entendam que, se a gente continuar muito tempo nesse clima, todos vamos perder. Eles têm de esperar 2018, mas dando governabilidade nos próximos meses. E a sensação que a gente tem é que a oposição acha que se der governabilidade vai perder a eleição em 2018. Mas o PT não vai ganhar em 2018 de nenhuma maneira. Aos dois falta sentimento de brasilidade. Falra que cada um assuma que seu partido é primeiro o Brasil.
OP - Como o senhor reage aos pedidos, ainda que dispersos, pela intervenção militar em manifestações de rua recentes?
Cristovam - Para mim, o maior mal que o Lula e o PT fizeram ao Brasil foi ressuscitar a direita, que estava morta. Essas forças voltaram tanto na opinião pública, com saudosismo em relação aos militares, como nas lideranças políticas, através de parlamentares conservadoras que começam a ganhar simpatia do povo, como o Jair Bolsonaro (PP-RJ).
OP - A redução da maioridade penal foi aprovada. Qual o papel do Senado nessa e em outras questões polêmicas que passaram na Câmara dos Deputados?
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