FATO INÉDITO
Canonização de dois papas já atrai vários peregrinos
26.04.2014
A Prefeitura de Roma estima em 11 milhões de euros os gastos com a canonização. O Vaticano entrará com 500 mil
Cidade do Vaticano. Os peregrinos estrangeiros começaram a movimentar a Praça de São Pedro e os arredores do Vaticano nesta véspera da canonização, domingo, dos papas João XXIII e João Paulo II. O tráfego já está proibido a veículos nas ruas laterais e diagonais, onde só podem entrar pedestres. Às 19 de hoje, sábado, as restrições serão maiores, com bloqueios nos principais acessos.
Bares serão proibidos de abrir as portas na área e o comércio deixará de funcionar, por iniciativa própria, por causa das dificuldades de abastecimento para servir a uma demanda muito grande. Calcula-se que perto de cinco milhões de peregrinos - mais que a população de Roma - assistirão à cerimônia de canonização, às 10 horas de domingo. Os fiéis poderão entrar na Praça de São Pedro a partir das 6 horas.
A polícia está fazendo blitz nos pequenos hotéis para verificar suas condições de conforto, segurança e higiene. Milhares de peregrinos ficarão hospedados em conventos e casas de movimentos religiosos, pagando uma diária de 30 a 40 euros, com direito a café da manhã.
A Prefeitura de Roma estima em 11 milhões de euros os gastos com a canonização. O Estado do Vaticano entrará com "só" 500 mil euros para pagar as despesas. Os católicos vindos de outros países e do interior da Itália chegam de trem e em ônibus de turismo, enfrentando dois a três dias de viagem.
Hospedam-se em geral nos arredores da cidade. O alojamento é mais barato, mas, em compensação, há dificuldades de acesso ao Vaticano.
Longo caminho
O candidato a santo da Igreja Católica deve percorrer um longo caminho para chegar à glória dos altares: primeiro deve ser servo de Deus, depois beato e finalmente santo.
Anteriormente os santos eram proclamados por "vox populi", ou seja, por aclamação popular. Mas, em seguida, para evitar abusos, a Igreja estabeleceu essas três fases e os bispos assumiram a responsabilidade de iniciar o processo com uma investigação sobre a vida dos candidatos. A proposta de iniciar uma causa de beatificação, como é chamado o primeiro passo, geralmente ocorre após ao menos cinco anos da morte do candidato.
Testemunho de fé
A costarriquenha "milagrosamente" curada pelo papa João Paulo II disse em Roma que seu dever é difundir o "testemunho de fé e esperança", dias antes da esperada canonização do pontífice polonês.
"Se me convidarem, como fizeram no México, na Argentina e no Panamá, vou continuar a viajar, ir a qualquer lugar, esquecendo o meu cansaço, para levar esta mensagem de esperança e de fé ao mundo inteiro, declarou Floribeth Mora, de 50 anos.
Ela chegou na quinta-feira à capital italiana acompanhada de seu marido Edwin Solano e de dois de seus quatro filhos, Edwin e Keiner. Floribeth Mora foi curada de um aneurisma cerebral em 2011.
Karol Wojtyla
A popularidade do papa argentino Francisco não ofuscou em nada a fama de seu carismático antecessor polonês João Paulo II. Durante seu pontificado de 27 anos (1978-2005), esse ex-ator poliglota viajou para mais de 100 países para se reunir com pessoas comuns e lhes transmitir a mensagem cristã.
Seu comportamento contrastava com os hábitos de muitos papas anteriores, mais distantes dos fiéis. João Paulo II "rompia as regras do protocolo. Seus seguranças costumavam se ver em apuros. Muitas vezes afastava-se do trajeto programado e ia para as pessoas", lembra o sociólogo Pawel Boryszewski. Tanto na Polônia quanto em outros países católicos, seus admiradores celebram sua canonização de diversas formas.
Um atleta do norte da Polônia caminhará 2.000 km para assistir à canonização no Vaticano, onde são esperados cerca de cinco milhões de fiéis. Um alemão comprou e reformou o carro que havia sido do ainda cardeal Karol Wojtyla, entre 1958 e 1977, e fará a peregrinação no veículo.
Nas Filipinas, país asiático de maioria católica, centenas de fiéis já visitaram uma exposição das relíquias de João Paulo II.
Na Irlanda, vários objetos com o rosto do papa estão vendendo como água nas lojas do Santuário de Knock, visitado pelo pontífice em 1979.
Angelo Roncalli
João XXIII (1881-1963), o chamado "papa bom", que será canonizado no próximo domingo, 27 de abril, é considerado o pai da renovação da Igreja Católica com o lançamento do Concílio Vaticano II, em 1962.
Conhecido por sua simplicidade e afabilidade, o pontífice esteve à frente da Igreja por apenas cinco anos, de 1958 a 1963. Foi beatificado em 3 de setembro de 2000 por João Paulo II. Agora, ambos serão canonizados pelo papa argentino Francisco.
Ele ganhou fama como progressista por ter promovido o diálogo com outras religiões e com os que não professam religião, assim como por ter destacado as raízes judaicas do Cristianismo, tentando fechar antigas feridas.
Angelo Giuseppe Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1881, em Sotto il Monte (norte da Itália), em uma modesta família camponesa da Lombardia. Estudou no Seminário Pontifício Romano e foi ordenado padre em 1904 e bispo em 1925. Seguiu a carreira diplomática e foi enviado para Bulgária, Turquia e, finalmente, França, pouco depois da Segunda Guerra Mundial. Salvou milhares de judeus dos campos de concentração.
Durante o conflito mundial, ele ajudou a salvar milhares de judeus da perseguição nazista na Hungria.
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