INFLAÇÃO
Estabilidade resultou em nova relação com o dinheiro
22:00 · 22.08.2015
A microempreendedora individual Cristina Borges, 53 anos, lembra bem o que é sobreviver num cenário de inflação. Na década de 1990, antes da implementação do Plano Real, em vez de ser dona do próprio negócio, ela era assalariada e trabalhava na empresa telefônica do Paraná, a Telepar, então vinculada à Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras), que na época controlava várias prestadoras estatais de serviços telefônicos, que atuavam nos estados brasileiros.
"A gente recebia o salário e quando terminava o expediente tinha que correr para o supermercado, enfrentando filas quilométricas, para comprar no mesmo dia, antes que novos preços fossem etiquetados nos produtos durante a noite. Era uma realidade insana", relembra.
Em 1994, depois de ser cedida pela Telebras à Teleceará, Cristina Borges se mudou com a família para Fortaleza e enfrentou outra dificuldade. "Quando chegamos aqui não havia apartamento para alugar, porque as pessoas seguravam seus imóveis esperando uma valorização. Passamos mais de um mês morando em imóvel por temporada. Só conseguimos um lugar fixo em novembro, quando as pessoas começaram a acreditar que a economia estava se estabilizando".
Segundo ela, foi difícil acreditar na nova realidade. "Sou de uma geração em que a moeda era muito desvalorizada. Então foi estranho experimentar a estabilidade. Porque como o dinheiro não valia nada, a gente não guardava nada. Tinha que consumir rapidamente para não desvalorizar. Com o tempo, a gente foi se adequando a situação, passando a poupar e a planejar o futuro", afirma.
Depois da privatização da Telebras, em 1998, ela conta que trabalhou nos ramos de confecção, instalação e manutenção de maquinetas de cartão de crédito, administração financeira na construção civil até ingressar no ramo de alimentação, em 2012. "Trabalhei com cantina, vendendo almoços e lanches, de 2012 a maio deste ano. Foi quando comecei a sentir o peso do aumento nos preços dos alimentos. Tudo subindo e eu sem condições de repassar aos clientes. Trabalhava muito sem retorno financeiro à altura do esforço empreendido. Daí a decisão de fechar a cantina", explica.
Bolo Bordado
A empreendedora optou, porém, em permanecer no ramo de alimentação, mas investindo num nicho específico de mercado: a fabricação e comercialização de bolos de pote, sob a marca Bolo Bordado. "É um produto muito específico. Dá para trabalhar com uma margem de lucro um pouco maior", informa.
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