SITUAÇÃO RECORRENTE
Diante do abandono, idosos buscam em abrigos o último amparo na vida
29.09.2014
Com a grande demanda nos abrigos, a meta dos órgãos públicos é manter os laços dos idosos com as famílias
A vida é feita de criar laços. É no decurso do tempo que as relações entre as pessoas nascem e se firmam. Mas, como dizem as canções, não dá para controlar a longevidade dos sentimentos. No decurso do tempo, há vínculos que desfalecem, ou mesmo aqueles que nunca são formados. E é pela fragilidade desses laços que hoje, nas últimas fases da vida, muitos idosos precisam aprender a ressignificar a própria solidão da maneira que ainda podem.
Não existem dados oficiais a respeito do abandono familiar de idosos. Entretanto a violação dos direitos das pessoas mais velhas resultaram, desde o início desse ano, em 432 denúncias acompanhadas pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), unidades públicas responsáveis pelo acompanhamento de indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos. Os casos são acompanhados também pelo Ministério Público.
De acordo com Ieda Castro, assessora especial da Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra), os seis Creas que existem hoje em Fortaleza possuem um serviço de acompanhamento de idosos vítimas de violência. Em alguns casos, é necessário o acompanhamento do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, que realiza visitas às famílias para verificar se ainda existe um vínculo que assegure a integridade e o bem-estar do idoso ou se é necessário recorrer ao recolhimento, ou seja, instalar o idoso em um abrigo.
"Hoje estamos em uma situação crítica em relação ao acolhimento institucional. Temos uma demanda grande de casos partindo do Ministério Público, pois hoje há três abrigos em situação irregular e nós precisamos dar um encaminhamento às pessoas que lá residem. Nesse caso, nós procuramos identificar se o idoso ainda têm uma família, mesmo que extensiva, ou seja, de parentes mais distantes, com as quais nós possamos tentar reconstruir um vínculo", explica.
A Prefeitura de Fortaleza mantém, atualmente, convênio com duas unidades de acolhimento institucional. São 250 vagas, todas preenchidas, no Lar Torres de Melo e na Associação Catarina Labouré. "Há uma demanda forte para institucionalizar os idosos, mas precisamos inverter essa lógica, pois, uma vez que o idoso entra num abrigo, é difícil ele voltar para casa. Hoje trabalhamos para fortalecer os Creas e manter o vínculo dos anciãos com as famílias. A família precisa ser apoiada para manter esses idosos. O Governo Federal realizará, em breve um reordenamento da política de idosos. A partir daí vamos levantar a real demanda dos que não possuem autonomia para reorganizar o nosso serviço", diz Ieda Castro.
O Ceará hoje possui nove Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpi). Apenas uma delas é gerida pelo poder público, a Unidade de Abrigo de Idosos. Além dela, o Lar Torres de Melo é a outra instituição de grande porte. Todas as outras unidades possuem capacidade para entre 10 e 40 idosos, de acordo com Hugo Porto, secretário executivo do Núcleo de Defesa da Pessoa Idosa e com Deficiência do Ministério Público Estadual (MPCE).
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