quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PETROBRAS

Esquema se repete em outras áreas, diz delator

03.12.2014

Paulo Roberto Costa afirmou que há "dezenas" de políticos envolvidos no esquema de corrupção

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CPI fez acareação entre Costa (à esq.), ex-diretor de Abastecimento da empresa sob investigação, e Cerveró (à direita), ex-diretor da Área Internacional
FOTO: AG. SENADO
Brasília. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, apontado pelas autoridades como um dos cabeças do esquema de desvios na estatal, afirmou ontem que as mesmas irregularidades encontradas na petroleira se reproduzem em outros setores que recebem investimentos massivos do governo federal e disse que citou "algumas dezenas" de políticos na delação à Justiça.
"O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas! É só pesquisar!"
Costa deu a declaração numa sessão pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta por deputados e senadores para investigar a corrupção na estatal. Perante os congressistas, ele afirmou ainda ter citado "algumas dezenas" de políticos nos depoimentos que prestou à Justiça Federal, ao Ministério Público e à Polícia Federal no âmbito de seu acordo de cooperação. Ele não quis revelar os nomes.
Nas últimas semanas, os depoimentos de Costa e de outros envolvidos com irregularidades que já admitiram culpa e aceitaram colaborar com as autoridades - como o doleiro Alberto Youssef - ganharam repercussão porque permitiram a prisão de executivos de algumas das maiores empreiteiras do país. Além da Petrobras, estas empresas têm contratos em vários setores ligados à infraestrutura do País. Segundo os delatores, as empreiteiras aceitaram pagar propinas para obter contratos com a estatal do petróleo.
Nomes de pessoas, de empresas e valores não foram, contudo, apresentados por Paulo Roberto à CPI. Ele se limitou a dizer que já deu todos esses detalhes sobre o funcionamento do esquema em sua delação, em "80 depoimentos". "Nos meus 80 depoimentos que eu fiz, para a Polícia Federal e para o Ministério Público, 80 depoimentos - isso foram mais de duas semanas de delação -, o que está lá eu confirmo. Não tenho nada para não ter de prova, de não confirmar".
A defesa do ex-diretor da Petrobras alega que a segurança dele e o acordo com a Justiça podem ficar prejudicados caso ele quebre o sigilo das declarações que prestou.
As declarações do ex-diretor de Abastecimento foram potencializadas por uma desarticulação da base aliada durante a sessão da CPI, que também ouviu o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, a quem Costa acusa de também ter sido favorecido pelas irregularidades. Os principais líderes do PT no Congresso não estiveram presentes à reunião na maior parte do depoimento. Integrantes do aliado PMDB - outro partido que está na mira das acusações de Costa - tampouco acompanharam a sessão.
A defesa do governo Dilma Rousseff ficou por conta quase que exclusivamente do deputado Sibá Machado (PT-AC). O petista tentou impedir os oposicionistas de fazerem perguntas a Costa e Cerveró para além do propósito de acareação - que seria fazer um contradizer as acusações do outro e não revelar detalhes do esquema. O presidente em exercício da CPI, senador Gim Argello (PTB-DF), rejeitou as alegações de Sibá e disse que os parlamentares poderiam realizar os questionamentos que bem entendessem.
Tanto Costa quanto Cerveró, concordaram que o Conselho de Administração da Petrobras que aprovou a compra da refinaria de Pasadena (EUA) deve ser responsabilizado pelo negócio. Na época em que a refinaria foi adquirida, em 2006, o conselho era presidido pela então ministra da Casa Civil e hoje presidente da República Dilma Rousseff.

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