TRAJETÓRIA POLÍTICA
Nordeste aguarda o surgimento de novos líderes com influência nacional
30.11.2014
Arraes, ACM, Sarney e Virgílio Távora tiveram respaldo para além da Região. Hoje há espaço a ser ocupado
A história política dos estados do Nordeste sempre foi marcada pelo domínio de lideranças políticas com peso e influência também no restante do País, como Antônio Carlos Magalhães na Bahia, José Sarney no Maranhão, Miguel Arraes em Pernambuco, Virgílio Távora no Ceará, entre outros.
O cenário político recente aponta, no entanto, que os representantes da Região não têm mais o mesmo espaço na esfera nacional e, muitas vezes, enfrentam diversos obstáculos até mesmo para manter o fortalecimento que foi construído em cada base eleitoral.
Na eleição deste ano, no Maranhão, a maior referência política nacional do Estado, senador José Sarney (PMDB), não conseguiu emplacar a vitória da candidatura ao Governo de seu correligionário, Lobão Filho (PMDB), encerrando um ciclo de quase 50 anos de poder do grupo político. Em outubro, o ex-juiz federal Flávio Dino (PC do B) foi eleito com 63,52% dos votos contra 33,69%.
Já na Bahia, o ex-governador Paulo Souto (DEM), lançado à política por Antônio Carlos Magalhães, mais uma vez foi derrotado na disputa para o governo estadual. Ainda em 2006, ele perdeu para Jaques Wagner (PT), que foi eleito governador após um ciclo de quatro mandatos consecutivos do grupo ligado a ACM. Quatro anos depois, o petista foi reeleito após nova vitória sobre o democrata.
O retrato político do Nordeste que tem sido desenhado atualmente, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, é que a característica mais institucional assumida pelo Estado tem dificultado a influência individual de líderes políticos, além da fragilidade partidária que também é apontada com obstáculo à formação de grandes lideranças.
Peso Nacional
Na visão de cientistas políticos, o aparecimento de novos expoentes que têm imposto derrotas a figuras tradicionais no Nordeste também ainda está longe de representar um forte peso político no âmbito nacional como em décadas passadas.
O cientista político Jorge Almeida, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), alertou que a influência dos maiores expoentes políticos do Nordeste acaba se restringindo aos limites de cada Estado. "Agora se fala muito que o governador Jaques Wagner (PT) vai ter um peso maior no Governo Federal, mas se for é muito mais por vontade de Lula do que pela liderança que construiu nacionalmente", pontuou.
Jorge Almeida citou também o exemplo do cenário no Ceará ao destacar que, apesar da liderança exercida pelos irmãos Ferreira Gomes ainda terem um peso importante no processo político e eleitoral nos limites do Estado, a influência do grupo nacionalmente ainda é muito reduzida. "Tentaram ocupar um espaço maior em 2002 quando Ciro Gomes se candidatou a presidente, mas depois se recolheu a uma posição mais estadual", lembrou Almeida.
O docente também frisou que, mesmo em cada Estado, foi necessário recorrer a imagens de outras lideranças fora do Nordeste para a assegurar a manutenção do poder. Assim como o governador eleito Camilo Santana (PT) fez durante a campanha no Ceará, Jorge Almeida afirmou que o governador Jaques Wagner conseguiu mais uma vez derrotar o grupo político ligado a Antônio Carlos Magalhães (que foi do PFL) por ter, principalmente, recorrido às imagens do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff para atrair o voto da maioria dos eleitores baianos que garantiram a eleição de seu sucessor, Rui Costa.
"Na eleição de Rui Costa, durante toda a campanha, a influência personalista continuou sendo a de Lula e Dilma e não a de Jaques Wagner. Então, não acho que ele conseguiu formar uma liderança personalista forte", avaliou.
Na visão de Jorge Almeida, o caso revelou que o governador Jaques Wagner, por si só, não conseguiu construir a influência tradicional de uma liderança nordestina como a registrada frequentemente na história política do Nordeste.
Para Jorge Almeida, o processo de extinção de lideranças políticas com maior peso no âmbito nacional se deve, principalmente, ao formato mais institucional do processo político e ao aumento da influência do setor empresarial. "É um processo mais institucionalizado da política onde o Estado passa a ter o peso maior, as empresas passam a ter influência maior, setores da sociedade civil também têm um peso maior", esclareceu o cientista político.
O professor acredita que esse cenário ampliou a complexidade do Estado e reduziu a influência individual de grandes líderes. "Mesmo algumas lideranças individuais são sobrepostas à estrutura institucional", opinou o cientista político.
Jorge Almeida explicou sua tese ao ressaltar que, atualmente, os representantes políticos acabam por priorizar a reprodução de interesses como os anseios de grandes empresas, reduzindo os espaços de atuação para qualquer um que tenha maior capacidade de exercer uma forte liderança individual. "O desenvolvimento do capitalismo acaba se sobrepondo, independente do grupo político que governe" analisou o professor da Universidade Federal da Bahia.
O professor Ernani Carvalho, coordenador do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), corroborou com a tese de que o Nordeste tem protagonizado um processo de extinção de lideranças com quilate nacional e disse acreditar que a região ainda precisará passar por um par de décadas para construir expoentes com peso significativo também no âmbito nacional.
Sistema partidário
Ernani Carvalho apontou como uma das razões a própria fraqueza do sistema partidário brasileiro, que dificulta a formação de lideranças no sentido estrito do termo na medida que expoentes políticos são lançados ao processo muito mais de acordo com os interesses circunstanciais do que em base na história política e partidária construída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário