PESQUISA DA UNIFOR
Rebanho deve gerar biomedicamento
28.01.2015
Com um novo clone de cabra transgênica, animais serão destinados ao combate de doença genética
O primeiro clone caprino transgênico da América Latina completou, ontem, 10 meses de vida. Gluca foi criada com o objetivo de produzir um tipo de proteína para combater uma enfermidade rara, mas onerosa. O sucesso da experiência, realizada por pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor), foi destaque em todo o País e no mundo. Agora, com a produção de um novo clone, terá início um rebanho destinado à produção de biomedicamentos.
Beta nasceu no último dia 12, produzida a partir de células da Gluca. Ou seja, ela é um clone de um clone. Ambas são geneticamente modificadas a fim de produzir um medicamento para o tratamento da doença de Gaucher, um problema genético que afeta mais de 700 pessoas no Brasil, mas representa um custo anual de R$ 140 milhões para o Ministério da Saúde, segundo os pesquisadores. Quem tem a patologia produz a glucocerebrosidade humana defeituosa, uma enzima que se torna incapaz de processar um tipo de lipídio no organismo. Os testes com o primeiro clone mostraram resultados além do esperado.
"Ela expressa muito bem a proteína. A gente estima entre quatro e oito gramas por litro", comemora a professora da Unifor e coordenadora do projeto, Luciana Relly Bertolini. A produção da enzima ocorre pela glândula mamária, sendo retirada e purificada do leite.
Segundo a professora, que também é doutora em genética e orientadora da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), "o grama da glucocerebrosidade, custa em torno de R$ 150 mil. É um dos medicamentos mais caros para o governo brasileiro". Ela explicou, ainda, que as pessoas que têm a doença de Gaucher precisam receber a medicação a cada 15 dias, para o resto da vida.
Graças aos bons resultados, os pesquisadores acreditam que um rebanho com apenas quatro cabras é suficiente para atender a toda necessidade do País, reduzindo drasticamente os custos com a medicação, atualmente importada. "O Brasil não produz nenhuma proteína recombinante para uso terapêutico nacionalmente e importa 100% de todos esses medicamentos biológicos", explicou Leonardo Martins, doutorando da Renorbio e participante do projeto. "É necessário um estímulo a trabalhos como este, que busquem uma solução nacional de medicamentos biológicos", completou.
O processo para o desenvolvimento dos biofármacos ainda deverá levar cerca de cinco anos. Contudo, as próximas etapas deverão ser mais rápidas. "Nós começamos a trabalhar em 2011 para produzir a Gluca, que nasceu em 2014. A Beta já nasceu dez meses depois. A reprodução de um rebanho depois que se tem o animal fundador é bem mais rápida", disse Luciana Bertolini. Com os dois clones, a reprodução das próximas cabras pode ser feita através de inseminação, "se a gente escolher que não quer uma cópia genética idêntica, mas um animal que tenha a mesma característica delas", acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário