domingo, 22 de fevereiro de 2015

CONVIVÊNCIA COM A SECA

Estado aguarda repasses da União

22.02.2015

Camilo Santana já foi a Brasília pedir apoio para ampliar carros-pipa e alugar máquinas de perfurar poços

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O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, alerta que cerca de 30% dos poços perfurados no Estado não contêm água
FOTO: ALEX COSTA
Diante da situação alarmante dos reservatórios hídricos do Estado, apresentando bacias com menos de 2% da capacidade de armazenamento, Governo do Estado aguarda verba da União para ampliar a ação de carros-pipa e perfuração de poços na zona rural. O governador Camilo Santana já apresentou ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Integração Nacional, Gilberto Occhi, o projeto embrionário de convivência com a seca. A gestão estadual opera hoje com 11 máquinas de perfurar poços.

O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, explica que existem três eixos centrais de atuação para minimizar efeitos da estiagem: ampliação de carro-pipa, perfuração de poços e instalação de adutoras de montagem rápida. Na última quinta-feira, Camilo Santana se reuniu com Teixeira e outros gestores para pontuar ações do plano para a seca, que pode ser divulgado no início desta semana.

“A mais urgente é a ampliação dos carros-pipa. O que se quer é que a União amplie a operação carro-pipa por meio do Exército Nacional ou repasse recursos para a Defesa Civil estadual”, declara, informando que existem cerca de mil carros-pipa operando atualmente.

Francisco Teixeira, ex-ministro da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff, ressalta que as 11 máquinas perfuratrizes do Estado estão trabalhando prioritariamente para atender à demanda da área urbana, que representa a maioria da população do Estado. Esses equipamentos são gerenciados pela Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra). Ele acrescenta que a intenção do Governo Estadual é contratar empresas privadas para perfurar poços na zona rural.

“A prioridade é que as máquinas da Sohidra estejam nas sedes municipais, porque 80% do Estado atende a áreas urbanas”, aponta Teixeira. “Essas máquinas demoram de seis meses a um ano para serem fabricadas. A iniciativa privada tem condições de atender rápido”, alega.

Água salobra

O gestor tem repetido que a perfuração de poços, embora essencial, não traz garantia de que o território tenha água. “De cada 100 poços feitos no Estado, 30%, mesmo com a tecnologia mais avançada do mundo, têm tendência a estarem secos. E 70% dos que conseguem encontrar água, ela tem tendência a ser salobra, mas serve para tomar banho, dar para o animal beber. E o restante deve passar pelo dessalinizador”, justifica.

O chefe de Monitoramento Hidrológico do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), André Mavignier, diz que o órgão tem feito açudes para acumular água, mas, diante da falta de chuvas, os equipamentos têm secado. É o que ocorreu no Açude Figueiredo, em Jaguaribe, e no Taquara, em Sobral. O Departamento ainda espera que a União libere a ordem de serviço para construção do Açude Fronteiras, em Crateús, uma das regiões mais críticas em relação à capacidade hídrica.

Conforme Mavignier, a bacia de Crateús está com 2% de capacidade total de armazenamento, enquanto a de São Luís do Curu opera com 3% de reserva hídrica. “A situação é crítica, não choveu nada”, emenda. Apenas a Capital e as cidades da Região Metropolitana de Fortaleza estão mais confortáveis devido ao Castanhão. “Ainda tem 24% de capacidade, tem água para dois anos. Sem contar que existe uma reserva em Jaguaribe, o Orós (Alto Jaguaribe) está na metade”.

Racionamento

O técnico do Dnocs opina que o Governo do Estado deve promover imediatamente uma campanha sobre uso consciente da água. No Interior, avalia, a situação já deve ser de racionamento, enquanto em Fortaleza a população deve ser orientada a economizar água. “O problema é que a gente não está acostumado com secas seguidas. Um reservatório é construído para suportar três anos de seca e estamos sendo encaminhados para um quarto ano. A situação já passou de crítica para super crítica”, alerta.

Atuando em situação de fragilidade institucional, o Dnocs espera a reestruturação prometida pelo Governo Federal. “Aguardamos a reestruturação que está no Ministério da Integração e esperamos que resolva, porque nossa carência de pessoal é grande. Mesmo com a falta de pessoal, a gente está trabalhando, fazendo o que é possível”, atesta.

Francisco Teixeira, secretário de Recursos Hídricos, diz que o Estado vai elaborar projetos para construir cinco barragens: duas no Rio Acaraú, duas no Coreaú e uma no Rio Poti, a última será executada pelo Dnocs, em Crateús, e espera ordem de serviço do Executivo Federal.
Francisco Teixeira acrescenta que foi definido que a Secretaria do Desenvolvimento Agrário, cujo titular é o ex-deputado Dedé Teixeira, vai continuar atuando na área rural com o programa Água para Todos, instalando cisternas. O Governo vai começar a executar o programa - também da União - Água Doce, construindo dessalinizadores em 222 comunidades de 40 municípios.

Questionado sobre a paralisação dos trabalhos das máquinas de perfurar poços em janeiro, Teixeira pondera que isso ocorreu por conta da troca de gestão. “Estamos numa transição de governo, embora seja governo de continuidade. O governador nomeou secretários de alguns órgãos, mas já na segunda semana de janeiro as máquinas estavam nos municípios”, relata.

O presidente da Comissão de Agropecuária da Assembleia Legislativa, Moisés Braz (PT), informa que vai reunir o colegiado no dia 25 de fevereiro para discutir medidas emergenciais para o semiárido, principalmente a falta de água generalizada e ausência de pasto para o gado.

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