quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

SEMINÁRIO

Violência passa por transformação

03.12.2014

A violência no Ceará ganha novas características a cada dia. Se antes era possível estabelecer padrões a respeito da maneira de agir dos criminosos, hoje, o fenômeno assume diferentes formas de manifestações. A constatação é do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), que em 2014 celebra 20 anos de existência. Para marcar o momento, o núcleo de estudos promove, até a sexta-feira (5), o IV Seminário Internacional Violência e Conflitos Sociais, abordando a temática "Territorialidades e Negociações".
Para o professor César Barreira, coordenador do LEV, o encontro é uma oportunidade para debater e entender melhor como vêm se dando as transformações na criminalidade urbana. Em relação à questão territorial, um dos temas do evento, Barreira explica que a sociedade perdeu a ideia dos "espaços protegidos", onde as pessoas se sentiam resguardadas da violência, como havia antigamente.
"A casa, a escola, a igreja, eram consideradas locais seguros. Mas, hoje, não se tem mais essa sensação, pois todos os locais são perigosos e existe um clima de intranquilidade muito grande", ressalta o professor.
Neste sentido, Barreira acredita que haja a "democratização da violência", que atinge pessoas de todas as idades, cores e classes sociais, existindo de maneira difusa. Entretanto, mesmo chegando a todos os setores da sociedade, a criminalidade ainda exerce um poder muito mais forte sobre um ente social específico: o jovem, principalmente o negro. "O jovem é muito mais vítima do que agressor. Precisa muito mais de proteção do que de agressão. Mas é fato que cada vez mais cedo se começa a praticar violência", pondera o coordenador. "Eles negociam a sobrevivência em troca da participação em atos criminosos", diz.
Gangues
Outra característica da territorialidade é a influência das gangues em alguns bairros da cidade. Grupos armados exercem o domínio sobre determinadas áreas e impõem à população um conjunto de leis próprias, definindo os espaços permitidos à circulação dos moradores.
Segundo Barreira, chefes de gangues controlam de tal modo as comunidades que chegam a estabelecer que tipo de serviço público pode ou não atuar na área, prejudicando a população no acesso, por exemplo, a postos de saúde. Além disso, paira um clima de guerra em certas localidades, motivado pela disputa de poder entre as facções.
Visando apresentar experiências e pontos de vista diferenciados, o seminário, aberto ao público, é espaço de palestras e debates com pesquisadores de renome na área, de universidades nacionais e estrangeiras.

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